segunda-feira, 3 de março de 2014

A ANGÚSTIA DO HOMEM E DA MULHER NOS DIAS DE HOJE



          Bloqueados pela soma das invenções técnicas e, pode-se dizer, por suas próprias criações, homem e mulher de hoje, apesar das brechas que lhes consintam entrever perspectivas promissoras de realização grandiosa, se encontram emaranhados em problemática aguda, cuja solução se coloca em termos de sobrevivência ou não-sobrevivência.
          Homem e mulher de hoje, tragicamente em crise, apelam por uma "saída honrosa", que não lhes manche a dignidade de Seres livres e responsáveis.
          Forças inusitadas lhes pressionam a exigência de soluções rápidas, supercerebralizadas, para desarticular esquemas montados por eles próprios.
          E essa situação se refaz tanto mais angustiante,quanto mais precisa se torna a realidade de terem homem e mulher sido acusados pela queima de todos os sistemas de segurança do passado.
          É por essa razão que um e outro me parecem despojados de confiança, porque saborearam os frutos da "árvore da ciência do bem e do mal", de que nos fala a Bíblia Sagrada.
          No Antigo Testamento, Israel se agarrara ao rochedo de salvação, - Javé -  enquanto os cristãos da Nova Aliança puseram sua esperança na Cruz.
          E ao homem e à mulher deste nosso século tumultuoso, o que lhes resta?
          Que Fé, que Esperança de salvação?
          Em que máquinas ou supercomputadores há de dissolver a angústia que lhes frustra a existência diante de mil e um problemas que os dilaceram na vivência do seu dia-a-dia?
          Fundamentalmente, no meu entender, é a sensação vivida de um "perigo" em que homem e mulher estariam ameaçados de sucumbir.
          E a salvação somente seria possível se ambos realmente se agarrassem ao "rochedo da salvação" que é só Deus, e que lhes poderá dar a felicidade  dentro do Reino Messiânico, onde reinará a Justiça e a Caridade.
          Neste clima, todo o povo é chamado a sair em permanente êxodo do reino de trevas e morte para a Terra Prometida de luz e vida eterna, na "nova criação" sonhada pelo profeta Isaías.
          Em linguagem mais direta, é isto:
          Homem e mulher se acham numa situação concreta que eles próprios receiam; vivem sob o signo da ameaça, do perigo, diante de obstáculos que lhes advêm de todos os quadrantes deste mundo.
          E então se lhes propõe o problema fundamental, anterior a todos os outros, segundo o qual é saber se ainda é possível ser "humano" pura e simplesmente, se ainda se poderá viver uma vida realmente humana.
          Se é verdade que no mundo dois terços de homens e mulheres não dispõem do mínimo necessário para viver, para levar uma vida simplesmente humana; se essas criaturas não estão na pobreza mas na miséria, na angústia permanente do pão de amanhã, da possibilidade de não ter um emprego no dia seguinte, -  então a vida humana está descendo de fato a um nível infra-humano.
          A obsessão daqueles que  "vivem"  hoje é a de "sobreviver".
          Existe por aí uma literatura e uma pregação de salvação nas várias igrejas que têm seu ponto de partida na tomada de consciência desse estado de coisas.
          Essa literatura e essa pregação de uma pretensa salvação está marcada pela angústia de não se poder levar decente e cristãmente  uma vida humana.
         Dentro dessa literatura e dessa pregação, o que pode significar ainda para esse homem e essa mulher do nosso século, por exemplo, o compromisso de fidelidade mútua?
         No meu entender, nada, absolutamente, já que eles se acham numa situação que não lhes permite compreender em profundidade tal matéria de tanta relevância para si mesmos.
         Isto não signfica, porém, que se possa tirar a conclusão: primeiro mudar a situação temporal, para em seguida anunciar o Evangelho.
        Estou agora apenas levantando o problema, e não sei se tenho ou se terei condições de apontar-lhe uma solução.
        Neste caso concreto, os sociólogos muito teriam a dizer a respeito, para não falar dos médicos, dos advogados e de outros especialistas no ramo.
        E também a responsabilidade pela procura de solução é nossa, porque cada um de nós é parceiro do problema e, na voz do monge cisterciense norte-americano, Thomaz Merton, "homem algum é uma ilha"  -    embora morramos sozinhos, é juntos que vivemos!...

                                                             **************

Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério, e bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo, Capital.
































        















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