quarta-feira, 5 de março de 2014
A VOZ DOS SINOS
Quarta-feira de cinzas... Chuva miúda e fria, como é tradição nesta nossa Curitiba dos pinheirais... Estou sozinho em casa, meus familiares no litoral, fruindo necessárias férias..
A voz dos sinos, que acabo de ouvir, é um convite para que eu adentre o período litúrgico da Quaresma, com novo espírito: espírito de contrição pelas falhas cometidas e propósito de vida mais positiva e mais centrada em Deus - em Jesus Cristo, cuja paixão e morte o povo cristão começa a celebrar no dia de hoje... Mas é preciso lembrar: se Ele sofreu, foi crucificado e morreu... no entanto, para esperança nossa em sua vitória, Ele RESSUSCITOU! - penhor também de nossa Ressurreição.
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Este proêmio, um tanto quanto pomposo, me fez dar à luz este poemeto, que talvez não agrade nem a gregos e muito menos aos troianos da vida. Em todo caso arrisco-me a divulgá-lo:
Gostaria de subir
à torre da Matriz
para estudar bem de perto
os sinos de bronze
e descobrir
o que dá a cada um
este som inconfundível
e o que dá ao conjunto
a impressão de harmonia
difícil de esquecer.
A escada é íngreme
e interminável...
mas terei que subir
- sou sineiro das almas
e de cada uma
quando não de todas
gostaria de arrancar
deles e de meu coração vazio
os sons mais agradáveis
ao meu Senhor e meu Deus
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Sinos! Sinos de minha infância quando, pendurado perigosamente nas cordas, eu fazia o vilarejo vibrar com os seus acordes festivos, convocando o Povo de Deus para a prece e o louvor!...
Sinos! É pena, mas vai ficando cada vez mas raro, na minha Curitiba e nas grandes cidades, ouvir sino bater!
Lembro-me de minha infância em Caldas, Minas Gerais: o sino da igrejinha do vilarejo tocava o "Ângelus" às seis horas da manhã, ao meio-dia e à tarde, principalmente, convidando para as Ave-Maria, para saudar Nossa Senhora e agradecer o mistério da Encarnação do Verbo Divino.
O sino tocava, durante a Missa solene, na elevação da Hóstia e na elevação do Cálice.
Houve tempo na pequena cidade em que o sino tocava até para alertar o povo sobre um incêndio numa casa qualquer... ou para sepultar um irmão que acabava de falecer...
Sinos! Cada sino tem mesmo um som inconfundível, só dele, e o melhor é a harmonia do conjunto, que sempre me pareceu um mistério.
Sineiro das almas! Feliz de quem sabe obter de cada criatura de Deus o melhor som de que ela é capaz.
Cada um de nós tem suas harmonias secretas. Às vezes, vejo pessoas que me dão a impressão de não terem nenhum som harmonioso a desprender. Há pessoas que, ao se saberem comparadas a sinos, seriam as primeiras a responder:
- "Só se for sino rachado, porque nem sombra de harmonia existe em mim!..."
Pessoas assim sempre me fizeram meditar: por que será que seus sinos interiores foram emudecidos, pararam tão de repente de tocar?
Você, que tem a bondade de me ler, escute bem o que vou lhe dizer:
- Todos nós temos nossos sinos interiores...
- Em horas de alegria, eles repicam felizes e festivos. Pelo contrário, em horas de sofrimento e de dor, eles dobram tristes, convocando-nos para participarmos do sofrimento do nosso irmão.]
E Você, meu benévolo leitor, é mesmo verdade que Você há muito tempo deixou de escutar seus sinos interiores? Eles desaprenderam repiques festivos nos dias de alegria? Ou, mais triste ainda, eles deixaram de tocar?...
Escute o conselho de um irmão mais velho e muito sofrido:
- Não deixe que emudeçam seus sinos da alma! Descubra pessoas amigas cujos sinos interiores se somem, se completem, se harmonizem com os seus, cantando louvores ao nosso Senhor e Pai!...
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