Eis aqui, expressa pela pena de uma menina de 15 anos, uma questão que também afeta a todos nós, peregrinos deste mundo que Deus entregou às nossas mãos:
- "Amsterdam, sexta-feira, 26 de maio de 1944. Mais de uma vez tenho-me perguntado se não teria sido preferível para todos nós não nos escondermos e estarmos mortos a esta hora, do que passar toda esta miséria, sobretudo por causa dos nossos protetores, que pelo menos não estariam em perigo. Mesmo que esta idéia nos faça recuar, amamos ainda a vida, não esquecemos a voz da natureza, esperamos, apesar de e contra tudo.
Terça feira, 6 de junho de 1944. A mais bela coisa do desembarque dos americanos é a idéia de me tornar a reunir a meus amigos. Tendo sentido a faca na garganta e oprimidos há tanto tempo por esses horríveis nazistas, não podemos impedir-nos de estar impregnados de confiança, pensando na salvação de nossos amigos.
... Margot diz que talvez eu possa enfim ir à escola em setembro ou outubro.
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Anne Frank era judia e teve de se esconder com sua família, durante meses, nos fundos da loja de uma pequena casa holandesa. Foi num livro consagrado a Israel que encontrei o texto acabado de citar. Em frente, em página inteira, a fotografia de uma menina levando na mão estendida um pinheirinho, um dos seis milhões que a juventude vai plantar nos arredores de Jerusalém, floresta de mártires, floresta dos "seis milhões" de judeus mortos pelos nazistas e que o deserto vai reviver.
Essa menina parece pensar em Anne Frank, da qual um texto me diz que não foi à escola, porque "morreu deportada no campo de concentração nazista de Bergen-Belsen". A cabeça da menina está ligeiramente voltada para quem olha (à sua direita vê-se o braço de um rapaz levando também uma muda de pinheiro); tem o corpo envolvido em roupas pesadas, por cima da calça masculina; apenas um leve lenço lhe feminiza o perfil; as feições são pueris e sérias, porque os jovens dessa geração cresceram depressa. A cabeleira é basta, penteada "à la diable", negra e dura; lábios pequenos e carnudos. Os olhos é que nunca se esquecem: muito abertos, calmos e sombrios, olham.
Aí está a esperança que nasce, inscrita num gesto, e cantada pelo profeta Ezequiel quando disse:
- "Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que eles dizem: Os nossos ossos secaram, e pereceu a nossa esperança... Assim diz o Senhor: - Eis que eu abrirei as vossas sepulturas, e vos farei sair das vossas sepulturas, ó meu povo, e vos trarei à terra de Israel".
Que "terra de Israel" Anne Frank encontrou neste mundo? Eis a pergunta que nos faz esta jovem judia, porque o povo de Israel, no seu tempo, foi a imagem mais nua, mais vulnerável da condição de homens e de mulheres. É a pergunta que nos fazem os milhões que morreram, cativos e aflitos, em seus corpos ou em suas almas, nas nossas intermináveis guerras:
- "Que fizestes das esperanças dos homens? Que fizestes do Senhor Jesus, esperança do mundo?
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