Está na Carta de Paulo aos romanos, no capítulo VIII, versículos 18 a 24:
- "Nós sabemos que toda a criação geme e está juntamente em trabalhos de parto até agora. E não só ela: nós mesmos que possuímos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, à espera da redenção do nosso corpo. Porque em esperança somos salvos."
Esta passagem da "carne" para o "espírito", isto é, da fragilidade da criatura entregue a si mesma, para o poder divino, provoca as dores do parto, porque toda transformação é dolorosa. Porém, não há nascimento sem mudança de estado de vida. A morte é "dies natalis", dia de nascimento, diz a liturgia católica.
A morte do mundo é também um nascimento. Por outras palavras, não são as esperanças humanas como tais que serão destruídas no fim dos tempos, mas apenas a forma frágil que revestem presentemente; então a ganga de argila rebentará, cairá a casca, para que melhor apareça o miolo secreto que era, desde agora, neste mundo, Justiça e Caridade.
Para além do nascimento do fim dos tempos, homens e mulheres poderão "passar o seu Céu a fazer o bem na Terra". Com Cristo, participando do Seu poder de ressuscitado, os que morreram nEle poderão como Ele multiplicar-se entre os vivos. Assim como se diz de uma mãe que o amor duplica a sua presença entre os filhos, eles se multiplicarão entre os que trabalham ainda que na fragilidade.
Este nascimento do mundo para a verdadeira vida é também abertura ao amor, porque o "fim dos tempos", em sua plenitude, é mistério de esponsais.
A história destas núpcias entre Deus e a humanidade começou há muito tempo, na miséria e na fraqueza, e na força de Deus, como lemos no capítulo XVI, do livro de Ezequiel:
-"Por ocasião do teu nascimento, no dia em que vieste ao mundo, não te foi cortado o umbigo nem te lavaram com água, para te limpar, nem te esfregaram com sal, nem te envolveram em faixas.Ninguém se compadeceu de ti para te prestar algum desses serviços, por compaixão para contigo... Então eu passei junto de ti e te vi... E me comprometi por juramento e fiz um pacto contigo, oráculo do Senhor Javé, e tu ficaste sendo minha."
Esta criança recém-nascida, abandonada à beira da estrada, banhada em seu sangue, evoca as milhares de meninas que morrem nos caminhos do mundo antes mesmo de terem verdadeiramente "nascido". E eis que um misterioso transeunte se debruça sobre a menina, a lava, a agasalha, a educa, a prepara para crescer e se tornar a noiva virginal que, no tempo dos amores, será aquela que ele ama. Este transeunte é Deus mesmo, que disse à humanidade, em Israel, "que ela é dEle", e estas núpcias são indissolúveis.
Nós não sabemos que tesouros se manifestarão no "corpo deste mundo" que os nossos esforços e trabalhos, juntamente com os de Jesus presente pelo poder do Seu Espírito, terão preparado para os esponsais. Mas tudo o que tivermos feito no tempo de nossa peregrinação na Terra, será selado na eternidade. Nada do que tenhamos verdadeiramente amado na Justiça, na Paz e na Caridade, será perdido, porque, nas palavras bíblicas, é vestida com trajes de beleza, cercada de suas companheiras, que a humanidade-esposa, que a esposa-Igreja "é levada para dentro", para o palácio do Rei:
No dia dos esponsais, a noiva deixa o seu país, passa de seu povo e da casa de seus pais, para "outra casa". Esta passagem, esta Páscoa, a humanidade inteira a realizará definitivamente, quando, vestida de brocados e cercada de suas companheiras, a plenitude deste mundo será visitada pela plenitude de Deus, conforme a promessa do livro do Apocalipse:
- "E vi um novo Céu, uma nova Terra... E vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que de Deus descia do Céu, que se fizera bela como uma esposa bem vestida para seu esposo."
Entrar na plenitude das núpcias não é ver morrer a esperança, porque a consumação do amor é também ressurgimento e ressurreição. Porque a Igreja, neste mundo, esposa de Cristo, é fecunda, é "Nossa Mãe"; engendra seus filhos para a eternidade, e com eles participará do mesmo ressurgimento e da mesma ressurreição de Cristo porque, no fim dos tempos, os esponsais serão também peregrinação e apaziguamento no Reino dos Céus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário