O teólogo alemão Hans Küng, em pequena brochura intitulada " 20 Teses sobre o ser cristão", afirma que Jesus se arvorou em procurador de Deus e dos homens.
Exigiu, para isso, uma decisão definitiva: não para um determinado título, dogma ou lei, mas para sua alvissareira mensagem. Diante disso, coloco também minha pergunta quanto à sua pessoa: herege, falso profeta, blasfemador, sedutor do povo - ou o quê?!
Pretensão medonha para quem era de origem humilde, sem apoio de Sua família, sem formação especial. Sem dinheiro, cargo e dignidade, sem qualquer domínio, sem partido que O protegesse e sem tradição que O legitimasse - um homem sem poder algum pretende tal "procuração"? Com quem, afinal, contava Ele?
Ele que, por causa de Sua doutrina e de todo Seu procedimento, atraía sobre Si agressões mortais, encontrou também confiança e amor espontâneos.
Em resumo, acrescento eu: nEle se dividiam os espíritos.
Jesus exigia uma decisão definitiva pela causa de Deus e do homem e mulher. Nesta "causa" fica absorvido totalmente, sem nada exigir para Sua pessoa, sem fazer de Seu "papel" ou dignidade o tema de Sua mensagem.
Devido à inatacável coerência entre Sua teoria e prática, Jesus constituía um desafio inaudito para todo o aparato religioso-social (a lei farisaica) e seus representantes (hierarquia).
- "Com que poder faz Ele estas coisas?" - perguntam amigos e inimigos. Eis alguém que, em vez do exato cumprimento da lei, prega uma admirável liberdade para Deus e para homem e mulher. Não se faz Ele maior do que Moisés (Lei), maior que Salomão (templo), maior que Jonas (profeta)? E não é isto motivo para escândalo? E acrescento mais alguns questionamentos:
- Um doutor da Lei que contraria Moisés não é um herege?
- Um profeta que já não segue Moisés, não é ele um "pseudoprofeta"?
- Alguém que se eleva acima de Moisés e dos profetas, que Se arroga mesmo a função de juiz supremo com relação aos pecados e assim interfere naquilo que é de Deus e somente de Deus, não é ele um "blasfemador"?
- Não é Ele, em vez de inocente vítima de um povo cabeçudo e obstinado, muito mais um visionário e herege, e como tal, um demagogo altamente desordeiro, amotinador do povo, a ameaçar realmente a posição da hierarquia farisaica?
E atrevo-me a fazer uma pergunta ainda mais perigosa: Não estaria Ele pregando, no fundo, um outro Deus que não Javé?!
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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Dogmática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.
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