sábado, 21 de abril de 2012
crime na catedral
a linda chamazinha nua e delicada
tão prosaicamente nua num copo vermelho de azeite
quase minúsculo vagalume dentro da noite
ilumina debilmente
as paredes coloridas
da imensa catedral talhada em pedra
ao redor
trevas amedrontadoras
mas
a chamazinha nua e delicada não tem medo
seu corpo branco e palpitante
desenha na parede
uma luminosa promessa de luz
uma noite
- sempre a noite -
esse moleque travesso e indiscreto
o vento
de mansinho pé ante pé
entrou
pelo buraco da fechadura
surpreendeu a chamazinha toda despida
e ela
tremendo de vergonha
pudor ofendido
corou corou intensamente
e se afogou
na vermelha piscina de azeite
e foi assim
noite após noite
nunca mais esse moleque perverso
o vento
quis deixá-la em paz
sempre que a pequenina chama
nua e delicada
ensaia o seu bailado
desenhando na parede fria da catedral
sua luminosa promessa de luz
lá das sombras traiçoeiras
vem o indiscreto garoto
- "oh, que vento mal-educado!" -
surpreendê-la
e então
trevas medonhas e assustadoras
crescem na imensa catedral talhada em pedra
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