Nas primeiras páginas da Bíblia aprendemos que no princípio Deus criou o céu e a terra, as plantas e os animais do nada, e por último criou o homem, Adão, do barro da terra, e criou a mulher Eva, de uma costela de Adão. Este texto, redigido há mais de dois mil anos atrás, é o texto sagrado comum para judeus e cristãos. E mais: se somarmos a idade das gerações patriarcais, chegaremos a uma idade máxima de seis a nove mil anos para a humanidade.
No século XVI surgiram as ciências experimentais, cujo desenvolvimento provocou verdadeira crise, quando no século XIX Darwin e sua escola afirmaram que toda a realidade é o resultado de um processo de evolução. Entretanto a ciência, particularmente a geologia e a paleontologia, amontoa cada dia novas descobertas de esqueletos, ossos e fósseis para documentar a evolução em todas as esferas dos seres vivos. Inclusive, a ciência hoje em dia já consegue datar, com relativa precisão, a idade de homem e de mulher entre quinhentos mil a dois milhões de anos.
Em consequência, o cristão, cioso da leitura bíblica, entra fatalmente num dilema: quem tem razão, Moisés ou Darwin? Homem e mulher descendem do macaco, ou foram formados do barro da terra?
É verdade, também, que o "slogan" de que homem e mulher descendem do macaco, afirmação esta que originariamente visava degradar o homem e a mulher, já foi superado pela própria ciência. Se é verdade que hoje, a maioria dos cientistas, cristãos ou não-cristãos, admite a hipótese do evolucionismo, é igualmente verdade que ninguém ainda ousa simplificá-lo de tal maneira tão radical. Não obstante, compreendemos a grande reserva de muitos cristãos, no concernente ao problema do evolucionismo. Com efeito, o problema da origem do homem e da mulher é um problema existencial para cada um de nós, porque está intimamente ligado ao problema do nosso destino.
A atitude de reserva ou de receio de muitos cristãos, frente à teoria do evolucionismo, certamente é mais devida ao fato de Karl Marx e Engels, ateus, não só se terem feito advogados do proletariado, mas também da ciência. Ambos tomaram, de imediato, a teoria evolucionista de Darwin, como base da dialética histórica. E é claro que isto aumentou os preconceitos dos cristãos conservadores, agravando, inclusive, a polêmica entre teólogos e cientistas.
A teoria evolucionista, que serviu de base ao marxismo, comunista, ainda é bastante primitiva do ponto de vista científico, por ser uma teoria basicamente mecanicista. E é esta a teoria do evolucionismo, que os jovens educados no socialismo ainda hoje aprendem. Nos museus, nos capítulos introdutórios de muitos livros escolares, e nos quadro-negros dos países socialistas, a teoria da evolução pode ser vista em cores vivas. O primeiro da lista é o gorila barbudo. depois seguem em ordem crescente o homem de Neandertal, o "homo sapiens" como caçador e agricultor. Finalmente aparece o homem social, o homem branco de cabelos louros. Na verdade, esta é uma maneira muito primitiva de representar a evolução.
Concedemso, hoje, que as idéias do evolucionismo, em si, não são mais monopólio da ideologia marxista ou comunista. Na verdade, entre os próprios cristãos sempre houve ferrenhos defensores do evolucionismo. Lembro aqui a figura discutida do jesuíta francês Pierre Teilhard de Chardin, que encontrou entusiasmados seguidores no mundo intelectual europeu. E se de fato a evolução for uma verdade incoteste, segundo a ciência, como então podemos interpretar os textos bíblicos?
É difícil encontrar outras páginas da literatura universal que tenham exercido tamanha influência sobre o espírito humano, como os capítulos iniciais da Bíblia, principamente entre os assim ditos fundamentalistas. Não obstante, poucos capítulos também são mais discutidos do que estes. O que o autor bíblico quis dizer a respeito do problema que hoje nos atinge?
Os teólogos modernos são unânimes em dizer que a Bíblia não é um manual de ciências naturais ou de história. A Bíblia é o livro de nossa história salvífica, sendo obra comum de Deus, pela inspiração, e do homem e da mulher, pela revelação escrita. E os autores humanos usaram o gênero literário próprio dos orientais antigos e de sua vivência, estática e geocêntrica, para poderem ser compreendidos por seus contemporâneos. E como poderiam ter feito de outra maneira?
A Bíblia apenas quer transmitir-nos a mensagem salvífica da redenção, isto é, não pretende ensinar-nos o modo, mas o por quê de Deus ter criado o homem e a mulher. Assim, o campo próprio da ciência está limitado entre o começo e o fim absoluto, isto é, entre a criação e o seu término. A própria teoria da evolução supõe logicamente a criação.
Quando o escritor bíblico diz que homem e mulher foram criados do barro da terra, não pretende argumentar nem pró nem contra uma possível evolução. Apenas quer significar que o próprio Deus ligou homem e mulher intimamente ao universo material. E quando diz que foram criados à imagem e semelhança de Deus, que lhes inspirou a vida com um beijo amoroso na face, quer significar ao mesmo tempo sua transcendência, sua união íntima com o próprio Deus.
Concluindo: a ciência, sob este aspecto, até poderá ajudar-nos a compreender melhor a sublime mensagem revelada pela Bíblia.
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