O centro de toda a fé cristã é o mistério pascal. Por isso, o ano litúrgico culmina com a celebração dos grandes mistérios redentores: paixão, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré. A mensagem que os Evangelhos, hoje, nos anunciam, é a seguinte: aquele mesmo Jesus de Nazaré, que fora crucificado na terra dos judeus, sob o pretor Pôncio Pilatos, vive! Sim, Ele ressuscitou dos mortos!
Os apóstolos, os discípulos e as mulheres são testemunhas de sua ressurreição. Para testemunhar a fé na ressurreição do Senhor, não temeram a morte, o martírio. De maneira fidedigna proclamaram que o Senhor Jesus ressuscitou dos mortos. O apóstolo Paulo chega a dizer à comunidade de Corinto: - "Se Cristo não ressuscitou dos mortos, nossa pregação é vã e vã também é a nossa fé."
A ressurreição de Cristo é pois o coração do cristianismo. Não é o produto da fantasia dos apóstolos, mas mistério de fé, um mistério com o qual cada um de nós terá de confrontar-se pessoalmente. Um mistério que pede a decisão pessoal de cada um de nós. Não se trata apenas de um evento histórico do passado, que se recorda à memória. É um mistério que sempre de novo se torna presente e atuante no meio de nós, pela fé e na celebração da eucaristia.
Cada dia a fé coloca homem e mulher diante de novas decisões. Nossos pais decidiram-se pelo pecado. Jesus de Nazaré redimiu a humanidade com seu sangue na cruz, sem contudo dispensar-nos de nossa decisão pessoal. Deus ficou fiel ao seu povo infiel.
Talvez tenhamos muitíssimas razões para não crer na ressurreição de Jesus. Toda a certeza humana repousa no testemunho dos apóstolos e discípulos, e no querigma da Igreja primitiva. Somente a fé me diz que Cristo ressuscitou e com Ele também hei de ressuscitar.
Os apóstolos não adoraram um Deus morto. Se bem que o Novo Testamento diz expressamente que ninguém observou o ato da ressurreição, os evangelhos testemunham de forma inequívoca o encontro dos apóstolos com o Senhor ressuscitado. Ademais, a fé permitiu-lhes reconhecer que a morte de Jesus de Nazaré na cruz é a chave da história redentora.
Quando, de madrugada, as mulheres peregrinaram ao sepulcro, evidentemente, esperavam encontrar ali o cadáver do Senhor. Assustadas, tiveram que verificar a sepultura vazia. E Cristo revelou-se a elas e aos apóstolos. Estes eram homens rudes, mas não ingênuos ou simpatizantes com crendices, pois entre eles estava o incrédulo Tomé: - "Não creio que o Senhor ressuscitou, antes de colocar minhas mãos em suas chagas!"
Poderia ter-se esperado que o Senhor ressuscitado tivesse aparecido às grandes multidões, particularmente aos que O crucificaram, para certificá-los de seu glorioso triunfo. Isto, porém, não aconteceu. Cristo revelou-se apenas a um punhado de testemunhas escolhidas. É certo que nós gostaríamos de ver na ressurreição o triunfo visível e palpável da glória e do poder do Filho do Homem, no mesmo esplendor com que Deus outrora se revelara a Moisés no monte Sinai, entre raios, relâmpagos e trovões. Talvez até imaginemos o sucesso que tal acontecimento teria tido junto aos algozes cruéis.
Mas, quem são os verdadeiros algozes da morte do Senhor? Quem de nós já não foi um pequeno Judas? Cristo não veio para condenar homens e mulheres, mas para salvá-los, para implantar o Reino de Deus entre nós.
Cristo veio para semear a semente do Reino de Deus entre os homens e as mulheres. Por isso, depois da ressurreição diz aos seus: - "Ide e convertei a todos os povos, fazendo-os meus discípulos". Se depois da ressurreição tivesse cruzado a Palestina com uma comitiva de triunfadores, certamente teria causado grande sensacionalismo, e as multidões teriam corrido atrás dele com gritos de júbilo e de entusiasmo, mas entusiasmo passageiro. A massa humana é inconstante como as águas do rio. Um dia gritam "hosana" e no outro "crucifica-o". E Cristo não veio para provocar sensacionalismo passageiro. Ele quis despertar testemunhas da ressurreição, ministros da palavra redentora do Pai na pessoa do Verbo. Ele quis congregar uma comunidade de seguidores, prometendo-lhes a vinda do Espírito Santo. E como poderia fazê-lo com uma multidão amorfa e inconstante?
Enquanto as obras das grandes multidões se desfazem como bolhas de sabão ao sopro do vento, a fé de Abraão, de Isaac e de Jacó fala até nossos dias. O sangue dos mártires foi semente de novos cristãos. Foram eles homens e mulheres fortes na fé, que compreenderam o apelo do Senhor: É preciso que o grão de trigo morra para poder viver mais.
Nenhum dentre nós pôde ser testemunha ocular da ressurreição, mas todos nós teremos que o ser na fé. A fé na ressurreição dinamiza a vida da Igreja, nos enche de esperanças, de esperanças eternas.
E é justamente isto que expressamos, quando mutuamente desejamos a uns e a outros uma feliz e santa Páscoa!
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