Neste mês de agosto em que minha neta Isabela, minha esposa e eu choramos a morte precoce da Raquel, durante a Santa Missa celebrada por ela refleti que uma das partes da liturgia da qual mais gosto é a que se inicia com este apelo sugestivo:
- "Corações ao alto!' - Palavras agradáveis de ouvir. E, ouvindo-as, vêm-me à mente algumas reflexões que gostaria de desenvolvê-las neste meu modesto texto.
"Corações ao alto!" Sim, mas é bom lembrar que neste nosso mundo há corações cheios de impureza, de revolta, de ódio. Ora, tudo isto, queiramos ou não, pesa terrivelmente... Pensemos: como pesa a inveja. Como pesam o orgulho, a soberba, a vaidade... Sobretudo, como pesa a falta da Caridade!
Verificamos, ao nosso redor, o peso terrível que tem de suportar o coração que perdeu a razão de bater, de pulsar... Dependesse dele, e já teria deixado de bater há muito tempo.
Nem sempre o cerne do problema é o peso, que sufoca o coração.
O coração avaro, trancado no seu egoísmo, se afoga de tal modo nos cuidados com o dinheiro, com lucros, sempre maiores a obter, com economias a realizar, que um terrível emaranhado o prende, a ponto de ser-lhe impossível responder a este apelo: "Coração ao alto"!
Sei, com alegria, que há corações que sobem ao alto a dois, ajudando-se mutuamente e estimulando-se também um ao outro...
Há também, infelizmente, corações tão vazios, tão sem amor, que acabam flutuando como penas levadas pelo vento: não chegam a subir, porque qualquer sopro os arrasta para longe...
Nos meus longos anos de magistério em escolas públicas a esponja, o apagador, depois de tanto apagar um quadro-negro, cheio de garatujas com giz, ficava impressionantemente seca... E vinha-me à cabeça que há inúmero carações assim... secos!
Há corações, e muitos, que viraram uma pedra de gelo; outros, simplesmente uma pedra; outros, que se tornaram metálicos, de tanto se preocuparem com a posse de dinheiro...
Mas, voltando a nós mesmos: nossos corações se elevam facilmente para o alto? E os corações em volta de nós?
Acho muito importante saber como dar asas aos corações, ajudando-os a elevar-se, com mais facilidade e maior rapidez.
Por isso, acho também que a oração, a prece autêntica e sincera, vinda das profundezas da alma, alivia o coração, torna-o mais leve, mais alado como um pássaro...
É assim que gestos de autêntico amor ao próximo, feitos como o Evangelho ensina - sem que ninguém saiba, nem a mão esquerda o que faz a direita - tornam o coração um pássaro de asas velozes e firmes, que o levam facilmente para o alto!
De novo, repito: corações ao alto! Cada vez que dissermos ou escutarmos estas palavras, lembremo-nos dos que andam de corações como que numa fossa, sem ânimo, sem esperanças, sem razão de viver.
Corações ao alto! Que esta expressão, em nossos lábios, seja uma prece para que todos os corações de todas as criaturas humanas se ergam, se elevem para Deus, nosso Criador e Pai de todos os pais!