Num pequeno arvoredo cá nas proximidades de minha casa apareceu há dias, trazido não sei por que brincadeira da Natureza, um pica-pau, de grito agudo, afiado como um punhal. Seu único defeito, para mim, é que ele tem apavorado os pássaros menores, enquanto ele mesmo me parece benévolo e inofensivo. E a bonita ave, no seu vôo refulgente, faz o ruído de uma ave de mau gouro.
É assim que eu temo a beleza!
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Aqueles a quem Deus pede a mais perfeita Esperança devem olhar de perto seus pecados. Isto quer dizer que devem deixar o Senhor Jesus focalizar Sua luz repentinamente sobre os mais escuros recantos da própria alma - não que eles devam fazer a caça ao que não compreendem.
Procurar demasiadamente esconder aquilo que, precisamente, deveríamos de fato encontrar. Não me parece muito certo que eu tenha qualquer obrigação urgente de encontrar o pecado em mim. Aliás, para meu próprio bem, quantos pecados meus me são ocultados por Deus, em Sua Misericórdia? Mesmo porque tenho a Esperança de que Ele esconde a Seus próprios olhos todos os meus pecados de cada dia!
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Sei que minha glória e minha Esperança é uma só: sou membro do Corpo de Cristo, porque estou dentro de Sua Igreja. Sei que Cristo me ama e Se une a mim em Sua própria carne. Será que me basta esta certeza? Mas, na realidade do dia-a-dia nem sempre estou consciente disto.
Sou membro do Corpo de Cristo! Não porque eu O tenha procurado! Mas porque Ele me procurou.
Deus veio para fazer Sua morada em mim, um ser pecador. Nada mais tenho a procurar. Só posso voltar-me para Ele, inteiramente, ali onde Ele já está presente. Aquietar-me e ver que Ele é meu Deus.
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Ontem - com minha esposa e a neta ali num balneário do litoral paranaense - tive que matar uma grande, luzente aranha preta numa velha casca de árvore apodrecida, num quintal do alojamento.
Era uma bela aranha, mais bela do que a maioria de outras espécies conhecidas. Achei que faria bem em matá-la, mesmo contrariando minha neta, pois me havia sentado logo ao lado da casca onde ela se achava escondida. Veio-me a idéia de que alguém poderia fazer o mesmo e ser picado...
É estranho estar tão perto de algo que me pode matar e não ser defendido por qualquer tipo de invenção. Como se, em qualquer lugar onde na vida houvesse um problema, alguma máquina tivesse que acudir e, precedendo-me, tomar a devida providência.
Como se eu não pudesse lidar com as coisas sérias da vida, a não ser por intermédio desses anjos modernos, as nossas invenções. Como se a vida e a morte nada fossem. Como se toda a realidade estivesse nas invenções colocadas entre mim e o mundo: as invenções que se tornaram o meu mundo!
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Uma frase que acabo de ler numa revista:
- "Tudo que é feito com naturalidade pode ser sagrado ou profano, conforme o meu grau de conscientização. Tudo, porém, que é feito sem naturalidade, é essencial e inegavelmente profano."
Não sei que conclusão tirar desta frase, que descobri ser de um tal A.K. Coomaswamy...
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Típica manhã curitibana. Sol fraco. Nevoeiro. Um friozinho constante mas gostoso. Ao longe, na direção do centro da cidade, ao longe, fumaça branca a subir, contra o sol nascente, tomando lentamente formas de animais, tendo como pano de fundo o muro espesso do casario que se espraia a perder de vista.
Como disse, manhã um tanto fria, quieta. Meu relógio de parede, com o seu tique-taque um tanto quanto enervante, diz-me friamente que eu existo.
Surge de repente um dragão de fumaça no horizonte, ataca com as suas garras a luz ainda fraca do sol, e desaparece por entre a floresta espessa de prédios de apartamentos...
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Tenho certeza que foi um sonho, mas muito mais real do que todos os sonhos que já tive.
Fui a uma festa, convidado por amigos, do outro lado do rio. Toda gente está vestida com roupas novas, bonitas. Os vestidos claros, alegres, das mulheres, fazem contraste com as paredes mais escurar das casas.
Sei que estou numa festa, mas de repente somem todos, e a festa é muito mais longe do que eu pensava. Tenho de ir até lá num barco. Mas o fato é que não há nenhum barco. Sinto ser meu dever atirar-me à água e nadar.
A casa se acha lá adiante. Chego à ampla casa de verão e dela me aproximo com a mesma força que me veio da água. Cheguei, e sei agora tudo que tenho de fazer na casa de verão. Sei que devo primeiro brincar com este cão que vem correndo, saindo de uma das salas.
Sei também que a Criança virá, e ela vem. A Criança vem e sorri para mim. É o sorriso de um Grande, oculto. Dá-me com simplicidade uma fatia de pão e um cálice de vinho, certamente a refeição ritual e hierárquica de todos os que vêm para ficar.
Apesar de tudo, a cada momento lembro-me com surpresa de que sou um homem, ao mesmo tempo, vazio e cheio de satisfação, porque aqui nada me falta. A Criança me conduz.
Teria sido mesmo um sonho?!
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