VENCER... OU CONVENCER?!

          Mais difícil, mais humano e mais belo que vencer, é convencer.

          Vencer está ao alcance dos animais; convencer, não...

          Você já contemplou o estafante trabalho do cupim? Pois aquele bichinho, minúsculo, consegue vencer a viga poderosa que sustenta o telhado. Parece incrível como um bichinho tão pequeno pode devorar por dentro madeira tão grossa.

          Numa briga de galos, seja no terreiro,  seja numa rinha, o vitorioso deixa o colega e irmão galo vencido, de crista rasgada, de pescoço ensanguentado, não raro estrebuchando pelo chão, morrendo...

         O pobre do rato é vencido pelo gato. No rio, as piranhas sangram e matam mesmo animais de grande porte como o infeliz boi, e são capazes de liquidar tranquilamente uma criatura humana...

         Claro que nós, homens, também sabemos vencer. Venci adversários, antes considerados invencíveis, no tabuleiro de xadrez, nos muitos torneios de que participei. Lembro que, jogando de brancas, dificilmente eu era vencido. Bem, jogando de pretas, o caso era um tanto quanto diferente...

         Vence-se uma partida de futebol, e nos meus longínquos tempos de jovem consegui vencer várias partidas de basquete.

         Num ringue de box ou de luta-livre o mais forte derruba e nocauteia o adversário.

         Quando se diz que uma Nação perdeu a guerra e outra venceu, isto quer dizer que quem venceu tinha razão, e venceu porque tinha razão,  invocou a ajuda de Deus e foi atendido? De modo algum. Pura falácia.

         E, hoje, com os terríveis artefatos de guerra que possuímos, é possível vencer uma guerra, e arrasados podem sair não só quem foi vencido, mas o próprio vencedor da guerra!

     Quando Pai e Mãe, em casa, sem ouvir possíveis razões dos filhos, cortam de imediato qualquer discussão, e resolvem e decidem, por vezes enganando a meninada, acham que venceram, mas na verdade pode ser que tenham vencido, mas não convenceram.

         Em qualquer discussão, em casa, na rua, ou no botequim, quando há quem tenha vozeirão mais forte, talvez mais traquejo dialético, não raro amigos e circunstantes que aplaudem, pode haver vencedores, sem que os prováveis vencidos saiam convictos da derrota...

         É preciso não se contentar em vencer. O desafio permanente é convencer e não apenas vencer.

        Evidentemente, é também verdade que eu, em vez de convencer, posso também ser convencido. E não é nenhuma vergonha mudar de idéia, de ponto de vista, de posição e de conduta, se me convencerem de que estou enganado e que não tinha caminho melhor a seguir...É sempre bom um pouco de humildade, disse-me um amigo certo dia, num momento de tensão.

         Muita gente acha que, para vencer numa discussão, vale o grito, valem xingamentos, vale até a ameaça... Mas, para convencer, o ideal é que não se trate de sofismas ou de meias verdades... Para que eu seja convencido, o ideal é que ninguém queira me convencer, enganando-me, enrolando-me...

         Para convencer, o ideal é que a pessoa esteja convicta, tenha calma, saiba apresentar argumentos, saiba ouvir, reconheça toda a parte de razão que haja no eventual adversário.

        Quem convence não deve cantar vitória. A rigor, no meu entender, quem vence é a Verdade, é a Justiça. Quando muito, devo me alegrar quando ajudo meu próximo a ver mais claro, a ver o que eu estava vendo  como certo, e ele não.

           Encerrando este meu texto, um "sermão" gratuito, não encomendado:

        - Estejamos Você e eu sempre mais a serviço da Verdade, da Justiça e do Amor. Vamos aceitar sermos convencidos. E quando nos convencerem, fiquemos humildes, não apenas por fora... A humildade que só existe por fora é coisa farisaica e triste.

         - Quando a incumbência de "convencer" for nossa, tenhamos humildade tanto por fora quanto por dentro...

         - E alegremo-nos de ter servido à Verdade, que é o mesmo que servir a Deus, nosso Pai!

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           E, para melhorar nosso humor no decorrer do dia, nada melhor que um soneto de Camões, o Príncipe dos Poetas de Língua Portuguesa:

                                                 Busque Amor novas artes, novo engenho

                                                 Para matar-me, e novas esquivanças;

                                                 Que não pode tirar-me as esperanças, 

                                                 Que mal me tirará o que eu não tenho.

                                                                   Olhai de que esperanças me mantenho;
                                                                  Vede que perigosas seguranças!

                                                                  Que não temo contrastes nem mudanças,

                                                                  Andando em bravo mar, perdido o lenho.

                                                  Mas, conquanto não pode haver desgosto

                                                  Onde esperança falta, lá me esconde

                                                  Amor um mal, que mata e não se vê;

                                                                 Que dias há que na alma me tem posto

                                                                Um não sei quê, que nasce não sei onde,

                                                                 Vem não sei como, e dói não sei porquê!...

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