quarta-feira, 30 de abril de 2014
INTÉRPRETES DA CRIAÇÃO
Você e eu, benévolo leitor, podemos e devemos emprestar nossa voz à Criação inteira, de modo especial para ofertar ao Criador e Pai as primícias da Terra. Quem não se sentiria feliz recebendo a primeira rosa de uma roseira, colhida para nos ser ofertada como primícia?...
Deus é senhor da Criação inteira, mas sei que Ele gosta que nós, criaturas Suas, Lhe ofertemos primícias: as primeiras flores, as primeiras frutas, os primeiros filhotes dos animais. E existe ainda um capítulo da Bíblia em que se fala da oferta dos primogênitos a Javé...
Gosto de ver em nossa Curitiba, principalmente no tranquilo bairro em que resido, os flamboyants e as acácias se desfazendo em beleza. E é tão fácil e tão agradável oferecer ao Pai de todos os pais a beleza que contemplamos!...
Vale dizer que não podemos ofertar a beleza das acácias e dos flamboyants, porque nem as plantas são nossas - estamos só passando diante delas - e tudo já é de Deus.
A beleza de todas as flores pode ser oferecida: as plantas podem ser de quem quiser. São nossas a visão de beleza e a lembrança encantada que guardaremos para sempre...
E Deus é como nossos pais que, na véspera dos próprios aniversários, dão o dinheirinho que os filhos pedem para que possam oferecer o presente de aniversário. Também o Pai que é Pai, Mãe que é Mãe, aceitam, encantados, qualquer lembrança trazida pelos filhos, por mais pobre e simples que seja...
É preciso que Você eu nos soltemos no meio da Natureza e usemos nossa imaginação.
Por que não oferecer a Deus tudo o que vamos vendo, contemplando com os próprios olhos maravilhados ou com a ajuda da imaginação criadora?
Os primeiros pêssegos, as primeiras mangas, as primeiras pitangas, todas as frutas gostosas que formos encontrando ou até comendo...
A imaginação pode levar-nos ao fundo do mar: por que não oferecer ao Pai os peixes todos, de tamanhos e feitios, e cores tão variadas, com maneiras de nadar e mergulhar que lembram um balé?
A imaginação pode levar-nos ao cume das montanhas... De lá podemos colher os primeiros raios de luz, ainda não tocados, não poluídos, tais como brotaram do Poder Criador...
A imaginação pode levar-nos ao horizonte - não adianta quererem provar-me que é ilusão imaginar que terra e céu, e céu e mar se tocam. Não é por acaso que o Criador permite esta impressão tão bela. Ofereçamos a Ele beleza dos horizontes largos, imagem tão próxima do infinito...
E por que não ter a simplicidade e a confiança de oferecer-lhe o sorvete gostoso que estamos sorvendo?... Por que não ter a simplicidade e a confiança de oferecer a beleza da vitrina, arrumada com tão grande bom gosto e iluminada com tanta inteligência?...
Vamos acordar, todos nós, intérpretes da Criação e adoradores de Deus!...
Quanta maravilha há no mundo, esperando para ser, de desejo, de coração, tomadas em nossas mãos e apresentadas ao nosso Senhor e nosso Pai!
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Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
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Luís Vaz de Camões - "Lírica"
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