domingo, 1 de setembro de 2013

AS AVENTURAS DE LAIKA, A MACACA AMERICANA


          No dia em que completei minha maioridade legal, 21 anos, - 03 de novembro de 1957 - os americanos colocaram um macaco no espaço. Enviaram-no mais longe do que pretendiam. Conseguiram recuperá-lo vivo. O venturoso animal voou pelo espaço a uma velocidade fabulosa, apertando botões, puxando alavancas, comendo pílulas com sabor de banana,.
          Enviou sinais com regularidade impecável tal como fora treinado. Não se queixou das alturas. Não se queixou do tempo frio lá em cima. Não se queixou nem da Terra nem do Céu.
          Nenhum problema religioso ou metafísico a importunou. Não se sentiu culpada pelos milhões de dólares que custou sua viagem pelo espaço. Pelo menos, ninguém a ouviu queixar-se de alguma culpa.
          Aliás, eu me pergunto, cá com os meus botões:
          - Por que haveria um macaco no espaço de sentir-se culpado? O espaço é o lugar onde não há mais peso nem culpabilidade. E, pensando bem, um macaco não se sente culpado mesmo quando faz estrepulias sobre a terra. Quem dera que nós, pobres humanos sobre a terra, não tivéssemos o sentimento de culpabilidade.
          Talvez, se pudéssemos todos subir ao espaço, não nos sentiríamos mais culpados. Puxaremos alavancas, apertaremos botões, comeremos pílulas com sabor de banana. Não, perdoem-me. Apesar dos americanos, nós brasileiros ainda não somos exatamente macacos.
           Não nos sentiremos culpados no espaço. Não teremos sentimentos de culpa quando chegarmos na Lua. Talvez nos sintamos apenas um pouco culpados na Lua, mas, quando chegarmos a Marte, não nos sentiremos nada culpados.
            Da Lua ou de Marte, segundo nosso costume, talvez fizéssemos explodir o mundo. Mas, se da Lua fizéssemos explodir o mundo, poderemos talvez sentir-nos um pouco culpados. Se fizermos a explosão quando estivermos em Marte, não teremos nenhum sentimento de culpa, pois Marte não é o deus da guerra, e guerra não é aquilo que melhor costumamos fazer?
            Pois é: Se fizermos explodir o mundo, estando nós em Marte, não teremos nenhuma culpa. Faremos explodir o mundo sem culpa nenhuma. Trá-lá-lá. Tri-ló-ló. Apertar botões, puxar alavancas! Logo que abrirem em Marte uma fábrica para macacos cor de banana, não haverá mais nenhuma culpa.
            Estou com setenta e sete anos. Vamos ser perfeitamente sérios. Pois nos meus floridos e inocentes 21 anos a Civilização Humana se dignou agraciar meu vigésimo primeiro ano com aquele feito maravilhoso de enviar um macaco ao espaço; e eu deveria ficar cínico por isso?
            Deixem-me aprender a modernidade com este macaco felizardo. Apertar botões. Puxar alavancas. A verdade é que os americanos atiraram o pobre macaco para muito longe. Mas não faz mal. Conseguiram pegá-lo de volta no Oceano Atlântico, e ele apertou as mãos do pessoal da Marinha. Só não falou alguma coisa porque estava entediado. Mais tarde, já descansado, com certeza teria muito a contar, em homenagem simiesca aos meus felizes vinte e um anos!...
      

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