domingo, 22 de setembro de 2013

NÓS NOS ACOSTUMAMOS...


          Uma vizinha, querendo confortar minha esposa pelo falecimento de nosso filho Júlio, neste 12 de setembro, disse-lhe que o tempo cura todas as feridas, e com o tempo ela se acostumaria com a ausência definitiva do filho querido.
          A sós comigo mesmo e com a minha dor, comecei a refletir sobre a opinião daquela senhora, e cheguei também à conclusão de que nos acostumamos com relativa facilidade.
          Sei que a gente se acostuma a andar pelas ruas do bairro e ver rostos conhecidos e mostruários de lojas. A ver as bancas de revistas e folhear jornais, buscando notícias ou anúncios de coisas que nos interessem.
         Também nos acostumamos - se bem que sob protestos - com a poluição de Curitiba: as janelas de casa sempre fechadas, os portões sempre trancados a cadeado por receio de eventuais larápios. É claro que com as janelas sempre fechadas, depressa nos acostumamos a não abrir as cortinas. E porque não abrimos as cortinas, logo nos acostumamos a acender mais cedo a luz. À medida que se acostuma a isso, esquecemos o sol, esquecemos o ar puro, esquecemos a amplidão do olhar.
          Acostumamo-nos a acordar de manhã cedo, a tomar café às pressas, porque temos que levar a neta Isabela ao colégio. A gente se acostuma a sorrir para as pessoas conhecidas, muitas vezes sem receber um sorriso de volta. Até já me acostumei  a cumprimentar o gari que varre minha rua, quase sempre sem receber uma resposta, imerso que está ele em seu fatigante trabalho.
          Muita gente se acostuma a não ouvir os passarinhos nas árvores ao redor de sua casa, a não ouvir os pombos arrulhando no telhado, a ter medo da hidrofobia no cão doméstico, ou até a não possuir uma planta ou flor dentro de casa.
           A gente se acostuma quase sempre para preservar a pele, para evitar feridas e sangramentos emocionais, para poupar os dissabores do dia a dia. Aos poucos, de tanto acostumar, nos acostumamos conosco mesmos, a ponto de não mais desfrutar das alegrias da vida.
           A gente se acostuma com muitas coisas para não sofrer. Em doses pequenas, fingindo não perceber, vamos afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
           Mas, será também verdade que o tempo nos fará acostumarmo-nos com a ausência de duas pessoas queridas, como sempre foi e como sempre será minha querida e falecida filha Raquel, como também o meu querido filho Júlio, falecido agora neste 12 de setembro curitibano?

Um comentário:

  1. JAMAIS IREMOS NOS ACOSTUMAR COM A FALTA DE UM ENTE QUERIDO...JAMAIS...APENAS CHEGAREMOS A CONCLUSÃO QUE A PASSAGEM DE UMA VIDA PARA OUTRA ,TIRA-NOS O CONTATO PESSOAL,
    EM ESPÍRITO, OU ALMA QUEM SABE, PODEREMOS CONTINUAR, NOSSOS CONTATOS...SEMPRE ENVIANDO PALAVRAS DE CONFORTO, HUMILDADE, ENTENDIMENTO, ESCLARECIMENTOS...SAUDADES....MUITA LUZ...

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