"Rose, oh heiner Widerspruch , Lust; Niemands Schalaf zu sein unter soviel Lidern!"
"Rosa, ó pura contradição, alegria de ser o sono de ninguém, sob tantas Pálpebras"
(Epitáfio de Rainer Maria Rilke, poeta tcheco de minha predileção, encontrado no seu livro "Os Cadernos de Malte Laurids Brigge", publicado após sua morte, em 2 de janeiro de 1927).
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Um fato, que de vez em quando me intriga: o problema do "outro
Por mais habilidoso e intelectual que eu pretenda ser, o "outro" me persegue. Ele vem a mim,
"Rosa, ó pura contradição, alegria de ser o sono de ninguém, sob tantas Pálpebras"
(Epitáfio de Rainer Maria Rilke, poeta tcheco de minha predileção, encontrado no seu livro "Os Cadernos de Malte Laurids Brigge", publicado após sua morte, em 2 de janeiro de 1927).
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Um fato, que de vez em quando me intriga: o problema do "outro
Por mais habilidoso e intelectual que eu pretenda ser, o "outro" me persegue. Ele vem a mim,
bate em minha porta, viola meus olhos e ouvidos, segura meu braço quando digito este texto. O fato é que, goste ou não, eu quero esse outro, esse próximo, com proximidade, tenho fome, sou pobre que não me sustento com generalidades e generosidades, porque tenho pressa de pão.
Considero-me pobre do outro, como se o sangue de minhas veias não me bastasse e fosse urgente trocá-lo, numa transfusão quente e viva, de coração para coração.
Preciso do outro, para o fazer comum, mas muito mais para o uso comum, da palavra e do trigo. Preciso do outro, para construir cidades e para ouvir um disco. Para ler livros escritos, e para ter leitor que leia meus pobres blogs. Para tudo; e para nada.
Para andar no mesmo caminho, à toa; para estar ao meu lado em silêncio. Pelo calor da proximidade, pelo conforto da compreensão. Preciso da esmola do "outro"; da esmola viva, dele mesmo, como ele é, outro mas próximo.
Quando vou andando nas ruas e avenidas de Curitiba, no meio da acabrunhante solidão das ruas, e vejo surgir de repente entre ombros e cabeças alheias a velha face conhecida, a boa face amiga, o tempo para e meu sangue se aquece. É bom ver o rosto do amigo, da amiga; então já não estou só. Antigo susto que desde a infância me persegue, medo de escuro e de solidão, se desfaz quando encontro o amigo, quando encontro a amiga.
Sou pobre, fundamentalmente pobre, de carne e de espírito. Pobre como criancinhas que morreriam de fome e de medo, se o mundo não fosse para elas um jardim cheio de mãos estendidas.
O adolescente, por ter crescido um palmo em um ano, se gloria de ser um obelisco solitário perambulando num deserto. Sua grandeza e sua virilidade consistem em andar só, em arrumar-se, em bastar-se. Repugnam-lhe as mãos que o amparam porque se completa com sua própria mão.
Muita gente fica a vida inteira nessa idade, envelhece numa adolescência orgulhosa, falando alto que não precisa de muletas, não precisa do outro, de ninguém, por ser o mais livre dos homens, o mais independente, autor de seus próprios dias, tutor de todo o universo!
Bendita seja a nossa pobreza, e benditos os ombros que encontramos para nos servir de
muletas!
E é por isso que, mesmo no seio da família mais feliz e mais completa, ainda falta alguém. Falta o hóspede. E é por isso que toda a gente de casa se alegra quando o hóspede bate à porta. Benvindo seja! O pai de família se levanta com vivacidade, vai ao encontro do esperado, com a mão estendida, num gesto de dar e receber, num gesto de mendigo e de rei!
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Mas a vida é triste. A experiência banal de cada dia nos enche de decepções. Uma dolorosa desproporção parece existir entre a nossa natureza e nossos maiores anseios. O ser dança diante da inteligência; a idade pesa; o próximo decepciona e trai.
Nossos três sentidos tateiam à procura de um objeto. Onde está ele, esse "Outro," cuja presença velada nos agita? Por que nos escondeu Ele a sua face?
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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense e bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP.
Lindo e verdadeiro. Sempre lembrado com imenso carinho. Parabéns pelo texto.
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