sábado, 11 de fevereiro de 2012

O ÚLTIMO ANDAR

      Hoje, 8 de junho de 2016, de manhãzinha, este velhote meio careca, ralos cabelos brancos na cabeça, já bastante carcomido pelo peso de seus 80 anos, confessa francamente, de público, que chorou. Estava dando uma arrumadela em seus livros, na estante, e encontrou ali, meio espremido entre pesados livros de teologia, um pequeno volume intitulado "Um Olhar Sobre a Cidade", de autoria do saudoso e inesquecível Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, falecido em 28 de agosto de 1999.
      O velhote chorou, confessa mais uma vez, porque encontrou na primeira página do livro esta dedicatória:
      - "Para o pão-duro, munheca e boco-moco do meu irmão, esta oferta grátis para que 1979 marque para você uma maior abertura de si mesmo.  Darcy, janeiro de 79."
      Darcy. Minha irmã. Quem teve a pachorra ou a curiosidade de entrar no "blog do mestre" encontrou lá uma espécie de poema intitulado "Meus dois amores", e ali se fala da Darcy, que, procurando mais vida, na vida encontrou a morte, ao lado de Raquel, aquela que, lutando contra a morte, na morte encontrou a Vida Eterna. Pois é, ambas, meus dois amores. Darcy minha irmã; Raquel minha filha.
      Folheando o belo livro de Dom Hélder, encontrei lá nas últimas páginas um poema de Cecília Meireles, com o sugestivo título de "O último andar".
      Poeta, poetisa. Qual dos mortais seria tão insensível que não amasse estes seres tão misteriosos, quase etéreos, quase anjos, que com suas palavras conseguem nos arrancar das baixadas deste mundo e conduzir-nos para as sublimes alturas da fantasia, da parábola, da beleza, através de seus versos? E tanto isto é verdade, que me atrevo a transcrever aqui os versos maravilhosos de Cecília Meireles, que também fizeram o velhote chorar de manhãzinha:
                                         
                                          O Último Andar

                                No último andar é mais bonito
                                Do último andar se vê o mar
                                É lá que eu quero morar
                                O último andar é muito longe
                                - custa-me muito a chegar -
                                Mas é lá que eu quero morar
                                Todo o céu fica a noite inteira
                                Sobre o último andar
                                É lá que eu quero morar
                                Quando faz Lua
                                no terraço fica todo o luar
                                É lá que eu quero morar
                                Os passarinhos lá se escondem
                                prá ninguém os maltratar
                                no último andar
                                De lá se avista o Mundo inteiro
                                Tudo parece perto, no ar
                                É lá que eu quero morar!

      O velhote chorou de manhãzinha porque, relendo o poema de Cecília Meireles, lembrou-se da Raquel, sua filha querida que flechou verticalmente o céu em busca do Infinito.  E este Infinito, outro nome para o Último Andar, é ali que ser tornou definitivamente a morada da Darcy e da  Raquel, ambas os meus dois amores.
      Ambas no último andar. Será vaidade querer morar no último andar, onde ambas moram? Se de lá se vê o mar; se a noite inteira todo o céu fica sobre o último andar; se de lá se avista o Mundo inteiro, como não querer ir para o último andar?... Sobretudo, se é lá, no último andar, que os passarinhos se escondem para ninguém os maltratar, como pode ainda haver dúvida, quanto a meus dois amores terem querido ir morar no último andar?
      Há muita gente que não gosta de falar em morte. O velhote, que chorou de manhãzinha, também não gostava de falar em morte, pois o falar ou o  lembrar da morte o faziam chorar. Tinha duas fortes razões para isso. A Darcy e a Raquel. Mas é porque ele não via a Morte como a vêem os Poetas e os Santos.  Como a vê Cecíla Meireles no seu poema do Último Andar.
       É assim tocada de Beleza que os Poetas e as Poetisas contemplam a Morte. Para os Santos, aqueles que residem no último andar, a Morte é a entrada em uma nova vida. Sem dúvida, os que agora moram no último andar estiveram ligados à Terra. Tiveram uma missão cá na Terra que lhes foi confiada pelo Pai: Ele, ao fazê-los participar da Sua própria natureza divina, deu-lhes a missão de dominar a Natureza e completar a obra da Criação.
      E eles, na sua vida mortal, foram fiéis a essa missão, que consideraram como a mais apaixonante que lhes foi dada pelo Criador, a de agir como co-criadores com o Criador, de lutar como co- libertadores deste Mundo com o Libertador.
       Para os meus dois amores, a Darcy e a Raquel, como para os Santos, a Morte não lhes apareceu como um horrendo esqueleto com uma foice nas mãos. Elas, como os Santos, não tiveram medo de morrer. Se morrer, para elas, é ressuscitar, sei que elas nunca falaram em morrer. Quando fosse o caso, elas falavam em ressurreição na morte, ou então preferiam falar em partir!
      E como o fez São Francisco de Assis, uma, que procurava mais vida,  e procurando mais vida se deparou com a morte, a outra, que lutava contra a morte, e lutando contra a morte na morte encontrou a Vida Eterna, saíram ambas vitoriosas, porque saudaram a Morte como uma Irmã querida, que veio para levá-las para a Casa da Vida Eterna..
      Para o último andar!


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                                        A propósito do "Diário" de Anne Frank


    O "Diário" foi encontrado no sótão onde a pequena Anne frank morou nos últimos anos de sua vida. Seu diário se tornou um clássico em todo o mundo: uma poderosa lembrança sobre os horrores de uma guerra, um testemunho eloquente para o espírito humano.
      Em junho de 1942, quando os nazistas ocupavam a Holanda, a menina judia de apenas 13 anos, acompanhada por toda a família, deixou para trás a residência em Amsterdã e se refugiou no sótão de uma casa. Até o paradeiro dos Frank ser delatado à Gestapo (= polícia secreta nazista), os integrantes da família viveram ao longo de dois anos enclausurados no "Anexo Secreto".
      Isolados do mundo exterior, os Frank enfrentaram a fome, o tédio e a terrível realidade do confinamento, além da ameaça constante de serem descobertos e mortos.
      Nas páginas de seu diário, Anne Frank registra as impressões sobre esse longo período no esconderijo. Alternado momentos de medo e alegria, as anotações se mostram um fascinante relato sobre a coragem e a fraqueza humanas, e, sobretudo, um vigoroso auto-retrato de uma menina sensível e dterminada cuja vidaa foi tragicamente interrompida.

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Um comentário:

  1. O ÚLTIMO ANDAR....É LÁ...QUE EU QUERO MORAR.

    Lindo demais amigo vÔ...é prá lá que vamos!

    No último andar...o céu se mostra infinito.
    Mostra o rio... desaguando no mar.
    Mostra a imensidão do verde...que nos faz respirar.
    Mostra todo o caminho...por onde queremos passar.
    Mostra que o infinito é pouco...para o que DEUS nos dará.
    É lá no último andar...que consigo avistar de mais perto...o MEU LAR.

    UM GRANDE ABRAÇO, DA AMIGA Clélia.

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