Faz hoje dezessete dias que meu filho Júlio adormeceu no Senhor. Que a misericórdia de Deus o cubra com seu manto e que Deus o tenha na Sua paz.
Minha netinha Isabela, de quem o Júlio foi padrinho de batizado, minha esposa Cleusa e eu, com o falecimento do Júlio, parecemos viver imersos numa enorme solidão. É então que elevamos uma prece até o Senhor Jesus:
- "É terrível, Senhor, a impressão de solidão. Então nós recorremos a Ti: Encorajai os que guardam a impressão de que, estando sós, guardam a impressão de que estão sobrando. Já não dão nada. Não fazem nada, parece que só servem para atrapalhar os que os rodeiam.
Encorajai, Senhor, a nós três que, morando na mesma casa, quase não nos encontrando, cada qual vivendo a sua dor mas que não se encontram: parecem linhas paralelas, próximas, entretanto sem possibilidades de um encontro efetivo e principalmente afetivo.
Sabeis, Pai, como a tendência é cada um jogar a culpa toda ao outro: - Por que é que não cuidamos dele, não tomamos conhecimento de seus problemas, não procurando um sadio diálogo para saber de seus sofrimentos internos, e que acabaram por levá-lo ao gesto extremo de abdicar da vida? Por que não o internamos numa clínica, que pudesse curá-lo e devolvê-lo a nós em pleno uso de sua inteireza mental e psicológica, para continuar vivendo a vida que Deus lhe deu para que ele a cultivasse no dia-a-dia, e a fizesse produzir frutos que todos nós, de uma ou de outra maneira, sempre esperávamos?
Talvez nem seja o caso de falar em culpa de quem quer que seja. Agora, depois de seu trágico e incompreensível falecimento, temos de aceitar a conclusão de que o que quase sempre houve entre nós foi a tendência acomodatícia de não cuidarmos de alimentar o amor, este amor entre pais e filho que é o melhor e mais eficaz remédio para todos os males que podem afetar uma família.
O caso é que falhamos. E nosso filho Júlio, como ele mesmo escreveu em seu testamento: "Perdi a alegria de viver", talvez por uma certa fraqueza em enfrentar os problemas que o atormentavam, decidiu abdicar da vida, num gesto para todos nós tresloucado.
Sabemos que ninguém neste mundo pode perder a esperança. Se a esperança se apagar dentro de nós, que será de nós se deixarmos secar a fonte que não deve nunca secar?... Pois essa fonte, que nunca deveria secar, meu filho Júlio a sentiu secar e, perdida a esperança de tê-la de volta na sua vida, preferiu o caminho que lhe pareceu mais fácil: se a vida parece difícil, abdiquemos da vida!... E encontremos a paz!...
Ora, Senhor nosso Pai: sabeis como ninguém que nossas pobres fontes humanas um dia secam, se esgotam com a maior facilidade. Só mesmo apelando para as fontes de água viva, de que falou Vosso Filho e nosso Irmão, Jesus Cristo. Somente elas não secam. São perenes e jorram para a Vida Eterna!
É nesta esperança que minha netinha Isabela, sua avó e eu, com plena confiança na Misericórdia de Deus, rogamos a Ele para que a Sua Misericórdia cubra com seu manto o nosso infortunado filho Júlio César Teixeira de Almeida, que adormeceu no Senhor em 12 de setembro de 2013.
Que Deus o tenha na Sua Paz!