sexta-feira, 17 de outubro de 2014

AINDA HÁ LUGAR PARA DEUS NESTE MUNDO?!



            O homem e a mulher modernos têm repugnância à idéia de um Deus tirano, barbudo, vestido com uma ampla túnica branca, sentado sobre as nuvens, com carranca de tempestade, só espreitando o formigueiro humano lá em baixo: aguardando o momento de apanhar o pobre ser humano em alguma falta, fruto de sua fraqueza congênita e registrar o pecadilho em sua folha-corrida para o julgamento futuro...
            Na verdade, nossa era técnica e demitificada não aceita mais, com facilidade, as idéias de certo divinismo pueril, herdado da Idade Média. O homem e a mulher modernos estão de tal modo profundamente cunhados pela exatidão científica, que até se sentem chocados com certas expressões bíblicas, que nos falam de um Deus que "ruge, se encoleriza, se arrepende", e tem ímpetos de atirar a todos nós para o nada, de onde nos houvera tirado. Sobretudo, quando nossos antropomorfismos não forem usados com muita prudência.
            Os progressos e descobertas científicas mostram ao homem e à mulher que não devem mais buscar o mistério atrás e acima das nuvens, além do mundo, mas neste próprio mundo. Dizem que Deus está no homem e na mulher, e que age no mundo através deles.
            Devo aceitar então que homem e mulher modernos sejam menos religiosos do que homem e mulher de outros tempos?
            Creio que não se poderá dizer isso, porque temos hoje uma outra idéia de Deus, uma idéia, talvez, mais purificada. Não posso aceitar que Deus seja um pedaço do mundo, um Deus objeto das ciências, ao lado de uma infinidade de outros objetos. Este Deus, para mim, seria um Deus muito pobre e perfeitamente descartável.
             A Ciência poderá estudar a transformar a Terra, mas o Mundo sempre permanecerá Mundo, um Mundo bem outro que Deus mesmo. Deus também não é, para mim, a continuação homogênea do espaço no universo. Se não consigo descobrir Deus no mundo, isto ainda não significa que eu deva demonstrar o ateísmo. Isto é apenas a experiência negativa de Deus.
             Sei perfeitamente que no fim do século XVIII e início do século XIX, realmente houve um ateísmo teórico e prático, tão ingênuo e superficial, que cria poder provar cientificamente a não-existência de Deus.
             Mas sei também que nossa experiência moderna apenas nos diz que não devemos esculpir Deus na matéria deste mundo. E isto não é a mesma coisa que ateísmo e muito menos antiteísmo.
             Que idéia tenho eu de Deus?
             A vida e o estudo me ensinaram que Deus sempre é maior e incompreensível. Deus é simplesmente aquele que é!
             E Deus não se deixará jamais prender-se no sistema de coordenadas científicas, pois é um ser transcendente. Por isso não podemos defini-Lo. A transcendência de Deus não significa distância infinita. Ele está próximo de nós, em nosso meio. Ele é, contudo,  diferente de nós, tão diferente de nós que apenas sabemos soletrar poucas coisas sobre Ele. E apesar disso, também nesta nossa era técnica, mais vale sabermos soletrar um pouco de Deus, do que falar com sabedoria das coisas dos homens.
            Não sei o por que dessa mania de só falar de Deus, à margem dos acontecimentos... Não é Ele o coração de nossa vida? 
            De outro lado, a nossa idéia de Deus não deverá ser a de um tapa-buraco para ocultar ou completar as fraquezas humanas, uma solução aparente quando não um narcótico a nos ocultar aqueles problemas que nós mesmos não conseguimos resolver.
            Deus não é um explorador covarde, que só se manifesta na limitação humana da velhice, da doença, etc. Ele está e sempre esteve conosco na infância, na juventude, na idade adulta, como também na velhice.
            Deus está presente em meio à nossa vida concreta de todos os dias, de maneira transcendental. Não há nenhuma necessidade de construirmos espaços abstratos e imaginários para a ação divina. Basta penetrarmos o mundo até a sua última profundidade, com os olhos da Fé, para lá mesmo encontrarmos Deus.
            Quando tempos atrás o astronauta russo declarou não ter visto Deus lá em cima,  talvez no íntimo alimentou o receio infantil de encontrar Deus no espaço sideral. Essa seria uma idéia mítica de Deus.
           É verdade que o homem técnico desmitologizou a Natureza, mas não a "ateizou". Como o salmista bíblico, também o homem e a mulher, modernos e de boa vontade, no fundo mais profundo do coração, não cessam de clamar:
          - "Senhor, estou à Tua espera. Minha alma tem sede de Ti. Minha carne Te deseja como terra seca e sem água".
               
 
        
            
           

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