quinta-feira, 29 de setembro de 2016

"...e por falar em macacos!"



            Folheando um caderno antigo, repleto de anotações vadias, encontrei nele recortes de jornais onde se dizia que os americanos conseguiram colocar um macaco no espaço. Diante deste inaudito fato, eu fiquei matutando com os três botões ainda inteiros da minha ceroula samba-canção: -  por que raios tanto espalhafato por um mísero macaco voando em torno deste nosso mundo já avacalhado em demasia pelos humanos?
           Qual a finalidade de botarem o pobre bicho no espaço? O  que iria ele fazer lá nas alturas? E esta interrogação ainda mais patética: será que conseguiriam trazê-lo de volta à Terra são e salvo?
            Pois é; diziam ainda os jornais que o quase nosso irmão macaco voou (?) pelo espaço a uma velocidade fabulosa, apertando botões e mais botões, esquecido até de comer a sua fruta predileta, a banana, de que certamente os técnicos da NASA abasteceram com prodigalidade a nave espacial...
            E lá foi ele, cumprindo a sua espinhosa missão, que era enviar mensagens para a Terra, com regularidade impecável, tal como fora amestrado pelos seus treinadores.
            Com toda certeza o macaco não se queixou de estar lá em cima. Não se queixou nem da Terra nem do Céu. Ainda mais: não foi importunado por nenhum problema metafísico por estar a milhares de quilômetros de seu habitat natural. Pelo menos os jornais não noticiaram nada a esse respeito.
            Aliás, por que haveria um macaco de sentir-se culpado no espaço que, me disseram na escola, é o lugar onde não há nem peso nem culpabilidade? E eu me questiono, com ou sem razão, quem dera que nós, humanos, cá na Terra, tivéssemos também a glória macacal de nenhum sentimento de culpabilidade!
             Quando chegamos, já há algum tempo, na Lua, talvez lá sentíssemos um tanto quanto culpados, diante da imensa quinquilharia com que a sujamos por meio de nossos foguetes espaciais!...
              É verdade que talvez nos sintamos um pouco culpados se chegarmos em Marte, que os antigos diziam ser o deus das guerras, essa atividade de que os humanos tanto gostam de praticar...
              Trá-lá-lá. Apertar botões. Saborear balas de bananas. Puxar alavancas. Girar em altíssimas alturas e velocidades em torno da Terra bem-amada!...
               Pois é, não sei se isto foi honroso ou não para mim, pois aconteceu no dia em que fiz quarenta e seis anos de idade. Vamos ser pessoas perfeitamente sérias. A tão decantada Civilização Moderna se dignou agraciar meu quadragésimo sexto ano com este feito memorável: botar um macaco no espaço - e eu deveria ficar magoado com isso?
               Deixem-me aprender com esse malfadado macaco alguma coisa a mais do que já sei: apertar botões. Puxar alavancas. Subir quase até ao infinito. Contemplar das alturas a pequenez da Terra.
               Como isto não fez nenhum mal ao macaco, não fará mal também para mim. Ele sentiu-se animalescamente feliz.  Pois foi pescado são e salvo no Oceano Atlântico. E em agradecimento, dizem-me os jornais, apertou as mãos do pessoal da gloriosa Marinha Américana que o resgatou do mar!...

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