sexta-feira, 31 de outubro de 2014
"...e por falar em macacos..."
Folheando um caderno de recortes de jornais antigos, encontrei um que noticiava terem os americanos colocado um macaco no espaço... E, sem dar-me por isso, comecei a matutar com os dois botões de minha cueca samba-canção:
- Qual a finalidade de um macaco no espaço? O que o pobre animal iria fazer nas alturas a que os gringos o enviaram?
Diziam ainda os malfadados recortes que o macaco voou (?) pelo espaço a uma velocidade fabulosa, apertando botões, puxando alavancas, e comendo pílulas com sabor de banana. E o mais impressionante: o danado do bicho enviava sinais para a Terra com regularidade impecável, tal como fora ensinado pelos treinadores.
Tenho a certeza de que o macaco não se queixou nem do clima nem da fome lá nas alturas. E muito menos sentiu-se culpado por ser obrigado a essa viagem esquisita e inesperada para ele. Pelo menos os jornais, o rádio e a televisão nada disseram de que ele tenha ou não se sentido culpado de alguma coisa, a não ser pelo furto de uma outra banana, ali na quitanda do português, quando ainda em terra.
E por que cargas d'água um macaco se sentiria culpado por voar pelo espaço a fora, apertando botões, puxando alavancas e comendo pílulas com sabor de banana?
Diz ainda o noticiário que ele não foi tampouco importunado por nenhum problema metafísico ou teológico que por acaso lhe tivesse atacado o espírito, enquanto passeava pela imensidão do espaço sideral...
Aliás, eu acrescento, para os desavisados, que o aventureiro viajor astronauta também nunca teve sentimentos de culpa, mesmo quando fazia suas travessuras na Terra. Quem dera que nós humanos também nunca tivéssemos que purgar eventuais complexos de culpabilidade!
E, se algum dia, por alguma travessura do destino, eu ou Você tivéssemos a ventura (ou a desgraça) de subirmos ao espaço, não nos sentiremos culpados de nada. Mesmo que chegasse à Lua ou a Marte, nunca me sentirei com qualquer culpa. Talvez um pouco em Marte, em virtude de seu nome, que poderia levar-me a querer explodir o mundo mas, trá-lá-lá! Deixemos de pensamentos fúnebres, pois a vida é bela!
Mas, que coisa! Lá vem de novo o tal pensamento: se eu tivesse a veleidade de tentar explodir o mundo, teria realmente alguma culpa no cartório? Deveria confessar-me com o vigário?
Tudo isto de que venho falando aconteceu no dia em que fiz 78 anos de idade. Apertar botões, puxar alavancas, engolir pílulas com sabor de banana... Vamos ser razoáveis: a Civilização Moderna se dignou agraciar meu aniversário com este feito maravilhoso: botar um macaco no espaço! E eu deveria ficar magoado com isso?
Deixem-me aprender alguma coisa a mais em minha vida com esse malfadado animal: ele apertou botões. Puxou alavancas. Alimentou-se à base de frutas. Foi atirado demasiadamente longe, lá pelos espaços siderais. E não reclamou de nada. Macaco feliz!
Não faz mal. Ele sentiu-se animalescamente feliz, repito. Foi pescado são e salvo pelos americanos, ali no Oceano Atlântico.
E o noticiário do jornal me informa que o macaco, em agradecimento, apertou as mãos do pessoal da gloriosa Marinha Americana que o resgatou do mar.
Sim, é verdade, ele apertou as mãos dos americanos! Esta não é a melhor parte da história?
terça-feira, 28 de outubro de 2014
O SILÊNCIO DE DEUS
"...Deus, meu Deus, por que me abandonaste?"
"...e Deus não disse absolutamente nada!"
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Em certo sentido, homens e mulheres estão cercados por todos os lados pelo terrível e inexplicável silêncio de Deus.
"Ah! Se rompesses os céus e descesses até nós! As montanhas se desmanchariam diante de Ti." (Isaías 63,19).
Homem e mulher experimentam uma dificuldade quase insuperável no seu ansiado contato com Deus. Isto porque Deus, enquanto mistério indizível, não pode ser encontrado em nosso mundo; parece não poder entrar neste mundo com que temos de nos haver, pois que assim se tornaria o que Ele não é, a saber, uma realidade singular lado a lado com outra realidade que não Ele.
Entretanto, para quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, este silêncio e este alheamento de Deus é aparente. Tempos atrás, comentando sabiamente o clamor do então Papa Bento XVI sobre barbaridades ocorridas na segunda guerra mundial,, o rabino judeu Sami Goldftein disse que o massacre de Auschwitz, na Polônia, foi obra da liberdade e do livre arbítrio do homem, incondicionalmente respeitados por Deus. E explica que Deus nunca esteve ausente, mas presente sempre na grande corrente de pessoas bondosas inspiradas por Ele e que em todo o mundo acorreram sem demora para socorrer e ajudar os judeus perseguidos e necessitados.
Na verdade, para nós cristãos Deus nos fala sem cessar, nas páginas das Sagradas Escrituras, na beleza e esplendor da Natureza, no sorriso da infância despreocupada, nos acontecimentos bons do dia-a-dia.
Deus desceu sobre a Terra na pessoa de Jesus Cristo e se fez um de nós. E a presença de Deus entre nós não é apenas uma presença figurada como na Arca da Aliança. É uma presença tão difundida e tangível, que nos envolve por todos os lados, como também envolve o Mundo. Presença que se tornou concreta e palpável na Encarnação: Deus se fez carne na pessoa de Seu Filho, levantou Sua tenda entre nós, entrando na História humana para dela não mais sair.
Para nós, a vida histórica de Jesus é a revelação mais plena do Deus cristão, um Deus que se manifesta a nós e nós O acolhemos pela mediação de Jesus de Nazaré. Em Jesus, Deus Pai Se interessou de tal modo por nós que quis participar intimamente do nosso destino, e assim tornar-se o Deus próximo e familiar, o "Deus conosco", o "Emanuel" que conhecemos pelos Evangelhos.
Não há silêncio de Deus. Nós é que sufocamos os apelos divinos com os nossos barulhos inúteis. Não há silêncio de Deus, e sim incapacidade humana para captar imediata e claramente a Sua voz. Voz que insiste, apesar de tudo, e que é experimentada quando alguém a recebe como dom pessoal e gratuito. Deus não Se mostra ou Se revela de modo arbitrário, mesquinho ou favoritista: revela-Se a todos e desde sempre na generosidade irrestrita do Seu amor gratuito e incondicional.
Cumpre-nos então viver lado a lado com Ele, que não é um Deus distante e escondido por detrás das nuvens. Eis aí Sua casa no meio de nossas cidades, no meio de nós. É como um vizinho e amigo que mora em nossa vizinhança, em nosso bairro. É o grande companheiro, o camarada no sofrimento, o anti-mal por excelência, que ilumina o assombro do nosso existir e alimenta em nós a confiança mais radical na aventura da vida.
É verdade que nas páginas da Bíblia Sagrada, começando por Jó: - "Pereça o dia em que nasci, que sobre ele não brilhe a luz" - continuada pela voz pungente do salmista - "Por que, Senhor, Tu me rejeitas, por que me escondes Teu rosto?" - Assumido dramaticamente por Jeremias nas suas "Lamentações": -"Clamar ou gritar nada vale. Ele está surdo à minha prece" - até culminar no angustiado grito de Jesus de Nazaré na cruz, este gemido secular perpassa por toda a Bíblia, num clamor contínuo e sem resposta:
- "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Clamo de dia, e não respondes, grito de noite e não encontro repouso". (salmo 22).
Nos Evangelhos a tradição existencial do silêncio de Deus aparece de forma muito implícita em dois momentos muito importantes da vida de Jesus de Nazaré: no horto das oliveiras e na cruz.
Já em nossos tempos, visitando o campo de concentração de Auschwitz, onde milhão e meio de judeus foram mortos pelos nazistas, o Papa Bento XVI deixou-se levar pela emoção e lançou também ao mundo este brado que surpreendeu e comoveu a todos nós:
- "Por que, ó Senhor Deus, o Senhor permaneceu em silêncio? Como pôde tolerar tudo isso? Onde estava Deus naqueles dias? Por que ficou Ele em silêncio? Como pôde permitir esse massacre sem fim, essa vitória do mal?"
E eu, parodiando a pungente pergunta do judeu-alemão Hans Jones da Europa do pós-guerra:
-"Onde está Deus? Onde está Deus quando nos acontece uma desgraça ou nos sentimos mortalmente infelizes? Como se situa Ele em nossa vida e em nossa História, carregadas de violências e de crimes inomináveis?"
Deixo aqui estes questionamentos para nossa reflexão, na busca de uma resposta o mais possível satisfatória e que nos convença definitivamente de que, nas palavras da menina judia Anne Frank: - "Deus nunca nos abandonará!"
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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado de Português e Francês do Quadro Próprio do Magistério Paranaense e Bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.
sábado, 25 de outubro de 2014
SAUDADES DA RAQUEL
Se minha filha Raquel fosse ainda viva, estaria completando quarenta e sete anos de idade. Não podemos festejar seu aniversário natalício, apenas chorar, desconsolados, a sua ausência física dentre nós. A morte inexorável a levou para a Casa do Pai/Mãe de todos os pais e mães que ainda peregrinam pelos caminhos deste mundo.
Ela se separou fisicamente de nós, mas passou a viver mais intensamente do que nunca com sua filha Isabela, com seus irmãos Carlos e Aroldo Júnior, e com seus chorosos pais, após sua morte no Hospital Erasto Gaertner de Curitiba, vitimada por insidioso câncer.
Numa união misteriosa e singular no Espírito Santo, comunicada às coisas que deixou e aos acontecimentos do dia-a-dia que viveu conosco por tão curto tempo, a verdade é que ela partiu para a Casa do Pai de todos os pais na eternidade, mas continua a viver conosco pela dor sem remédio da saudade.
Sua morte faz com que a revivamos nos objetos em que tocou, nas vestes que deixou e que nós conservamos com carinho, na lembrança das palavras que com ela trocávamos, nos fatos alegres ou tristes que juntos vivemos, e agora até mesmo nos fatos que se seguiram à sua partida, e que nós lhe comunicamos na prece, e com ela conversamos como se estivesse ainda viva em nosso hoje solitário lar.
A morte, destino inexorável de todos os agora ainda viventes, a levou, mas a devolveu de novo a nós, banhada pela luz da eternidade e pela gloriosa certeza de sua ressurreição NA morte, que é a Fé que anima e conforta seus pais, seus irmãos e sua filha Isabela, e que nos mantém ainda vivos para que cultuemos sua memória.
Continuando viva entre nós, por essa humilde, invisível e misteriosa presença de cada dia, de cada hora, de cada momento, com que impregnamos de esperança a nossa saudade, como também a jubilosa alegria de que ela, na Casa do Pai, na eternidade, passou a velar por nós, agora na plenitude de sua vida com Deus.
Nesta certeza, nós a temos sempre a nosso lado, em nossa vida de cada dia, velando por sua filha Isabela, por seus irmãos, por seus chorosos pais.
Presença permanente nos trabalhos do dia-a-dia, no silêncio e na solidão das noites, enxugando-nos as lágrimas da saudade imorredoura.
Minha Filha Raquel, que te partiste
tão cedo desta vida, descontente:
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na Terra, sempre triste.
Se lá no assento etéreo aonde subiste
lembrança desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que nestes olhos meus tu sempre viste.
E se vires que pode merecer-te
alguma coisa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão logo daqui me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou!
Teu pai.
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quarta-feira, 22 de outubro de 2014
APARENTE SOLIDÃO
Como podes, árvore solitária,
Dar folhas tão suaves
e flores
tão alegres e tão belas?
Ou vais dizer-me
que te bastas
e não precisas
de um amigo,
de um irmão?
A explicação talvez esteja
em que é aparente
tua solidão:
deitas fundas raízes na terra
envolve-te o ar
visitam-te os passarinhos
dás sombra aos peregrinos
contemplas o grande Céu
e sentes
a cada instante,
sobre ti,
o olhar de Deus
Benévolo leitor:
Você já reparou que, às vezes, a gente - eu ou Você - assobia ou canta para ter a impressão de companhia?...
E nessas ocasiões, eu rezo:
É terrível, Senhor, a impressão de solidão.
Eu Te peço:
Encorajai os que guardam a impressão de que estão sós.
Encorajai os que guardam a impressão de que estão sobrando.
Que já não dão nada. Não fazem nada. Só servem para atrapalhar.
Encorajai, Senhor, gente moça que está descobrindo razão para viver.
Gente moça que não está mais aceitando um Mundo que só pensa em dinheiro,
que o dinheiro resolve tudo.
Gente moça que não tolera injustiça e está se convencendo
de que é sonho, puro sonho,
um Mundo sem opressores e sem oprimidos.
Gente moça, mas velha por dentro, e que vive na indiferença,
no cinismo, chegando, por vezes, ao inferno e ao aniquilamento das drogas.
Encorajai, Senhor, os casais que, morando na mesma casa,
não se encontram nunca:
linhas paralelas, próximas, mas sem possibilidade de encontro.
Sabes, Pai,
como a tendência é cada um jogar a culpa sobre o outro?
(Talvez nem seja o caso de falar em culpa. O que quase sempre houve e há
é a falta de cuidado de alimentar o amor, fazê-lo crescer ou, ao menos,
não deixá-lo murchar!...
Como é triste - e Tu sabes muito bem - quão comum é esposo e esposa
se sentirem sós, apesar de viverem juntos!...
É terrível a impressão de solidão
sobretudo quando se trata de pessoas que têm como missão
semear Esperança, Amor, semear a Paz.
Sei que há pessoas - como eu - que não podem perder a Esperança.
Se a Esperança se apagar dentro de mim e delas,
que será de meus filhos, se não encontrarem a Esperança que buscam,
que querem beber Esperança na fonte que não deve secar?
Ora, Pai de todos os pais:
Tu sabes como ninguém que minhas pobres fontes secam,
se esgotam com a maior facilidade.
Só mesmo apelando para as fontes de água viva
- de que falou Vosso Filho e meu Irmão, Jesus Cristo.
É somente por Ele que não secam as minhas fontes
É por elas - e muitíssimo mais por Ti -
que elas não secam!
Continuam sempre fontes perenes
e delas jorram
as águas de Vida Eterna
para quantos delas se dessedentam!
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
AINDA HÁ LUGAR PARA DEUS NESTE MUNDO?!
O homem e a mulher modernos têm repugnância à idéia de um Deus tirano, barbudo, vestido com uma ampla túnica branca, sentado sobre as nuvens, com carranca de tempestade, só espreitando o formigueiro humano lá em baixo: aguardando o momento de apanhar o pobre ser humano em alguma falta, fruto de sua fraqueza congênita e registrar o pecadilho em sua folha-corrida para o julgamento futuro...
Na verdade, nossa era técnica e demitificada não aceita mais, com facilidade, as idéias de certo divinismo pueril, herdado da Idade Média. O homem e a mulher modernos estão de tal modo profundamente cunhados pela exatidão científica, que até se sentem chocados com certas expressões bíblicas, que nos falam de um Deus que "ruge, se encoleriza, se arrepende", e tem ímpetos de atirar a todos nós para o nada, de onde nos houvera tirado. Sobretudo, quando nossos antropomorfismos não forem usados com muita prudência.
Os progressos e descobertas científicas mostram ao homem e à mulher que não devem mais buscar o mistério atrás e acima das nuvens, além do mundo, mas neste próprio mundo. Dizem que Deus está no homem e na mulher, e que age no mundo através deles.
Devo aceitar então que homem e mulher modernos sejam menos religiosos do que homem e mulher de outros tempos?
Creio que não se poderá dizer isso, porque temos hoje uma outra idéia de Deus, uma idéia, talvez, mais purificada. Não posso aceitar que Deus seja um pedaço do mundo, um Deus objeto das ciências, ao lado de uma infinidade de outros objetos. Este Deus, para mim, seria um Deus muito pobre e perfeitamente descartável.
A Ciência poderá estudar a transformar a Terra, mas o Mundo sempre permanecerá Mundo, um Mundo bem outro que Deus mesmo. Deus também não é, para mim, a continuação homogênea do espaço no universo. Se não consigo descobrir Deus no mundo, isto ainda não significa que eu deva demonstrar o ateísmo. Isto é apenas a experiência negativa de Deus.
Sei perfeitamente que no fim do século XVIII e início do século XIX, realmente houve um ateísmo teórico e prático, tão ingênuo e superficial, que cria poder provar cientificamente a não-existência de Deus.
Mas sei também que nossa experiência moderna apenas nos diz que não devemos esculpir Deus na matéria deste mundo. E isto não é a mesma coisa que ateísmo e muito menos antiteísmo.
Que idéia tenho eu de Deus?
A vida e o estudo me ensinaram que Deus sempre é maior e incompreensível. Deus é simplesmente aquele que é!
E Deus não se deixará jamais prender-se no sistema de coordenadas científicas, pois é um ser transcendente. Por isso não podemos defini-Lo. A transcendência de Deus não significa distância infinita. Ele está próximo de nós, em nosso meio. Ele é, contudo, diferente de nós, tão diferente de nós que apenas sabemos soletrar poucas coisas sobre Ele. E apesar disso, também nesta nossa era técnica, mais vale sabermos soletrar um pouco de Deus, do que falar com sabedoria das coisas dos homens.
Não sei o por que dessa mania de só falar de Deus, à margem dos acontecimentos... Não é Ele o coração de nossa vida?
De outro lado, a nossa idéia de Deus não deverá ser a de um tapa-buraco para ocultar ou completar as fraquezas humanas, uma solução aparente quando não um narcótico a nos ocultar aqueles problemas que nós mesmos não conseguimos resolver.
Deus não é um explorador covarde, que só se manifesta na limitação humana da velhice, da doença, etc. Ele está e sempre esteve conosco na infância, na juventude, na idade adulta, como também na velhice.
Deus está presente em meio à nossa vida concreta de todos os dias, de maneira transcendental. Não há nenhuma necessidade de construirmos espaços abstratos e imaginários para a ação divina. Basta penetrarmos o mundo até a sua última profundidade, com os olhos da Fé, para lá mesmo encontrarmos Deus.
Quando tempos atrás o astronauta russo declarou não ter visto Deus lá em cima, talvez no íntimo alimentou o receio infantil de encontrar Deus no espaço sideral. Essa seria uma idéia mítica de Deus.
É verdade que o homem técnico desmitologizou a Natureza, mas não a "ateizou". Como o salmista bíblico, também o homem e a mulher, modernos e de boa vontade, no fundo mais profundo do coração, não cessam de clamar:
- "Senhor, estou à Tua espera. Minha alma tem sede de Ti. Minha carne Te deseja como terra seca e sem água".
sábado, 11 de outubro de 2014
CORAÇÕES AO ALTO!
Durante a Santa Missa há um momento em que o oficiante faz aos presentes um apelo sugestivo:
-"Corações ao alto!"
São, realmente, palavras agradáveis de ouvir. Convidam-nos a que experimentemos ajudar corações a elevar-se, até ao trono de Deus.
Há corações cheios de travo, de revolta, de ódio. Ora, tudo isto pesa terrivelmente... Como a inveja nos é pesada! Como pesam o orgulho, a soberba e a vaidade...
Pesa também, e de modo horrível, o coração que perdeu a razão de bater. Dependesse só dele, e já teria parado. E aqui me lembro de meu filho Júlio que, perdendo a alegria de viver, praticou o tremendo ato de terminar com a própria vida!... Que Deus use com ele de misericórdia e o tenha na Sua paz!
O coração avaro se afoga, de tal modo, nos cuidados com o dinheiro, com lucros, sempre maiores a obter, com economias a realizar, que um terrível emaranhado o prende, a ponto de lhe ser impossível arrancar-se para o alto.
Há corações que sobem a dois, ajudando-se e estimulando-se mutuamente.
Há também corações tão vazios, tão sem amor, que flutuam como pena ao vento: não chegam a subir, porque qualquer sopro os arrasta para longe...
Você, benévolo leitor, já notou um apagador de quadro negro, na escola, que de tanto apagar o quadro cheio de garatujas, fica impressionantemente seco?... Há corações assim...
Há corações que viraram uma pedra de gelo; outros, simplesmente uma pedra; outros se tornaram metálicos, de tanto lidar com dinheiro...
E quanto a nós, Você e eu? Nossos corações se elevam facilmente? E os corações em volta de nós, na família e na sociedade?
Importante é saber como dar asas aos corações, ajudando-os a elevar-se, com mais facilidade e rapidez.
A oração, a prece diária, vinda de dentro da alma, alivia o coração, torna-o de certa maneira como que alado, semelhante a um pássaro...
Gestos de autêntico amor ao próximo, feitos como o Evangelho nos ensina - sem que ninguém saiba, nem a mão esquerda o que fez a direita - tornam nosso coração um pássaro de asas velozes e firmes.
Portanto: corações ao alto!
Cada vez que dissermos ou escutarmos estas palavras, lembremo-nos daqueles que andam de corações na fossa, sem ânimo, sem esperanças, sem razão de viver.
Corações ao alto! Que esta expressão seja, em nossos lábios, uma prece para que todos os corações de todas as criaturas se ergam, se elevem para Deus, nosso Criador e Pai!
Que a Senhora Aparecida - padroeira do Brasil - cuja festa litúrgica celebraremos amanhã,
nos ajude a seguir o exemplo que Ela nos deu, fazendo-nos conscientes de que ouvir a Palavra de Deus e a colocar em prática por toda a nossa vida terrena, é a missão primordial que Deus Nosso Senhor exige e espera de todos nós!
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
QUANDO O PRÓXIMO SE TORNA PRÓXIMO
Você já reparou na palavra usada pelo Senhor Jesus quando nos manda amar os outros? Ele diz: "Amar o próximo". Este me parece ser o problema.
Até que não é difícil comover-nos ouvindo falar em uma calamidade que atinge um país distante, e que deixa desabrigados e com fome milhares de famílias. Não é difícil comover-nos e até mesmo enviar alguma ajuda, mesmo com algum sacrifício.
O difícil, o duro, é amar quem está próximo, quem mora conosco, quem é nosso vizinho, quem trabalha conosco ou pertence à nossa comunidade. O difícil e duro não é amar o distante; é amar o próximo. Daí, leia lá e medite estes meus versos:
Quando o Próximo
realmente se torna próximo
e nós o vemos,
e ouvimos
fazendo nossos
os sofrimentos dele
e alegrando-nos de verdade
com suas alegrias
quando Vizinho
não é palavra vazia
tem nome
tem feições
tem história
quando toda e qualquer pessoa
é Alguém para nós
nossa Religião
está saindo das nuvens
está se Encarnando...
Há quem não queira conhecer os vizinhos para não ter trabalho: e, no entanto, não é só uma das mãos que lava a outra; mas como responder ao Pai de todos os pais, quando Ele nos perguntar onde está nosso Vizinho, que é nosso Irmão!?...
Mais grave ainda é inimizade, ou mera convivência pacífica, ou guerra fria, ou mesmo ódio, dentro da própria casa... Aí é que cabe a palavra do Senhor Jesus que nós cantamos, através de música inesquecível:
Vai primeiro reconciliar-te com teu Irmão
e depois, e depois vem fazer a Deus a tua oração!
Será que dentro da sua casa todos são próximos, isto é, vivem perto uns dos outros, perto física e efetivamente? Ou em sua casa, a seu lado, moram Estranhos, Ausentes, Distantes?...
Aceite um conselho meu, irmão mais velho que com certeza sou:
Experimente rodar a pé em volta da casa em que mora. Muitas vezes, a poucos metros de onde moramos, há sofrimentos terríveis, pobreza, miséria, fome, angústia, desespero, à nossa espera...
Será que nossa religião é viva? Será que vivemos um Cristianismo autêntico?
É preciso que transformemos nosso próximo em Próximo... Que tentemos aproximar-nos de nossos vizinhos... E que nenhum de nós passe pela vida como sombra vaga. como anônimo.
Que cada um e cada uma que cruzam nosso caminho seja para nós Alguém, Irmão, Irmã, todos filhos do mesmo Pai de todos os pais!
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