quinta-feira, 12 de março de 2015
QUE MUNDO É ESTE?
Eis uma grande verdade:
Cristo conquistou realmente o mundo e este, de fato, Lhe pertence, e a Ele somente. No entanto, não se pode negar que esta verdade seja comumente rejeitada por um mundo em que homens e mulheres O ignoram e não compreendem Sua realeza. A sociedade não pode ser inteiramente entregue às forças do mal. Contudo, não quer isso dizer tampouco que devemos esperar o triunfo eventual de nossa pequena e autocomplacente idéia cheia de preconceitos sobre a Civitas Christiana (Civilização Cristã). Certamente não, se isto supõe qualquer espécie de fascismo clerical!
Por outro lado, existe a tentação de um falso otimismo cristão, o otimismo fácil que apresentamos, em contraste com o culto laicista e moderno do problema "Religião".
O Cristianismo é acusado por muitos - principalmente pelo marxismo - de haver alienado homens e mulheres, de deixá-los em condição miserável. Enquanto pretendem salvá-los, deixa-os inteiramente perdidos, alienados até de si próprios, divididos contra si mesmos, vazios, ocos, tristes, enquanto esperam ser acalentados nos braços grandes e cordiais do Estado totalitário.
Para refutar este fenômeno a qualquer preço, procuramos livrar-nos de tudo que se assemelha a angústia e noite escura.
E escutamos vozes:
- Façam o que fizerem, não se mostrem tristes, principalmente se houver um fascista no auditório.
- Não se fale em coisas deprimentes. Não se queira sugerir que há algo errado. Não se refira nunca ao Juízo Final! Sejamos felizes, felizes, felizes!
- Não estamos nem podemos estar doentes!
- Vinde, irmãos, alegria, vitória. Aleluia!
Esta é a exortação que os otimistas, de plantão, espalham por todos os meios ao seu dispor.
Mas isto será suficiente para retirar nossa sociedade, hedonista e vazia, do marasmo em que se afundou?!
Neste ponto eu me lembro de algumas linhas de Thomas Merton, monge cisterciense norte-americano, que considero um dos mais extraordinários pensadores religiosos dos nossos tempos:
- "O Cristianismo e o mundo. Eis um assunto sobre o qual subitamente é preciso ter uma resposta aprovada. Não possuo nenhuma. A resposta cristã tradicional certamente não é a "aprovada" nos dias de hoje. Está sendo tranquila e discretamente esquecida por grande parte da Cristandade. Conheço um poeta famoso que simplesmente a mandou para o diabo".
Concordo plenamente com Merton, e ainda acrescento:
Nossa sociedade ocidental e "cristã" confessa-se feliz porque possui as novelas da televisão, e porque bebe tranquilamente Coca-cola... Sem esquecer as máscaras frívolas com que oculta sua insensibilidade, sensualidade, hipocrisia, e crueldade, no seu dia-a-dia...
É isso o mundo? Sim. É o mesmo mundo em qualquer lugar em que existam homem e mulher massificados pela propaganda. Esse padrão básico da nossa sociedade é idêntico nos EUA, na URSS, na França, na Alemanha, na Inglaterra, no Brasil.
Os materiais e as aparências diferem, e em alguns lugares sejam talvez um pouco mais sofisticados. É, no entanto, o mesmo terno, o mesmo par de calças "pré-fabricadas", o mesmo cretinismo espiritual que torna, em realidade, impossível distinguir os cristãos dos ateus.
E voltando ao trapista cisterciense que admiro, Thomas Merton:
- "Como se, por exemplo, "deixar o mundo" estivesse adequadamente resumido naquelas fotografias das
revistas semanais de um "trapista" com a cabeça coberta pelo capuz, as costas para o aparelho fotográfico, contemplando seraficamente as águas de um lago..."
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Por tanto falar em mundo neste meu malfadado texto, me deu um "estalo" na cabeça, e eu me lembrei do meu Poeta preferido, Luís Vaz de Camões:
Foi já num tempo doce coisa amar
enquanto me enganava a Esperança,
e o coração, com muita confiança,
todo se desfazia em desejar.
Oh! vão, caduco e débil esperar!
Como se desengana na mudança!
Quanto é maior a bem-aventurança,
Tanto menos se crê que há de durar.
Quem já se viu contente e afortunado,
Vendo-se em breve tempo em pena tanta,
Razão tem de viver bem magoado.
Porém, quem tem o mundo exprimentado,
Não o magoa a dor, nem o espanta,
Que mal se estranhará o costumado...
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(Et sic transit gloria mundi = e assim se esvai a glória do mundo!)
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