Aproximando-nos das festas pascais, em que celebramos o clímax do mistério de nossa Salvação, trazida a nós pela paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, fica bem meditarmos brevemente sobre alguns aspectos dessa obra redentora, rememorada no Santo Sacrifício da Missa, principalmente na celebração dominical.
No Mistério Eucarístico cada uma das Pessoas da Trindade - Pai, Filho, Espírito - desempenha um papel específico. O papel do Pai é realçado pelo fato de que todas as anáforas são dirigidas a Ele, segundo o esquema clássico "a Patre per Filium, in Spiritu Sancto."
A Oração Eucarística proclama que o Pai é fonte e origem da ação salvífica e de todas as ações das demais pessoas da Trindade, assim como o termo de toda ação salvífica. É por esse motivo que a Ele são dirigidos todos os louvores e ações de graças pelos benefícios passados e presentes da Redenção, e a Ele a liturgia formula todas as suas petições.
O papel do Filho, Jesus Cristo, manifesta-se ao longo de toda a celebração eucarística, que destaca Sua função de mediador, isto é, a Sua capacidade de nos reunir e de oferecer por nós e conosco o sacrifício agradável ao Pai.
Esta função mediadora aparece especialmente na "anámnesis" (= recordação) que, no rigor teológico, não é apenas uma recordação, mas a atualização da obra redentora, tornada presente mediante as palavras e gestos que Ele mesmo estabeleceu e, agora, são realizados como ato pessoal dEle, "in persona Christi", pelo sacerdote oficiante. O que não significa, contudo, tornar supérflua a ação do Pai e do Espírito Santo, concomitantemente.
Não se vê nenhuma contraposição nem concorrência entre as Pessoas Divinas: trata-se de uma ação trinitária e com esse caráter se apresenta a ação de cada uma das Pessoas.
As ações do Filho, nos gestos e palavras da consagração que o sacerdote realiza em Seu nome. são partes da celebração - e nela se inserem - provenientes do Pai e realizadas no Espírito Santo e, nesse aspecto, implicando nela toda a assembléia dos fiéis.
Já o papel do Espírito Santo é realçado na oração sobre as oferendas e sobre a Igreja., não deixando dúvidas de que tanto a consagração do pão e do vinho, na sua eficácia salvífica - quando
recebidos pelos que comungam - são obra do Espírito.
Como esta oração litúrgica antecede de séculos a reflexão teológica posterior, limita-se a celebrar a Fé professada pela Igreja, sem fazer perguntas sobre "quandos, porquês e para quês".
Não existe na oração litúrgica intenção de responder à questão sobre em que momento e com que palavras se realiza a conversão eucarística do pão e do vinho.
A Igreja sabe que essa conversão se realiza, e que nela intervêm o Pai, o Filho e o Espírito Santo, considerando isso suficiente para celebrar o Mistério Pascal, explicitando em um momento a ação do Pai, em outro a do Filho e em outro a do Espírito Santo.
A Eucaristia deve ser vista como um único grande movimento, em que o Pai é a fonte e o fim, o Filho é o realizador central da Salvação, e o Espírito Santo é a culminação da Salvação operada pelo Filho. Assim, a Eucaristia se encontra no centro do mistério cristão, pascal e trinitário.
Tal procedimento explica-se pela forte inspiração bíblica e, mais concretamente, "neotestamentária", das primeiras celebrações cristãs, mostrando que o Deus da Escritura não é o Deus dos filósofos nem o Deus da sinagoga, mas um Deus especificamente cristão, revelando-Se como Trindade de Pessoas; Pessoas que, como tais, atuam na História da Salvação, e nos mostram o caminho pelo qual Deus vem até nós e nós vamos a Ele.
Assim, ser cristão é não somente crer em um único Deus, mas abrir-se ao Deus Uno e Trino, que quis aproximar-se de nós para nos reconciliar com Ele, e nos introduzir na comunhão de Sua vida intratrinitária.
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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.
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