domingo, 11 de novembro de 2012

A FELICIDADE, OU: MANEIRAS DE SER FELIZ



      Por que não podemos contentar-nos com uma felicidade comum, secreta, pessoal, que não precisa ser explicada ou justificada? Sentimo-nos culpados se não somos felizes de algum modo publicamente aprovado, se não imaginamos estar conseguindo um padrão de felicidade reconhecido por todos.
      Deus, em Sua liberalidade, nos concede o dom e a capacidade de realizar nossa própria felicidade dentro da situação que nos é própria, aquela em que vivemos. E não é difícil ser feliz, pela simples aceitação do que está ao nosso alcance e disso aproveitando como nos seja possível. Mas, se assim fazemos, e tenho consciência de que eu o faço, ainda nos perguntamos se não haverá aí algo de errado.
      Estaremos conseguindo alguma coisa que os outros não podem ter (uma felicidade privada e pessoal!)? Evidentemente, minha eventual felicidade não é a de outro - enquanto eu não a partilho  - e se a partilho, eu me torno mais feliz do que antes.
      Ou então seria o caso de perguntarmos a nós mesmos se falhamos na tentariva de encontrar um nível geral único e autêntico. Por exemplo: pode uma felicidade que é absolutamente gratuita, que não custa nada, nunca foi colocada num anúncio de TV, ser uma felicidade genuína? Ora, a reflexão e o bom senso nos revelam que esta é a única felicidade realmente genuína!
      Está tudo ali, ao nosso lado, plenamente disponível; no entanto, ficamos um pouco preocupados como sse não fosse algo permitido. Como se não pudéssemos ser felizes sem que isso seja antes aprovado pela Globo, pelo SBT ou pelo "Estadão". Entretanto, esta verdade, entre todas as outras coisas, é precisamente aquilo para que não é preciso ter uma permissão da mídia, da opinião pública, ou do que quer que seja.
      Enquanto me cortavam o cabelo, esta manhã, da cadeira do cabeleireiro eu observava os operários, homens e mulheres, de uma fábrica à frente, que chegavam prontos para o trabalho.  Alguns me pareciam cansados dessa rotina diária, outros com ares de muita eficiência, a maioria bem feliz.
      Confesso que fiquei comovido ao vê-los e pensar que tantas vezes servimos de obstáculo a nós mesmos, ao tentarmos carregar tanta bagagem inútil em nossa vida que julgamos  necessitar de grandes reformas (espirituais?) no dia a dia.
      E como seria difícil ajudá-los sem acrescentar inconscientemente muito mais bagagem ínútil ao peso que já carregam, em vez de aliviá-los de seus fardos (que é o que eu, que me confesso cristão, deveria tentar fazê-lo!).
      Ao voltar para casa, assaltou-me o pensamento de que, ao menos, poderei amá-los em simplicidade, como nos ensinam os textos evangélicos, e assim preservar o clima em que o Espírito Santo desata e carrega as minhas próprias cargas impossíveis e inúteis para a Vida Eterna!

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      È possível ser feliz, tendo de levar por toda a vida a carga enorme de uma bronquite crônica que, de tempos em tempos me ataca com toda força, nas suas crises periódicas? E à medida que a gente vai envelhecendo, essas crises se tornam sempre mais frequentes e sempre com maior intensidade?
      Pois já há uns dez dias que venho passando por uma dessas crises, que só melhoram, por umas cinco ou seis horas, após uma inalação de Berotec com Atrovent.
      Durante o dia tais crises não incomodam muito. À noite, porém, elas atacam para valer, principalmente das duas da madrugada em diante, com uma falta de ar pavorosa, que muitas vezes me faz até a pensar em morte; o ar falta de tal maneira, que eu fico de boca aberta, tentando como que apanhar o ar com a boca, tal o sufoco que me aperta o peito.
      Estou saindo agora para consulta com um pneumatologista, e minha esperança é que ele me consiga uma maneira de evitar a repetição frequente dessas crises e, pelo menos, me indicar meios mais apropriados para combatê-las. As  inalações não podem ser feitas a todo momento, e a milagrosa "bombinha", se for usada a todo momento, acabará perdendo o seu efeito, e daí, o que fazer numa dessas violentas crises de falta de ar?

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      Estive no pneumatologista em companhia do Nor, que diz ter gostado do médico, que interrogou bastante, me examinou com cuidado, e acabou dizendo que até prova em contrário ainda não estou enfisematoso... Como se isso fosse um consolo para mim. Pediu uma bateria de exames, e a partir de amanhã começarei a fazê-los. Não gostou das minhas "bombinhas", dizendo que elas resolvem o problema apenas de passagem, nas crises, mas não possuem nenhum efeito curativo.  Receitou-me um medicamento novo que, diz ele, está tendo muito êxito no tratamento da DPOC, que é a minha companheira à noite, principalmente nas madrugadas. Amanhã de manhã começarei a usá-lo, na esperança de que "desta vez, vai..."

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      Fiz uso, hoje de manhã, do novo medicamento receitado pelo pneumologista. É um conjunto de módulos meio complicado, através do qual o medicamento é enviado aos pulmões. O resultado não me pareceu satisfatório, talvez porque não tenha entendido direito o mecanismo da coisa. Não quis repetir a operação com receio de uma superdosagem, e deixei para a noite a correção do que me pareceu errado na primeira vez.
      À tarde estarei de novo na clínica para um teste de função pulmonar.

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      Pois é: estive na clínica de pneumatologia fazendo o tal exame de função pulmonar. Quem me aplicou o teste foi uma mulher, não sei se médica ou apenas técnica. Mas tive pena dela porque, estando grávida, talvez já no final da gravidez, ela mal cabia na poltrona, e demonstrava claramente o seu mal estar com a situação.
     Enfiou-me um tubo plástico na boca, que a fez chegar até às orelhas, tão grosso era o tal canudo. O pior é ela me mandava assoprar, assoprar, "Assopre, mais forte, mais forte!" - e eu ali assoprando, e não conseguindo assoprar como ela queria. Depois de muito esforço, consegui chegar ao ponto ao ponto desejado, e isso para mim foi um desastre: ela parece ter gostado do meu sopro e pediu-me continuar soprando enquanto tivesse fôlego. A cada sopro que eu dava, ela exclamava, contente: "Jóia! Jóia!"
     Para desanuviar o ambiente, depois de ela repetir "jóia", várias vezes, eu resolvi entrar na brincadeira, e exclamei: "Mas, onde vou colocar tanta jóia? No meu bolso elas não cabem!...
      E ela emendou: -"Pior seria se o senhor tivesse muitos bolsos e nenhuma jóia para colocar neles!"
      Confesso que por essa eu não esperava... Tive vontade de dar-lhe uma resposta meio gaiata, já ensaiada, mas desisti, respeitando seu adiantado estado de gravidez. Saí da sala, com a certeza de que minha crise de bronquite está sendo mais "produtiva" do que os prognósticos médicos...

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      Dia 14, 18 horas:- A "turma" desce para o litoral, e eu fico em casa cuidando do cachorro... ou melhor, no último instante a Isabela resolve levar também o cachorro, e eu fico livre dessa... Agora posso dormir sossegado todo o fim de semana, até domingo, quando eles voltam.
       
       

     

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