SEMENTES DE VIDA ETERNA
O monge cisterciense norte-americano, Thomaz Merton, num de seus escritos diz que "na vida de qualquer homem, na terra, cada instante, cada acontecimento, semeia qualquer coisa na alma."
De fato, assim como o vento leva milhares de sementes aladas, visíveis e invisíveis, também o curso do tempo traz consigo germes de vitalidade espiritual que vêm misteriosamente pousar no espírito e na vontade de homens e de mulheres.
Muitas dessas sementes definham e perdem-se, porque homens e mulheres nem sempre estão preparados para recebê-las, e elas são sementes que só podem germinar no terreno fértil da liberdade e do desejo.
Não se deve esquecer que o espírito prisioneiro do seu próprio prazer, e a vontade que está cativa do seu próprio desejo, não podem acolher as sementes de um prazer mais elevado e de um desejo iluminado pelo sobrenatural.
Como podemos nós receber as sementes de liberdade, se estamos apaixonados pela escravidão, e como podemos amar o desejo de possuirmos a Deus, se nos encontramos cheios de um desejo diferente e contrário?
Deus jamais poderá semear em nós a Sua santidade, se nós nos encontramos prisioneiros, enleados em mil correntes de maus desejos, e delas não queremos ser libertados. Isto porque, infelizmente, amamos o nosso cativeiro, fechamo-nos no desejo de coisas que mais nos prendem, e endurecemos nosso coração diante do verdadeiro amor, que é o amor de Deus.
Se fosse Deus que procurássemos, cada acontecimento e cada instante de nossa vida depositaria em nossa alma sementes fecundas de Sua vida, que algum dia, infalivelmente, haveriam de germinar em prodigiosa e benfazeja colheita.
Não há dúvida de que isto seria assim, porque é o amor de Deus que nos aquece ao sol, é o amor de Deus que nos envia também a chuva que nos refrigera.
É o amor de Deus que nos alimenta quando a fome nos assalta. É o amor de Deus que nos manda os dias os dias de inverno, que muitas vezes nos deixam gelados e doentes, como também o causticante verão em que o trabalho se nos torna pesado, ensopando-nos a roupa com o suor, mas é sobretudo o amor de Deus que faz pairar sobre nosso corpo fatigado o vento leve das planícies e as suaves brisas dos bosques.
É o Seu amor que estende sobre nossas cabeças a sombra amiga das árvores quando trabalhamos no campo sob o calor causticante do sol, e de repente, à beira da lavoura um rapaz ou uma moça, com um balde de água fresca da fonte.
É o amor de Deus que nos alegra com o canto dos pássaros e no murmúrio do regato aqui perto, mas é também o amor de Deus que nos ajuda a acolher os Seus mandamentos, porque tudo em nosso viver são sementes até nós trazidas pela Sua vontade soberana.
Se em todas as realidades da vida considerarmos apenas o calor e o frio, o alimento ou a fome, a doença ou a saúde, a beleza ou o prazer, o êxito ou o fracasso, o bem ou o mal material, que as nossas obras produziram por nossa própria vontade, encontraremos apenas o vácuo, e não a felicidade que almejamos. Não estaremos alimentados, não estaremos saciados.
Isto porque nosso alimento é a vontade dAquele que nos criou, e criou ao mesmo tempo todas as coisas, a fim de Se entregar a nós por intermédio delas.
Aceitando toda e qualquer coisa que nos vem, dádiva de Seu amor, acolhemos Sua presença em nossa vida, não porque as coisas são o que deveriam ser, mas porque Deus é quem é, e o Seu amor, através das coisas criadas, quis fazer chegar até nós o dom precioso de Sua alegria, presente na criação.
Abramos nossa alma, façamos dela um terreno fértil e acolhedor, e as sementes sobrenaturais da Graça e do Amor de Deus frutificarão a cem por um, e quando chegar o tempo da ceifa, acolheremos o Divino Ceifador e a Ele entregaremos alegremente os frutos abundantes do nosso trabalho na vinha do Senhor, como nos diz o salmista.
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