A beleza e a grandeza do Antigo Testamento, no meu modesto entender, está começando a se tornar plenamente evidente em algumas ótimas teologias do Antigo Testamento escritas por especialistas protestantes, como Von Rad e outros. O universo do Antigo Testamento é um universo de louvor, do qual homem e mulher constituem parte viva e essencial, lado a lado com os coros angélicos no Céu.
Ora, para o cristão o louvor a Deus é a mais segura manifestação da verdadeira vida. A característica do Xeol, a região dos mortos segundo a Bíblia, é a ausência total de louvor. Os salmos, como eu os entendo, são a mais pura expressão da essência da vida neste nosso universo: Javé se faz presente quando os salmos são cantados com vigor triunfante e cheio de jubilosa alegria (e não apenas murmurados a meia voz e meditados individualmente na barba de cada um).
Essa presença e comunhão, esse vir a ser no ato de louvor é o cerne do culto no Antigo Testamento, como o é também hoje quando a comunidade se reúne no culto litúrgico. O louvor vivo é a plenitude do ser de homem e mulher em relação a Deus. Contudo, tem também uma dimensão histórica: fé no poder de Deus e em Suas grandes obras de misericórdia, assim como em Suas promessas torna a história presente àqueles que cantam como realidade e fato teológico.
A compreensão teológica desses grandes feitos do Senhor é sentida e experimentada em toda a sua beleza. O magnífico poder da radiosa presença do Senhor revelada em Seus feitos salvíficos toma inteiramente posse do adorador. Daí a qualidade arrebatadora dos salmos, quando a comunidade em peso ergue a voz vibrante na liturgia, cantando, jubilando, exultando...
Lembro-me muito bem do tempo em que cursava Teologia na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, e nosso coro era conduzido pelo Padre Talarico, maestro de grande sensibilidade e empatia, que em certos domingos do Tempo Pascal conseguia movimentar-nos a cantar de tal maneira, que eu pensava que fôssemos arrancar o teto de nossa igreja.
Repetimos a mesma façanha na festa da Ascensão que se seguiu. O texto musical prestava-se perfeitamente para isso: Jubilate Deo omnis terra, "cantai a Deus vossa alegria, Terra inteira".
Jubilate: expressa uma alegria que quase não se pode conter. Onde encontrar isso hoje em nossa liturgia? Este é o verdadeiro grito de triundo da liturgia, o triunfo que experimentamos quando a beleza divina e angélica se apodera de todo o nosso ser na alegria do Cristo ressuscitado!
A grandeza de Deus é mais bem louvada pelos homens e mulheres que atingem e percebem seus limites, sabendo que seu louvor não é capaz de alcançar a Deus. Neste aspecto, o canto gregoriano possui uma graça particular para fazer sobressair essa experiência do louvor, que atinge seu limite, fracassa e, no entanto, continua vivo numa nova dimensão.
Desse modo, o louvor atinge não só o coração de Deus, mas também o coração da própria criação, encontrando, por toda parte, o belo da grandeza de Javé, nosso Deus e Senhor.
Até hoje, mais de 49 anos passados desde os meus tempos de Faculdade de Teologia, a lembrança desses fatos me faz faz voltar no tempo e sentir-me tão empolgado como costumava sentir, ao viver tão expressiva experiência!
"O louvor a Deus é a mais segura manifestação da verdadeira vida.'
ResponderExcluirLindo post.
Como o senhor está?
Um abraço, fica com DEUS.