segunda-feira, 13 de abril de 2015

BLAISE PASCAL E A PENUMBRA DA FÉ



                  Estamos dentro de um tempo litúrgico que denominamos de "Tempo Pascal", porque nele comemoramos os mistérios de nossa redenção realizada pela vida, paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
                  Jesus Cristo,  "Deus suficientemente revelado na Bíblia Sagrada, para que O encontrem aqueles que verdadeira e sinceramente O procuram. Mas Deus suficientemente oculto  na Bíblia Sagrada, para que não O encontrem aqueles que de todo o coração não O procuram."
                  Esta profunda intuição de Pascal, nos seus "Pensamentos", constitui o centro da Fé cristã, porque este centro é Cristo, e Cristo é precisamente o "Deus ao mesmo tempo revelado e oculto".
                  Pascal compreendeu admiravelmente que a "penumbra das Escrituras é a mesma que vela a divindade de Cristo na encarnação e na paixão do Verbo Encarnado", como acabo de ler no seu livro. E ele acrescenta que Deus concordou em ser crucificado, corporalmente na Cruz, e espiritualmente nos Evangelhos; estes fatos são "uma penumbra que vela e revela" conjuntamente a presença do Deus de amor.
                  É a "nuvem luminosa" do Antigo Testamento: Deus "plantou a Sua tenda" entre nós, "revestindo a nossa carne" e "aparecendo entre os homens". Esta penumbra é Jesus Cristo.
                  Se Deus Se encarnou, é porque não podia ser de outro modo. Se resolveu um dia, por amor, fazer-Se pobre para que nós sejamos ricos, fazer-Se homem, para que nós nos tornemos de certo modo deuses, é porque não podia manifestar-Se de outro modo senão nessa "coluna de nuvem", escura durante o dia e luminosa de noite, guiando o povo de Israel em sua viagem através do deserto, para a "Terra Prometida". A penumbra da Fé é justamente o que nos dá o Deus da Fé.
                  E Pascal  passa a explicar-nos que penumbra quer dizer misto de claridade e escuridão, claro-escuro: ela deve conter Deus. Há escuridão, visto que Deus Se oculta, revestindo as causas segundas; e há também claridade, porque através desse determinismo aparente, Deus Se mostra.
                  Longe da penumbra da Fé ser uma objeção primordial à Fé, pelo contrário ela é o indício mesmo de que Deus pode estar nela e que é racional procurá-Lo nela.
               O âmago do Cristianismo é o mistério dessa "humildade de Deus". Em vez de Se manifestar em todo o poder de Sua glória, Deus oferece-Se humildemente à terra. Apresenta-Se sob "textos" que podem ser contestados, mal interpretados, negados, destruídos. Chama-nos pela voz de uma "Igreja" que é, por sua vez, indefesa, humilde e doce de coração, a imagem de Jesus, seu Esposo, vestida, como Davi, com a simples pele de pastor...
                 O Senhor da glória não quis o poder, porque o amor quer a doçura humilde e gratuita, não se defende, oferece a cabeça aos matadores. Contudo, é mais poderoso que a morte, e torrentes de água não poderiam extinguir o fogo da Sua Caridade. O Amor quer também a vida, a doce vida é o que Ele nos dá, e não o nada.
                 Conclui Pascal que o amor de Deus certamente é loucura aos olhos de determinada sabedoria humana. Mas esse amor é "racional", de uma sabedoria superior que é a de Deus, que é Amor. E a vida mais "verdadeira" não consiste justamente "em amar"?

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital dos paulistas.

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