domingo, 28 de fevereiro de 2016

DEUS, O PAI DOS PERDIDOS



              Ementa:

             "A controvérsia teológica desde os primórdios do Cristianismo, na  análise deste modesto escrevinhador, gira sobre Deus: e Jesus não se reporta a nenhum novo Deus, mas ao Deus de Israel  -  entendido de maneira nova, a saber, como Pai dos perdidos, a quem Ele muito pessoalmente chama  de Abbá, meu Pai!"

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             (Que me perdoe o benévolo leitor, pois tenho que fazer um tanto quanto de Teologia...).
            a)  "Pai dos perdidos": Jesus, em todo o Seu agir e falar, se refere ao Deus de Israel, ao Deus dos patriarcas. Como seria, porém, este Deus na visão de Jesus?
            Toda a pregação e vida de Jesus colocam inevitavelmente a questão sobre Deus: como Ele é e como não é, o que Ele faz e o que não faz. Em última instância, é sobre o próprio Deus, único e verdadeiro, que deve versar toda a discussão.
            Os Evangelhos nos testificam que Jesus apela a um "Deus e Pai bastante singular" para justificar Seu falar e proceder escandalosos: um Deus estranho, perigoso até e, no fundo, impossível. Ou será que nós deveríamos aceitar o fato:
            - que o próprio Deus justifica as transgressões da Lei mosaica?
           - que o próprio Deus pouco se importa com a justiça da Lei e deixa Jesus proclamar uma "justiça melhor"?
            - que Ele próprio, portanto, permite seja questionada a organização legal vigente em Israel e, com isso, todo o  sistema social, inclusive o Templo, o sacerdócio e o culto divino?
            - que o próprio Deus fez do homem e da mulher a medida  de Seus mandamentos e, mesmo, revoga os limites naturais entre judeus e gentios, longínquos e próximos, amigos e inimigos, bons e maus, através do perdão, serviço, renúncia e amor; e dessa forma Se coloca ao lado dos fracos, doentes, paralíticos, leprosos,  não-privilegiados pelo poder político, oprimidos, e mesmo dos ímpios, imorais, gentios e ateus?
           Mas então este seria um novo Deus desconhecido em Israel: um Deus que Se liberta de Sua própria lei, um Deus não dos observantes da Lei mas dos transgressores da Lei, um Deus não dos tementes a Deus, mas dos gentios e ateus?! Uma verdadeira e inaudita revolução da compreensão do Deus do Templo e do povo de Israel?
            b) "Pai de Jesus": - Toda a mensagem de Jesus sobre o  reino e a vontade de Deus está orientada para Deus como "Pai". A este Pai Ele se dirige, de forma naturalmente direta, particularmente imediata e com escandalosa intimidade, como "Abbá", "meu Pai".
            Cumpre observar que esta proclamação e tratamento novos de Deus, como pai, lançam luz sobre Aquele que O anunciou e tratou dessa forma tão nova para a mentalidade judaica. E como já naquele tempo não se podia falar de Jesus sem falar desse Deus e Pai, assim foi difícil mais tarde, já no Cristianismo nascente, falar desse Pai sem falar de Seu filho feito homem, nascido de mulher, Jesus de Nazaré.
            É claro que a decisão da Fé, na Igreja que nascia, girou não em torno de determinados nomes e títulos, mas em torno deste "Jesus", quando se tratou do "único e verdadeiro Deus".
           Assim, o tratamento dado a Jesus serviu de paradigma para julgar como alguém se relacionava com Deus, como considerava Deus, qual era este Deus de sua adoração.
           Foi em nome e por força do único Deus de Israel que Jesus falou e agiu, em toda a duração de Sua vida pública nos caminhos da Palestina.
           E, finalmente, foi pela causa de Deus, Seu Pai, que Ele Se deixou ser torturado e morrer na cruz, coroando Sua obra com a glória da ressurreição!

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

QUANDO DEUS CHEGA ATRASADO...


             Todo sábado, em dupla, um homem e uma mulher, com bolsas pretas nas mãos, batem de porta em porta cá no meu bairro, e quando batem na minha e eu os atendo, me pedem licença para ler-me um texto da Bíblia e dão-me folhetos de sua crença. Eu, que tenho a esperança de tornar-me um bom cristão,  os recebo muito educadamente e, tendo tempo e pachorra, confesso que leio seus panfletos.  Curioso, sabendo  serem eles "Testemunhas de Jeová", certo dia acabei pedindo socorro à `História". (Detesto este nome, Jeová. Nos meus tempos de estudante de Teologia, no curso de Hebraico Bíblico, aprendi que o nome correto de Deus, em hebraico, é Javé, e não Jeová. Em todo caso, já que eles preferem dizer Jeová, seja feita a vontade deles...).
            Descobri que o fundador das "Testemunhas de Jeová" foi um cidadão - não sei de que nacionalidade - chamado Charles Russel, o qual predisse, com base no "Livro do Apocalipse", 16,16, que em 1914 iria explodir uma espantosa batalha, na qual Deus destruiria  todos os homens e mulheres maus e pecadores desta Terra, atolada até a canela no pecado e na descrença.
            Segundo Russel, o resultado dessa batalha seria o começo do fim do mundo. Tal anúncio atraiu a atenção de muita gente que, aterrorizada com a profecia, se filiou imediatamente à nova seita, na expectativa de encontrar salvação através dela. Ao chegar 1914, porém, nada aconteceu. Para justificar seu fracasso, Russel alegou que Deus decidira ter um pouco mais de paciência com os pecadores, transferindo a batalha para 1918. E eu fico cá com os meus botões perguntando como é que ele sabia de todas essas coisas... A tragédia é que o pobre Russel cometeu novo erro de cálculo...
            Mas a novela, sem a chancela da Rede Globo, continuou. O herdeiro espiritual de Russel, Joseph Rutherford, refez os cálculos e, pela terceira vez, fixou a data fatídica para 1925. Como era de se esperar, errou de novo. Por último, derradeira esperança: as "Testemunhas de Jeová" acertaram o fim do mundo para 1975. Mas outra vez o "Armagedon" não aconteceu. Apesar de tudo isso, em vez de botarem a viola no saco e irem cantar em outra freguesia, seitas fanáticas continuam a anunciar a chegada iminente da batalha final. Por que nunca acertam? É isso aí, e cá fico eu, de novo, com a  minha  dúvida cruel!...
            Por acaso não dizem eles que o "Livro do Apocalipse" (16,16) nos afirma que, no final dos tempos, haverá um gigantesco combate no qual serão exterminados todos os homens e mulheres, maus, e se salvarão exclusivamente os bons? Claro, os bons são eles, os "Testemunhas de Jeová", e somente eles se salvarão... E eu me atrevo a perguntar-lhes:  Para quando esperar essa batalha? E que acontecerá depois dela?
           Não sou especialista em Bíblia, mas tentarei explicar porque  ela anuncia esta batalha do assim dito "Armagedon".
          Desde a antiguidade, o povo de Israel sofreu injustiças e perseguições da parte de numerosos outros povos, por se manter fiel a seu Deus. Diante de tanto sofrimento, os profetas anunciaram que este fato não continuaria indefinidamente, pois num dado momento Javé interviria no mundo para castigar os pecadores.
          Como o povo de Israel era um povo acostumado a contínuas guerras, os profetas imaginaram que a intervenção de Deus ocorreria mediante uma ação militar: o Senhor viria à Terra com seu exército celestial para destruir seus inimigos, assumindo a seguir o governo do mundo. Esse dia futuro foi sempre conhecido como "O Dia de Yahweh".
          Este "Dia de Yahveh" foi anunciado pelos profetas Amós, Ezequiel, Sofonias, Joel, e Zacarias. (Não cito os capítulos e versículos, porque escrevo para pessoas que conhecem a Bíblia mais do que eu, por isso contento-me a citar apenas os autores)...
         O fato é que, lentamente, a mentalidade popular foi sendo penetrada pela ideia de um combate entre Deus e os ímpios deste mundo corrompido,  a ocorrer nos últimos tempos "escatológicos", como gostam de dizer os especialistas ...
    O terrível "entrevero" não aconteceu até hoje. Século após século, judeus e cristãos fundamentalistas aguardaram e suspiraram por essa intervenção militar divina, que poria ordem na História. Indefinidamente postergada, a profecia jamais se cumpriu.
         Por isso, ao dizer que a "mãe de todas as batalhas", no fim dos tempos, se daria no local anunciado pelos profetas, a alegada profecia apenas expressa simbolicamente que o curso da história seria mudado para sempre.
         E eu, cristão que sou, embora medíocre, sou levado a crer, pela minha Igreja, que a batalha final, antes do fim do mundo, já aconteceu, com a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. A morte do Filho de Deus foi a verdadeira luta e a definitiva vitória contra seus inimigos. 
         Mediante sua morte e ressurreição, Cristo Jesus os venceu a todos, arremessou-os no abismo e assumiu em definitivo o governo do mundo.
         E isto pelos séculos dos séculos. Amém.

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sábado, 20 de fevereiro de 2016

PENUMBRA DA SAGRADA ESCRITURA E PENUMBRA DA CRUZ



            Ementa:

            "Deus suficientemente revelado nas Escrituras, para que O encontrem aqueles que verdadeiramente O procuram. Mas Deus suficientemente oculto nas Escrituras, para que não O encontrem aqueles que de todo o coração não O procuram".

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            Esta profunda intuição de Pascal, que leio e medito frequentemente nos seus "Pensamentos", constitui por assim dizer o centro do seu livro, porque esse centro é Cristo, e Cristo é precisamente o "Deus ao mesmo tempo revelado e oculto".
            Lendo Pascal à luz desta sua afirmação, compreendi claramente que a "penumbra das Escrituras é a mesma que vela a divindade de Cristo na encarnação e na paixão do Verbo encarnado: Jesus Cristo é a "ponte suspensa entre a dor e a questão bíblica". Neste aspecto, a penumbra da Fé torna-se portanto "inevitável".
            As causas segundas, mediante as quais Deus concordou em ser crucificado, "corporalmente na Cruz, espiritualmente nos Evangelhos", são portanto "uma penumbra que vela e revela"  conjuntamente a presença do Deus de amor. É a "nuvem luminosa" do Antigo Testamento;  "Deus plantou a Sua tenda" entre nós, "revestindo a nossa carne" e "aparecendo entre os homens". Esta penumbra é Jesus Cristo.
            Se Deus se encarnou, é porque não podia ser de outro modo. Se resolveu um dia, por "amor", fazer-Se pobre para que nós sejamos ricos, fazer-se homem para que nós nos tornemos como Deus, é porque não podia manifestar-Se de outro modo senão nessa "coluna de nuvem", escura durante o dia e luminosa de noite, guiando Israel em sua viagem através do deserto para a terra do Reino. A penumbra da Fé é justamente o que nos dá o Deus da Fé.
            Penumbra quer dizer misto de claridade e escuridão, claro-escuro; ela deve conter Deus : há escuridão, visto que Deus Se oculta, revestindo as causas segundas; e há também claridades, porque através desse determinismo aparente, Deus Se nos manifesta.
            Longe da penumbra da Fé ser um a objeção primordial à Fé, ela é pelo contrário o indício mesmo de que Deus pode estar nela e que é "racional" procurá-Lo nela.
            O âmago do Cristianismo é o mistério desta "humildade de Deus". Em vez de manifestar-Se em todo o poder de Sua glória, Deus Se oferece humildemente à terra. Apresenta-Se sob as roupagens de um "homem" a quem se pode ferir, escarnecer, matar; oferece-Se sob o véu de "textos" que podem ser contestados, mal interpretados, negados, destruídos; chama-nos pela voz de uma Igreja que é, por sua vez, indefesa, humilde e doce de coração, à imagem de Jesus, vestida como Jesus com a simples pele de pastor, armada de uma modesta funda e de pedras da torrente...
            O Senhor da glória não quis o poder nem o nada, o trovão ou o silêncio do abismo, porque o poder tirânico ou o triste nada "são o contrário do amor". O amor quer a doçura humilde e gratuita, não se ofende; oferece a cabeça, de antemão, aos matadores; contudo, é mais poderoso que a morte, e torrentes de água não poderiam extinguir o fogo da Sua caridade. O amor quer também a vida, a doce vida: e é o que Ele dá, e não o nada.
            O amor de Deus, certamente, é loucura aos olhos de determinada sabedoria humana. Mas ele é "racional", de uma sabedoria superior, a de Deus, que é Amor.
            Porventura a  vida "mais verdadeira" não consiste em amar?

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Dogmática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.
            
             

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O 'SILÊNCIO" DE DEUS SERÁ MESMO REAL?



            - "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?"
            - "E Deus não disse absolutamente nada..."

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            Ocasiões há em que Deus parece me falar sem cessar; em outras, porém, Ele parece esconder-Se por detrás das nuvens nas profundezas do Céu, e eu  me vejo sozinho, quando precisaría da presença aconchegante do Criador junto de mim, principalmente, por ocasião das mortes de meus dois filhos queridos, a Raquel, de câncer, e o Júlio por um suicídio mal explicado.
             Embora eu conheça, dentro de minhas limitações de criatura finita e pecadora os desígnios gerais da Providência de Deus, ignoro completamente a realidade de Seus propósitos particulares a respeito de minha curta existência neste mundo.
             Houve e há ainda aspectos de meu caminhar em que, de maneira dolorosa, me parece que sinto o peso da ausência de Deus em minha vida. Pois este período histórico em que estou vivendo parece testemunhar-me esta ausência ou este afastamento de Deus. Tenho até  a impressão de que vivo  num daqueles tempos de apocalipse, preditos pelos profetas. 
             Há guerras em várias partes do mundo. O terrorismo sem freios tem atacado alvos inocentes em vários países, espalhando o medo e fazendo milhares de vítimas.  Fenômenos naturais catastróficos assustam populações inteiras, destruindo cidades, habitações, e colocando homens, mulheres e crianças, justamente apavorados, quase sem capacidade de reações.
             Enquanto isso  -  dizem-me os meios de comunicação  -  milhões de vítimas da fome morrem à míngua em algumas regiões de África e da Ásia, com maior impacto principalmente entre as crianças que, pela desnutrição endêmica, jazem quase sem esperança de sobrevivência. E, o sofrimento dos inocentes, isto é, das crianças, é algo com que não consigo me conformar, e até cometo o pecado de blasfêmia ao apostrofar a Deus, cobrando dEle, que confesso como Pai, por que é que é que Ele, todo-poderoso,  e sendo Pai, permite que crianças inocentes sofram tanto, como aquelas que sucumbem em hospitais, vitimadas pelo câncer?
               Fiz esse questionamento a um padre de minha paróquia, e ele me respondeu que a pessoa mais inocente que surgiu neste mundo, Jesus, sofreu torturas indizíveis e morte de cruz. E eu lhe ripostei que Jesus tinha sim a natureza humana, e por isso estava sujeito ao sofrimento. Mas não consigo assemelhar o sofrimento dEle ao nosso porque, mesmo sofrendo na Sua pessoa humana, Ele tinha à Sua retaguarda, a divindade, e esta verdade modifica totalmente o Seu sofrimento em comparação com o nosso. (Não sei  se este pensamento está teologicamente correto, mas é o que penso).
             Mas voltando ao assunto. Doenças misteriosas, provocadas por vírus, colocam países e povos em estado de emergência, assustando o mundo inteiro. 
             A Justiça torna-se uma caricatura em vários países dominados por oligarquias tirânicas e sanguinárias, que defendem a ferro e fogo sua permanência no poder, esquecidos das mais elementares normas de respeito às populações em busca de seus direitos calcados aos pés.
             O custo de vida aumenta sem parar, países inteiros se debatem com sérios problemas econômicos, que atingem mesmo uma escala global. Um escritor da Europa central, Gheorghiu, chegou a publicar um livro a que deu o título de "A Vigésima Hora", no qual fotografa literariamente as tragédias que vivemos, profetizando que nem mesmo um Messias conseguiria salvar-nos.
             A impressão que tenho seria de que nada mudou no mundo, mesmo com o surgimento do Cristianismo. Os próprios cristãos, apesar de sua Fé na Providência Divina, parecem sofrer mais que os outros; não são poupados pelos flagelos universais, e ao mesmo tempo acabrunha-os o sentimento de pecado que avassala o mundo, e acabam perdendo o ânimo diante da apostasia planetária.
              Todos os dias lhes pedem para ser novos cruzados empenhados na salvação do que resta de bom em nossa civilização, mas eles não se sentem com forças ou preparados para isso. Ou quando a corrupção oficial, institucionalizada nos órgãos governamentais, torna homem e mulher desiludidos e imunes a qualquer indício de esperança.
              "Silêncio de Deus", outro nome para traduzir a tragédia do Universo? Seria o homem, seria a mulher uma "paixão inútil", como diria o racionalista e ateu francês Jean Paul Sartre, na sua literatura e no seu teatro do absurdo?
              A verdade é que o cristão parece não ter um minuto de trégua neste mundo. Os problemas surgem-lhe ao mesmo tempo de todos os lados. Este problema, por exemplo:
              Certa família, muito religiosa, moradora do meu bairro, gasta uma pequena fortuna para levar um filho doente, numa peregrinação longínqua a um santuário famoso - Aparecida -  com a esperança de obter da Virgem Maria a cura de sua doença. Irmãos e irmãs, pais, avós, amigos, todos rezam, fazem novenas, as comunidades religiosas reforçam o pedido de cura com suas preces e penitências. Entretanto o menino não se cura e vem a falecer.
              Mistério terrível. Posso, e devo mesmo dizer, que a Fé daqueles que tudo sacrificaram para obter a cura de um filho, sem ser atendidos, é especialmente colocada à prova por Deus. Mas, por que se cura um, e não se cura aquele outro?
              Mal ouso  escrever estas linhas. Elas são verdadeiras. Mas para quem não experimentou em si mesmo semelhante desilusão, como eu e minha esposa sentimos com a morte precoce de nossa filha Raquel, vitimada por insidioso câncer, e pelo suicídio misterioso de nosso filho Júlio, as frases de consolo e de explicação assemelham-se às "tagarelices gratuitas de certas consolações sacerdotais."
              Homem de Fé que eu gostaria de ser, na minha fraqueza de ser humano finito, pecador e contingente, acredito não pedir demais, suplicando muitas vezes ao Senhor Jesus, que me conceda uma dessas consolações visíveis com que minha alma, afinal de contas, possa saciar-se um pouco para recuperar as forças, Apesar de saber, pela leitura e meditação dos textos sagrados da Bíblia, que "Deus recusa essa consolação mesmo aos seus próprios amigos."
               É uma verdade profunda, mas difícil. A Sagrada Escritura inteira a testemunha, e principalmente o Filho de Deus, Jesus Cristo, que à véspera de Sua morte pede que o Pai Lhe afaste esse cálice, mas, apesar de tudo o bebe, livremente, por amor!

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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense e bacharel em Teologia Dogmática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

JESUS = PROCURADOR DE DEUS E DOS HOMENS



      O teólogo alemão Hans Küng, em pequena brochura intitulada " 20 Teses sobre o ser cristão", afirma que Jesus se arvorou em procurador de Deus e dos homens.
      Exigiu, para isso, uma decisão definitiva: não para um determinado título, dogma ou lei, mas para sua alvissareira mensagem. Diante  disso, coloco também minha pergunta quanto à sua pessoa: herege, falso profeta, blasfemador, sedutor do povo  -  ou o quê?!
      Pretensão medonha para quem era de origem humilde, sem apoio de Sua família, sem formação especial. Sem dinheiro, cargo e dignidade, sem qualquer domínio, sem partido que O protegesse e sem tradição que O legitimasse  -  um homem sem poder algum pretende tal "procuração"?  Com quem, afinal, contava Ele?
       Ele que, por causa de Sua doutrina e de todo Seu procedimento, atraía sobre Si agressões mortais, encontrou também confiança e amor espontâneos.
       Em resumo, acrescento eu: nEle se dividiam os espíritos.
       Jesus exigia uma decisão definitiva pela causa de Deus e do homem e mulher. Nesta "causa" fica absorvido totalmente, sem nada exigir para Sua pessoa, sem fazer de Seu "papel" ou dignidade o tema de Sua mensagem.
        Devido à inatacável coerência entre Sua teoria e prática, Jesus constituía um desafio inaudito para todo o aparato religioso-social (a lei farisaica) e seus representantes (hierarquia).
        - "Com que poder faz Ele estas coisas?"  -  perguntam amigos e inimigos. Eis alguém que, em vez do exato cumprimento da lei, prega uma admirável liberdade para Deus e para homem e mulher. Não se faz Ele maior do que Moisés (Lei), maior que Salomão (templo), maior que Jonas (profeta)? E não é isto motivo para escândalo? E acrescento mais alguns questionamentos:
        - Um doutor da Lei que contraria Moisés não é um herege?
        - Um profeta que já não segue Moisés, não é ele um "pseudoprofeta"? 
        - Alguém que se eleva acima de Moisés e dos profetas, que Se arroga mesmo a função de juiz supremo com relação aos pecados e assim interfere naquilo que é de Deus e somente de Deus, não é ele um "blasfemador"?
        - Não é Ele, em vez de inocente vítima de um povo cabeçudo e obstinado, muito mais um visionário e herege, e como tal, um demagogo altamente desordeiro, amotinador do povo, a ameaçar realmente a posição da hierarquia farisaica?
        E atrevo-me a fazer uma pergunta ainda mais perigosa: Não estaria Ele pregando, no fundo, um outro Deus que não Javé?!

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Dogmática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

AOS MEUS EX-ALUNOS E AMIGOS DE BARBOSA FERRAZ


                                        Neusa Guimarães
                                        Amadora Giraldelli Sanches Bueno
                                        Valdomiro Marques da Fonseca
                                        Sérgio Martinez
                                        Talal Zaki
                                        Ivete Brandalise
                                        Marcílio Pinto Barbosa
                                        Edenilson Miliossi
                                        Mariuza Maria Fernandes
                                        Bernadete Garcia
                                        Edilamar Menin
                                        Diomar Colognese Bocchi
                                        Osmarina Montrezol
                                        Maria Helena Giraldelli Sanches Missau
                                        João Carlos Braz
                                        Nelson Carlos Ferreira
                                        Neli Toniello
                                        Maura Vessio
                                        Cláudio César Andrade
                                        Sérgio Hossoi
                                        Adalberto Cândido de Almeida
                                        Adriana Estefani
                                        Carlos Rosa Alves
                                         Reginaldo Silva
                                         Maria Perpétua do Amaral
                                         Tato Cafisso
                                          Dete Sendon

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                            A todos e a cada um destes ex-alunos, a minha imorredoura gratidão por
                            terem a caridade de se lembrarem deste ex-professor, agora já carcomido
                            pelo peso de seus idos e vividos oitenta anos, desejando também a eles que sigam                                 em frente, façam da sua vida  -  presente gratuito de Deus -  um contínuo serviço   
                            ao próximo, tenham pleno êxito na profissão e na responsabilidade a que se                                        dedicam, enquanto eu por aqui, na Capital de todos os paranaenses, morro de                                      saudades de Barbosa Ferraz, e dos incontáveis e queridos amigos que por lá                                       deixei, devido aos percalços da vida.     
                          De todo o meu coração, um profundo agradecimento pela alegria que me                                             proporcionaram.
                         E não posso esquecer, é claro, o meu filho Carlos que, tenho certeza, foi o mentor                                 desta comemoração.

                          Muito cordialmente, Aroldo, dona Cida, e a neta Isabela.

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

LEI E CULTO, NA PERSPECTIVA DE JESUS



            Ementa:

            "Pelo bem de homem e mulher, Jesus relativiza, de fato, instituições e tradições sagradas, como a Lei e o Culto".

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            Um fato, que consegui intuir, ao ler e meditar a Bíblia Sagrada:
            Deus quer o bem do homem e da mulher:

            a) Por isso Jesus, que no conjunto leva uma vida de total fidelidade à Lei, não teme, em casos particulares, tomar atitudes contrárias à Lei.
            - Nenhum sentido de perfeição ritual: somente a pureza do coração dá pureza perante Deus.
            - Nenhum ascetismo de jejum: permite que O chamem de comilão e beberrão.
           -  Nenhum escrúpulo na observância do sábado: homem e mulher devem ser a medida do sábado e da Lei.
           b) Por isso Jesus, de forma por assim dizer escandalosa, relativiza tradições e instituições sagradas para os judeus:
            - Relativiza a Lei, e todo o sistema religioso-social, pois os mandamentos da Lei existem para o bem de homens e de mulheres.
            A Lei não é abolida ou suspensa, simplesmente. Mas homem e mulher tomam o lugar de uma ordem legal absolutizada: humanidade em lugar de legalismo e dogmatismo. Todas as normas,instituições, prescrições e dogmas dependem deste critério: existem ou não existem para o homem e a mulher?
            - Relativiza o templo, o culto oficial: pois reconciliação e serviço diário têm preferência sobre a liturgia. A liturgia não é simplesmente abolida ou suspensa. Mas homem e mulher tomam o lugar de uma liturgia absolutizada: em vez de formalismo e ritualismo. Todos os ritos e costumes, práticas e cerimônias no templo dependem deste critério: existem ou não existem para o homem e a mulher?
            c) Por isso, Jesus defende o amor, que permite ser ao mesmo tempo piedoso e razoável, e que se comprova exatamente pelo fato de não excluir ninguém, nem mesmo o inimigo, mas deve sempre estar disposto a:
            - servir sem preferências,
            - renunciar sem compensações,
            - perdoar sem fim.
            Numa palavra: mudança da sociedade pela radical mudança de cada pessoa individual.
            d) Por isso, Jesus se solidariza, para desespero dos fariseus, com os pobres, os miseráveis, os hereges e cismáticos (= samaritanos), os imorais (= prostitutas e adúlteros), os compromissados politicamente (= coletores de impostos e colaboradores), os socialmente desprezados e marginalizados (= leprosos, doentes, miseráveis) os mais fracos ( = mulheres e crianças), o povo simples em geral.
            e) Por isso, Jesus ousa até mesmo anunciar, em vez de castigo legal, o perdão divino - inteiramente gratuito, possibilitando com isso a conversão e o perdão mútuo entre homens e mulheres.

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática e Direito Canônico pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.

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