Ementa:
"A controvérsia teológica desde os primórdios do Cristianismo, na análise deste modesto escrevinhador, gira sobre Deus: e Jesus não se reporta a nenhum novo Deus, mas ao Deus de Israel - entendido de maneira nova, a saber, como Pai dos perdidos, a quem Ele muito pessoalmente chama de Abbá, meu Pai!"
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(Que me perdoe o benévolo leitor, pois tenho que fazer um tanto quanto de Teologia...).
a) "Pai dos perdidos": Jesus, em todo o Seu agir e falar, se refere ao Deus de Israel, ao Deus dos patriarcas. Como seria, porém, este Deus na visão de Jesus?
Toda a pregação e vida de Jesus colocam inevitavelmente a questão sobre Deus: como Ele é e como não é, o que Ele faz e o que não faz. Em última instância, é sobre o próprio Deus, único e verdadeiro, que deve versar toda a discussão.
Os Evangelhos nos testificam que Jesus apela a um "Deus e Pai bastante singular" para justificar Seu falar e proceder escandalosos: um Deus estranho, perigoso até e, no fundo, impossível. Ou será que nós deveríamos aceitar o fato:
- que o próprio Deus justifica as transgressões da Lei mosaica?
- que o próprio Deus pouco se importa com a justiça da Lei e deixa Jesus proclamar uma "justiça melhor"?
- que Ele próprio, portanto, permite seja questionada a organização legal vigente em Israel e, com isso, todo o sistema social, inclusive o Templo, o sacerdócio e o culto divino?
- que o próprio Deus fez do homem e da mulher a medida de Seus mandamentos e, mesmo, revoga os limites naturais entre judeus e gentios, longínquos e próximos, amigos e inimigos, bons e maus, através do perdão, serviço, renúncia e amor; e dessa forma Se coloca ao lado dos fracos, doentes, paralíticos, leprosos, não-privilegiados pelo poder político, oprimidos, e mesmo dos ímpios, imorais, gentios e ateus?
Mas então este seria um novo Deus desconhecido em Israel: um Deus que Se liberta de Sua própria lei, um Deus não dos observantes da Lei mas dos transgressores da Lei, um Deus não dos tementes a Deus, mas dos gentios e ateus?! Uma verdadeira e inaudita revolução da compreensão do Deus do Templo e do povo de Israel?
b) "Pai de Jesus": - Toda a mensagem de Jesus sobre o reino e a vontade de Deus está orientada para Deus como "Pai". A este Pai Ele se dirige, de forma naturalmente direta, particularmente imediata e com escandalosa intimidade, como "Abbá", "meu Pai".
Cumpre observar que esta proclamação e tratamento novos de Deus, como pai, lançam luz sobre Aquele que O anunciou e tratou dessa forma tão nova para a mentalidade judaica. E como já naquele tempo não se podia falar de Jesus sem falar desse Deus e Pai, assim foi difícil mais tarde, já no Cristianismo nascente, falar desse Pai sem falar de Seu filho feito homem, nascido de mulher, Jesus de Nazaré.
É claro que a decisão da Fé, na Igreja que nascia, girou não em torno de determinados nomes e títulos, mas em torno deste "Jesus", quando se tratou do "único e verdadeiro Deus".
Assim, o tratamento dado a Jesus serviu de paradigma para julgar como alguém se relacionava com Deus, como considerava Deus, qual era este Deus de sua adoração.
Foi em nome e por força do único Deus de Israel que Jesus falou e agiu, em toda a duração de Sua vida pública nos caminhos da Palestina.
E, finalmente, foi pela causa de Deus, Seu Pai, que Ele Se deixou ser torturado e morrer na cruz, coroando Sua obra com a glória da ressurreição!
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