quinta-feira, 23 de março de 2017

SAUDADES DE MINHA FILHA RAQUEL




            Neste mês de março de 2017,  em que comemoramos, chorando, mais um ano após a morte de minha inesquecível filha Raquel, pus-me a meditar sobre o significado da morte de um ente querido, e, dentro da fé católica que professo, é possível uma visão positiva do fenômeno angustioso da morte? E a fé que me anima responde-me que sim, porque dentro da vida humana há uma chance única na qual homem e mulher, pela primeira vez, renascem totalmente ou acabam de nascer na morte. Com efeito, de acordo com meu mestre de Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, não há um problemático tempo intermediário entre a morte e a ressurreição, porque essa ressurreição acontece justamente no momento da morte.
            Esta opinião de meu mestre, Padre Leonardo Boff, pode ser profundamente frustradora, pois a morte sempre foi entendida como um final de festa, ou como o derradeiro aceno de uma despedida.
            A morte é, sim, o fim da vida terrena. Ela marca a ruptura de um processo vital. Como que criando um corte entre o tempo presente e a eternidade . Mas a morte, como eu a entendo, cobre  apenas um aspecto do ser humano, o biológico e o temporal.  Homem e mulher constituem algo muito superior ao biológico, porque são mais do que um animal. São também superiores ao tempo, porque suspiram pela eternidade do amor e da vida, numa esfera superior.
            Homem e mulher são pessoas e, mais que isso, interioridade. Para eles, a morte não é simplesmente um fim, mas um fim-plenitude, um fim-meta-alcançada, o lugar do verdadeiro e definitivo nascimento. Lembra-me a mulher grávida que, entre dor e angústia, mas iluminada por uma doce esperança, logo pode segurar o filhinho recém-nascido em seus braços, e murmura, agradecida: atingi meu fim, alcancei minha meta como mulher: sou mãe!
            Este fim-plenitude, que é alcançado pela morte, só pode ser encontrado em um espírito de fé.  É nesta fé que encontramos a base para a esperança de que nossa vida não se perde no vazio do nada. Esta nossa convicção  está profundamente fundada em Deus. Neste Deus que Se revelou na ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que ressuscitará também a nós pelo Seu poder infinito.
            E foi nesta fé que minha inesquecível filha Raquel alcançou, na morte, o seu nascimento definitivo! Junto ao Pai de todos os pais, junto ao qual não existe mais a morte, mas a Vida Eterna!
            
           

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