Nos inícios da década de sessenta, quando da realização do Concílio Ecumênico Vaticano II, estando eu cursando Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na capital paulista, tive contato com o profeta do ecumenismo entre as várias igrejas da ecumene Cristã, o controvertido teólogo suíço-alemão, Hans Küng. A partir daí passei a me interessar pelo ecumenismo, e cheguei à conclusão de que apenas a Igreja Católica e a Anglicana deram passos concretos na busca de uma aproximação realmente ecumênica.
Em vista disso, acho que é imperioso que todas as confissões religiosas deixem suas quizílias de lado e se empenhem a integrar de forma crítica e construtiva a herança protestante, a herança ortodoxo-oriental e a herança católica, preservando cada uma delas sua própria tradição, e ao mesmo tempo superar suas limitações confessionais e assumir as coisas boas das outras confissões. Para que este desideratum se torne efetivo, se faz necessário o seguinte roteiro: SIM à Bíblia, à Tradição e à autoridade; um rigoroso NÂO ao biblicismo e à bibliolatria, ao tradicionalismo e ao autoritarismo.
1 - De acordo com a teologia protestante, dever-se-ia afirmar que a Escritura Sagrada é o fundamento permanente e inviolável de toda a teologia ecumênica verdadeiramente cristã.
Portanto, um SIM à Bíblia, mas também um NÃO ao biblicismo e a uma perigosa bibliolatria, que tende a idolatrar a letra da Bíblia, ou que em nome de uma suposta ortodoxia protestante acuse de anti-evangélica qualquer crítica a ela.
Os teólogos protestantes têm não só o direito mas o dever de distinguir os princípios bíblicos que podem ser divergentes, contrastantes e em alguns aspectos até mesmo parcialmente contraditórios. Com isso a autoridade da Bíblia não se enfraquecerá, mas brilhará com nova luz.
2 - De acordo com a teologia ortodoxo-oriental, cumpre respeitar a Tradição: a verdade cristã tal qual foi vivida na Igreja e que ela tentou proteger desde tempos antigos. Esta verdade cristã continua viva não só nas decisões conciliares e nos escritos dos teólogos, mas também no anúncio do Evangelho, feito por párocos e leigos na liturgia, nos sacramentos e particularmente no testemunho do simples cristão e de suas comunidades.
Portanto um SIM à Tradição, mas também um NÃO ao tradicionalismo, que tenta idolatrar a Tradição e a rejeitar qualquer crítica à mesma como anti-ortodoxa. Com isso a autoridade da tradição não se enfraquecerá, mas se imporá novamente de uma forma mais pura.
3 - De acordo com a teologia católica, deve-se respeitar a Autoridade Eclesiástica: a autoridade pastoral dos dirigentes da Igreja em nível local, regional euniversal - a autoridade dos párocos, dos bispos e também a do bispo de Roma, o Papa.
Portanto, um SIM à autoridade, mas também um rigoroso NÃO ao autoritarismo eclesiástico, que tende a idolatrar a autoridade e a rejeitar como anti-católica qualquer crítica à mesma em nome de uma suposta ortodoxia católica. Em vez de falar concretamente do Papa e dos bispos, fala-se de maneira abstrata e anônima do "magistério", termo que não tem fundamento nem na Bíblia nem na tradição antiga, e que supõe a distinção totalmente bíblica entre a Igreja docente (a hierarquia eclesiástica), e a Igreja discente (os leigos),
Os teólogos católicos têm o direito e o dever de exercer uma crítica pública à Igreja e, se for necessário, "opor-se abertamente" a ela, como o apóstolo Paulo ao apóstolo Pedro, caso se modifiquem consciente ou inconscientemente os enfoques bíblicos em declarações oficiais, nos manuais e catecismos, nas encíclicas e cartas pastorais, na prática pastoral e na vida de fé da comunidade e dos fiéis em geral. A partir daí, tentarão expor a verdadeira mensagem de Jesus Cristo globalmente e também em seus detalhes. Com isso a autoridade da Igreja não vai desaparecer, mas será apresentada de forma crível e renovada.
Conclusão:
- o cristão protestante não crê na Bíblia, mas nAquele de quem ela dá testemunho.
- o cristão ortodoxo-oriental não crê na Tradição, mas nAquele que ela transmite.
- o cristão católico não crê na Igreja, mas nAquele que ela anuncia.
Portanto, Jesus de Nazaré, o Cristo de Deus, permanece para sempre o Senhor absoluto sobre a autoridade eclesiástica, sobre a Tradição, e sobre a Escritura Sagrada, pois só Ele é "a Palavra", só Ele é "a Verdade".
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Reflexão para o Domingo de Ramos:-
A DIVINDADE ESCONDIDA
A paixão de Jesus de Nazaré, segundo o evangelista Marcos, tirada do conjunto da vida de Jesus, é chocante. O evangelista não caiu na tentação de minimizar a tragicidade da experiência de Jesus nem, muito menos, esvaziá-la, apelando para a certeza da ressurreição.
No Getsêmani, Jesus de Nazaré provou uma grande tristeza e ficou angustiado. Suspenso na cruz, fez a experiência do abandono por parte do Pai. Some-se a isto, a traição de Judas que, com um beijo, entregou-O a seus adversários. A tríplice negação de Pedro, incapaz de ser verdadeiro diante de uma empregada do sumo sacerdote. A fuga dos demais discípulos, atemorizados diante do destino do Mestre. Toda uma trama armada para garantir uma sentença dada à revelia do acusado. A paixão, calcada na figura profética do Servo Sofredor, em Isaías, apresenta a figura de Jesus despida de qualquer dignidade, reduzida à condição de trapo humano.
Dois gestos, em relação a Jesus, são dignos de nota. A exclamação do militar romano, um pagão que fez uma leitura correta da paixão, reconhecendo ser Jesus, de fato, o Filho de Deus; como também o gesto solidário de algumas mulheres que O seguiram até o fim.
Embora escondida, é necessário reportar-se à divindade para se compreender a paixão de Jesus. Caso contrário, sua morte teria sido um episódio irrelevante.
Oração:-
Senhor Jesus, como o oficial romano, confesso a tua condição de Filho de Deus crucificado. Que eu compreenda o sentido verdadeiro de tua paixão.
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Reflexão para o Domingo de Ramos:-
A DIVINDADE ESCONDIDA
A paixão de Jesus de Nazaré, segundo o evangelista Marcos, tirada do conjunto da vida de Jesus, é chocante. O evangelista não caiu na tentação de minimizar a tragicidade da experiência de Jesus nem, muito menos, esvaziá-la, apelando para a certeza da ressurreição.
No Getsêmani, Jesus de Nazaré provou uma grande tristeza e ficou angustiado. Suspenso na cruz, fez a experiência do abandono por parte do Pai. Some-se a isto, a traição de Judas que, com um beijo, entregou-O a seus adversários. A tríplice negação de Pedro, incapaz de ser verdadeiro diante de uma empregada do sumo sacerdote. A fuga dos demais discípulos, atemorizados diante do destino do Mestre. Toda uma trama armada para garantir uma sentença dada à revelia do acusado. A paixão, calcada na figura profética do Servo Sofredor, em Isaías, apresenta a figura de Jesus despida de qualquer dignidade, reduzida à condição de trapo humano.
Dois gestos, em relação a Jesus, são dignos de nota. A exclamação do militar romano, um pagão que fez uma leitura correta da paixão, reconhecendo ser Jesus, de fato, o Filho de Deus; como também o gesto solidário de algumas mulheres que O seguiram até o fim.
Embora escondida, é necessário reportar-se à divindade para se compreender a paixão de Jesus. Caso contrário, sua morte teria sido um episódio irrelevante.
Oração:-
Senhor Jesus, como o oficial romano, confesso a tua condição de Filho de Deus crucificado. Que eu compreenda o sentido verdadeiro de tua paixão.
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