A Fé cristã não me dá respostas pormenorizadas e precisas sobre o que sucede depois da morte. Mas o Cristianismo me incita a encarar a morte e a tomá-la em conta, superando o medo que ela me inspira e vencendo-a em Cristo. Mas isto é coisa inteiramente outra.
Um número maior de cristãos deveria compreender isso, em lugar de tornar suas piedosas considerações sobre o Céu e o Inferno (se é que o fazem, digo eu) simplesmente um modo de evitar a necessidade de focalizar a morte em sua realidade nua e crua.
Permita-me o eventual leitor deste blog afirmar que a Fé cristã, em mim, não procura apenas responder à pergunta - "que é a morte? Que significa a morte em minha própria existência, agora?
A morte não é o fim inevitável da vida. Não é um fim que deve vir, quer me agrade ou não. E completo: não é apenas uma necessidade dolorosa, como pagar anualmente o imposto de renda, ou fazer o recadastramento anual no INSS...
O fato da morte não é apenas o cancelamento de todas as possibilidades, a negação da escolha e da esperança. Não tenho a liberdade para morrer ou não, mas permaneço vivo para fazer o que quero de uma vida que tem de terminar na morte.
Mas é bom que se diga que um emprego autêntico desta minha liberdade exige que eu e Você, benévolo leitor, levemos em conta a realidade da morte. Pretender viver como se não pudéssemos ser tocados pelos braços frios da morte não é emprego racional e humano da liberdade. E digo mais: uma "liberdade" desse tipo está, de fato, desprovida de qualquer sentido. É pura e clara ilusão.
Aprendi que no cerne da minha Fé cristã está a convicção de que, quando a morte é aceita com espírito de Fé, quando minha vida inteira está orientada pelo dom de mim mesmo, de maneira que o fim da minha vida terrena é entregue de volta nas mãos de Deus, pronta e livremente, ela se transformará em plenitude.
Isto porque minha Fé me ensina que a vitória sobre a morte é obra do amor. Não é fruto de minhas eventuais virtudes, e sim da participação no amor com que o Senhor Jesus aceitou a morte, e morte de cruz, acentuam os evangelistas.
É claro que uma verdade como esta não se torna patente à nossa razão. É inteiramente do domínio da Fé. E se eu creio que ao unir minha vida e minha morte ao dom que Jesus fez de si mesmo no Calvário, encontro não apenas uma resposta dogmática a um problema humano e a uma série de gestos rituais que me confortem e aliviem minha angústia diante do fim inevitável.
Foi-me concedida gratuitamente por Deus a graça da assistência do Espírito Santo. Assim, cristão que sou, não vivo minha existência de condenado e decaído, mas vivo já a vida eterna e imortal que me é dada, no Espírito Santo, por Jesus Cristo. Assim, eu vivo "em Cristo".
É claro que o que "vem depois da morte" não se torna ainda para mim muito claro, em termos humanos de "lugar de repouso" (um cemitério celeste?) ou um paraíso de recompensas. Como cristão, católico, não me preocupo, obviamente, com uma vida dividida entre este mundo e o "outro". Preocupo-me, isto sim, com uma vida nova em Cristo e no Espírito Santo, agora e depois da morte. Procuro a Face de Deus e a visão dAquele que é a vida eterna (Jo 17,3).
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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Dogmática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na Capital paulista.
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