Nos felizes tempos em que eu cursava a Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na Capital paulista, a língua latina era a minha maneira predileta de comunicar-me com professores e colegas. E até hoje, os oitenta e um anos que me pesam nas costas não me impedem de ler a Bíblia Sagrada em Latim.
Tenho sempre em minha mesa de trabalho um livro de provérbios latinos que leio todos os dias. E um desses provérbios que mais me agrada é o seguinte: -"De mulieribus numquam satis" - que, em língua de gente, poderia ser traduzido mais ou menos assim: - "Das mulheres nunca se diz o suficiente"
Pois a "Gazeta do Povo", que eu leio diariamente junto ao café da manhã, publicou tempos atrás reportagem com um certo juiz de Sete Lagoas, MG, em que o magistrado, comentando a "Lei Maria da Penha", afirmou com todas as letras, que a desgraça humana entrou no mundo através de uma mulher, "fato que todos nós sabemos...", reforça ele.
Além da enorme besteira de uma leitura fundamentalista da Bíblia Sagrada, tomando como verdade indiscutível o que nela foi escrito há milhares de anos atrás, ou seja, tomando ao pé da letra o que, conforme o caso, não passa de um mito, o egrégio e machista juiz continua sua arenga proclamando que o mundo é masculino, que a idéia que temos de Deus é que Ele é masculino, que Jesus é masculino, que os anjos são masculinos, que Satanás é masculino, que o Céu e o Inferno são também do gênero masculino... E por aí, vai...
Não sei se é por causa dessa sua esquisita obsessão ou por outra qualquer, o fato é que a então Corregedora Nacional da Justiça, a ministra Eliana Calmon, emitiu a opinião de que o juiz faria bem em submeter-se a um exame de sanidade mental, visto que suas estapafúrdias declarações à imprensa configuram uma certeira incitação ao preconceito machista contra a mulher.
Com efeito, o então emérito juiz de Sete Lagoas declarou à imprensa que a "Lei Maria da Penha" contém um conjunto de "regras diabólicas, e que não passam de um monstrengo tinhoso..."
E eu, cá do meu canto, na minha Curitiba cantada em prosa e verso, e devidamente assistido pelos meus fecundos 81 anos no costado, só posso desejar ao incauto Juiz que ele faça juz (sem trocadilho), ao merecido e, no meu modesto entender, pequeno descanso a que foi justamente (outra vez sem trocadilho) condenado!...
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