Após trinta e seis anos ininterruptos residente em Barbosa Ferraz, interior do Paraná, onde constituí minha família, desenvolvi toda a minha carreira profissional até aposentar-me por tempo de serviço, eis que agora, impelido pelo guante implacável do fado, da moira ou do destino, vejo-me hoje sob o clima instável de Curitiba, que nos faz sofrer as quatro estações do ano em um só dia.
Não cortei, entretanto, o cordão umbelical que me liga indelevelmente a Barbosa Ferraz, cidade que aprendi a amar, e onde reside meu filho primogênito com sua esposa e filhos. Lá também estão outros parentes, minha velha tapera, e os poucos mas sinceros amigos que fiz no transcorrer de minha jornada na cidade. Sem esquecer, é claro, os incontáveis ex-alunos com quem pude aprender, somando esforços e experiências, o pouco que sei dos mistérios e encantos da Língua Portuguesa (ou Brasileira?), sua gramática e sua literatura.
Estive há poucos dias em Barbosa Ferraz, uma semana mais ou menos, e como estamos em ano eleitoral, observei que as coisas andavam fervendo na hospitaleira cidade, ante a perspectiva do pleito que se aproximava e o frenesi de candidatos a prefeito e a vereadores, em busca do voto popular e da consagração eleitoral.
E, refletindo sobre o tema, ou seja, eleições, cheguei à conclusão de que estamos muito longe ainda de um efetivo exercício de cidadania, em se tratando da vida política brasileira, pois justamente neste dia em que escrevo este bilhete, inicia-se em Brasília o julgamento de um dos mais rumorosos escândalos políticos do Brasil, o famoso e muito comentado "mensalão".
Em escrito recente, numa "cartilha eleitoral" que elaborei, lembrei que, chegadas as eleições, os eleitores, geralmente bem ou mal informados, quiçá manipulados pela mídia financeiramente comprometida, votam nos candidatos impostos pelas "panelinhas" ou conchavos de sempre. E voltam para casa com a consciência tranquila pelo dever cívico cumprido. Talvez não pensem mais em eleições e em votos até o próximo pleito eleitoral.
Aliás, muitos eleitores, talvez a maioria, pensam que o dever ou o direito de votar é apenas dirigir-se à seção respectiva, entrar na fila, botar o voto na urna e voltar para casa, achando que sua participação política terminou aí.
Ledo e funesto engano. O eleitor é tão responsável pelos destinos de sua cidade tanto quanto o prefeito ou o vereador que ajudou a eleger. Se o candidato ao pedir voto prometeu uma administração transparente, correta e participativa, o eleitor deve fiscalizar e exigir que essa promessa seja cumprida, e não se torne mais uma enganação como tantas outras que testemunhamos na condução da coisa pública.
Se a administração municipal é transparente e participativa, o eleitor tem a obrigação de propor o que deve ser feito, fiscalizar o seu andamento e cobrar sua efetiva realização pelo governante. Fiscalizar, sim, os atos do prefeito e dos vereadores. Saber que é o povo que garante e paga o salário e as eventuais e condenáveis mordomias de prefeito e de vereadores, ainda que eles jurem por todos os santos que não existem as tão propaladas mordomias e malversações das finanças públicas. O famoso "mensalão" que o diga!
Ora, quem paga, com o seu minguado dinheirinho, é o nosso povo quase sempre desamparado e só lembrado em tempo de eleição. Se o povo paga, o povo é o patrão.
Gosto de lembrar que política não é assunto só de bacana, de rico, de poderoso banqueiro, ou da mídia açambarcadora. Política é coisa boa e muito séria. O que não presta é a politicalha, a politicagem, a politiquice. O que não presta e não merece o voto do eleitor que se preza é o candidato, em véspera de eleição, sair pelos bairros distribuindo camisas para clubes de futebol. dando remédios para o povão, oferecendo cestas básicas, pagando dentaduras e óculos para os eleitores desprevenidos, e muitas vezes venais, que adoram tempo de eleição, para conseguir as suas "coisinhas"...
Ao político descomprometido com o bem comum só interessa o "venha a mim". Fica fazendo pose, fazendo-se de bacana e alardeando que é o benfeitor do povo e que merece o voto. Esse é o mau político que deve ser extirpado da vida pública. Ele assume o poder, que lhe veio do povo, para perseguir adversários, para construir uma sociedade egoísta que só favorece a si próprio, aos parentes, financiadores de campanha, amigos e apaniguados.
O mau político serve-se do poder em benefício próprio ou do grupelho que o rodeia e lhe dá sustentação. O mau político não tem noção do que seja Bem Comum, e por isso não merece o voto do eleitor inteligente e que deseja exercer corretamente o seu dever de cidadania.
É o que eu desejaria lembrar, informalmente, aos eventuais leitores deste meu modesto blog, daqui da Capital de todos os paranaenses, onde nos defrontamos também, em muito maior amplitude, com estes mesmos problemas.