"Deixem o povo falar" - ouvi certa vez, em praça pública, quando ainda professor, em uma greve do magistério que reivindicava (como até hoje nestes tempos bicudos de Beto Richa e caterva), melhores condições de trabalho nas escolas publicas do Paraná.
Em um discurso sobre "ditos e expressões populares", e depois de explorado o fato, descobri e recolhi quase outras dezenas de ditos do povo que vinham mesmo a calhar. Quase todos eles mereceriam comentários. Lembro-me de um que diz:
- "A medida de ter nunca enche." Ninguém acha que já tem demais ou mesmo que já tenha bastante. É o caso de a gente comparar o "ter" com o "ser". E até, para ser mais completa a comparação, valeria a pena aproximar: "ter" com o "ser".
Pensamento que volta muito na cabeça do Povo, (como na minha), é o de que "a água só corre para o mar." "Só vem dinheiro para quem já é rico." "Só vem felicidade para quem já é feliz."
Às vezes, a gente se engana. Há pessoas que chegam a causar inveja e, no entanto, só elas e Deus sabem o que sofrem e aguentam, mesmo porque o povão costuma dizer: - "A gente vê cara e não vê coração."
O Povo alerta para o grande perigo de se "querer abarcar o Mundo com as mãos"... Que Você, benévolo leitor, entenda que aí não esteja implícito o esforço para melhor, para subir...
E estoutro: - "A vontade de ganhar tira o medo de perder..." Mas este aviso, muito querido meu, não apaga o aviso da sabedoria popular: - "A corda, muito esticada, se tora," e eu explico: se rebenta...
Meu velho pai Noé Teixeira ( e eu trago aqui o seu nome completo, para que Deus não Se esqueça de o ter na Sua paz), tinha uma frase que repetia a todo momento a seus quatro filhos, mas muito principalmente a mim, na minha vadiagem de adolescente:
- "A esperança é a última que morre." (E o fato triste é que a esperança morreu com ele)...
Nestes meus mal vividos setenta e nove anos, muitas vezes me sinto dividido entre o pessimismo próprio da idade provecta e o otimismo que o tempo levou. Se, em certas horas, penso que "a água só corre para o mar", também, sob o peso acabrunhante dos anos mal vividos, vem-me à cabeça que "a esperança e a verdade vencem qualquer desilusão." E haja desilusão!
Minha experiência, adquirida nos meus muitos anos de existência neste mundo de Deus, me ensina que o pessimismo, não raramente, vence o que, em tempos como os meus, é fácil de entender:
- "Amor, só de Deus e de Mãe."
- "Alegria de pobre é coceira de bicho de pé."
- "Além de cair do cavalo, ainda levei um coice."
Aliás, o que me consola, e eu nunca esqueço, é esta da sabedoria popular: - "A coisa melhor do Mundo é um dia atrás do outro... com uma mulata no meio."
Também sei que "água mole em pedra dura tanto bate até que fura..."
E ainda mais esta que aprendi com meu avô, analfabeto de pai e de parteira, mas cheio de muita sabedoria que a vida sofrida lhe deu:
- "Uma andorinha só não faz verão... nem traz aquilo do que temos percisão..."
Aliás, depois de aprender que "A união faz a força", aprendi também, por experiência própria, que "educação é adorno de rico e riqueza do pobre."
Depois de tudo isto, que padres, que pastores, que técnicos, que professores, nascidos aqui ou na China, em países ricos ou do Terceiro Mundo, aprendam esta lição da sabedoria milenar do Povo:
- "Ao lidarmos com o Povo (que muitos chamam de "Zé-povinho"), não nos esqueçamos um só instante de que temos muito que aprender com ele. Botemos na cabeça que ele, se não tem estudo, tem muito mais experiência de vida do que eu ou do que Você:
- "Vive aprendendo na escola do sofrimento e da vida..."
E me despeço por aqui, porque "seguro morreu de velho...", depois de ver a pancadaria que meus colegas professores levaram da polícia do Beto Richa no Centro que de Cívico nunca teve nada!...
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Aroldo Teixeira de Almeida, por males de seus pecados tanto veniais quanto mortais, é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense... Cáspite!)
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