quinta-feira, 30 de abril de 2015

A VOZ DO POVO NOS SEUS PROVÉRBIOS DE CADA DIA


            "Deixem o povo falar" - ouvi certa vez, em praça pública, quando ainda professor, em uma greve do magistério que reivindicava (como até hoje nestes tempos bicudos de Beto Richa e caterva), melhores condições de trabalho nas escolas publicas do Paraná.
           Em um discurso sobre "ditos e expressões populares", e depois de explorado o fato, descobri e recolhi quase outras dezenas de ditos do povo que vinham mesmo a calhar. Quase todos eles mereceriam comentários. Lembro-me de um que diz:
           - "A medida de ter nunca enche."   Ninguém acha que já tem demais ou mesmo que já tenha bastante. É o caso de a gente comparar o "ter" com o "ser". E até, para ser mais completa a comparação, valeria a pena aproximar: "ter" com o "ser".
           Pensamento que volta muito na cabeça do Povo, (como na minha), é o de que "a água só corre para o mar." "Só  vem dinheiro para quem já é rico." "Só vem felicidade para quem já é feliz."
          Às vezes, a gente se engana. Há pessoas que chegam a causar inveja e, no entanto, só elas e Deus sabem o que sofrem e aguentam, mesmo porque o povão costuma dizer: - "A gente vê cara e não vê coração."
          O Povo alerta para o grande perigo de se "querer abarcar o Mundo com as mãos"... Que Você, benévolo leitor, entenda que aí não esteja implícito o esforço para melhor, para subir...
           E estoutro: - "A vontade de ganhar tira o medo de perder..." Mas este aviso, muito querido meu, não apaga o aviso da sabedoria popular: - "A corda, muito esticada, se tora,"  e eu explico: se rebenta...
           Meu velho pai Noé Teixeira ( e eu trago aqui o seu nome completo, para que Deus não Se esqueça de o  ter na Sua paz), tinha uma frase que repetia a todo momento a seus quatro filhos, mas muito principalmente a mim, na minha vadiagem de adolescente:
           - "A esperança é a última que morre." (E o fato triste é que a esperança morreu com ele)...
           Nestes meus mal vividos setenta e nove anos, muitas vezes me sinto dividido entre o pessimismo próprio da idade provecta  e o otimismo que o tempo levou. Se, em certas horas, penso que "a água só corre para o mar", também, sob o peso acabrunhante dos anos mal vividos, vem-me à cabeça que "a esperança e a verdade vencem qualquer desilusão."  E haja desilusão!
           Minha experiência, adquirida nos meus muitos anos de existência neste mundo de Deus, me ensina que o pessimismo, não raramente, vence o que, em tempos como os meus, é fácil de entender:
           - "Amor, só de Deus e de Mãe."
           - "Alegria de pobre é coceira de bicho de pé."
           - "Além de cair do cavalo, ainda levei um coice."
           Aliás, o que me consola, e eu nunca esqueço, é esta da sabedoria popular:                                              - "A coisa melhor do Mundo é um dia atrás do outro... com uma mulata no meio."
           Também sei que "água mole em pedra dura tanto bate até que fura..."
            E ainda mais esta que aprendi com meu avô, analfabeto de pai e de parteira, mas cheio de muita sabedoria que a vida sofrida lhe deu:
            - "Uma andorinha só não faz verão... nem traz aquilo do que temos percisão..."
            Aliás, depois de aprender que "A união faz a força", aprendi também, por experiência própria, que "educação é adorno de rico e riqueza do pobre."
            Depois de tudo isto, que padres, que pastores, que técnicos, que professores, nascidos aqui ou na China, em países ricos ou do Terceiro Mundo, aprendam esta lição da sabedoria milenar do Povo:
            - "Ao lidarmos com o Povo (que muitos chamam de "Zé-povinho"), não nos esqueçamos um só instante de que temos muito que aprender com ele. Botemos na cabeça que ele, se não tem estudo, tem muito mais experiência de vida do que eu ou do que Você:
            - "Vive aprendendo na escola do sofrimento e da vida..."
            E me despeço por aqui, porque "seguro morreu de velho...", depois de ver a pancadaria que meus colegas professores levaram da polícia do Beto Richa no Centro que de Cívico nunca teve nada!...
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Aroldo Teixeira de Almeida, por males de seus pecados tanto veniais quanto mortais, é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense... Cáspite!)

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quinta-feira, 16 de abril de 2015

O MISTÉRIO DAS MÃOS



             Não sei se Você, benévolo leitor, já dedicou um espaço de seu valioso tempo para meditar sobre algo que sempre me impressionou: as nossas mãos, o mistério das mãos...
          Elas se prestam a mil e uma ações, mas vou falar principalmente sobre as ações boas, recomendáveis.
               Na verdade, nossas mãos se prestam a gestos e ações altamente construtivas, grandes e belas. E eu penso em mãos postas, acompanhando preces: e penso, de modo especial, nas mãos postas de minha querida neta adolescente, a Isabela, rezando pela sua mãe, Raquel, minha filha, há já algum tempo falecida, vitimada pelo insidioso câncer...
             Mãozinhas de crianças que a jovem mãe junta, enquanto elas aprendem a rezar; mãos trêmulas de velhinhas, que pedem pelos filhos e netos ausentes...
             Mãos de cirurgião, que salvam vidas, não raro com extrema habilidade... Basta lembrar a perícia com que cirurgiões hoje em dia manejam cérebros e corações...
             Mãos calosas de trabalhadores braçais, quase sempre tão mal remuneradas por patrões insensíveis... 
             O computador tirou trabalho de muitas, mas ainda há datilógrafas que vencem, por minuto, um número incrível de batidas. Que eu respeite as mãos tão úteis dessas profissionais.
             Mãos de músicos de bandas, que sempre me deliciaram, transportando-me para além do espaço e do tempo.
             Mãos que semeiam... E aqui me lembro de meu velho pai, que até seu último ano de vida, batalhou em seu pequeno sítio, em São João da Boa Vista, São Paulo, para o sustento de seus três filhos, além de netos órfãos de pai e de mãe.
              Mãos de pintores e de escritores: mãos de Machado de Assis, que criaram a inolvidável Capitu, que até hoje, embora eu já esteja carcomido pelo tempo implacável, ainda a considero minha namorada querida, inesquecível.
              Mãos de artistas de todas as artes, que fazem tudo para não trair os sonhos de beleza que estavam no pensamento e no coração, tornando um pouco mais humano este nosso e velho mundo, ainda tão cheio de maldades.
               Mãos de técnicos de rádio, TV, cinema, que me permitem viver, na hora, os grandes acontecimentos de qualquer parte do mundo; às vezes, até do mundo sideral, interplanetário.
               Mãos que acariciam: mãos de mães, mãos de namorados, mãos de esposos... Mãos incansáveis e carinhosas de minha mulher!
               Seria facílimo continuar. Mas é importante lembrar que vivemos num mundo carregado de maldades, que se fecham,egoístas e avaras. Há mãos  que se crispam, cheias de ódio, chegando, por vezes, ao extremo do terrorismo, arrasando, ferindo, matando, sem distinguir crianças, idosos, inocentes...
                 Há mãos que batem a porta a quem precisava entrar, merecia entrar...
               Há mãos preguiçosas, especialistas  em jogar em cima dos outros as tarefas que lhes cabia fazer...    
                Há mãos que roubam de ricos e até de pobres. Há mãos que sequestram pessoas, que fazem reféns...
              Há mãos que metralham, jogam bombas arrasadoras e, inclusive, bombas que queimam a criatura viva, ou ainda que são ameaça permanente de extermínio da vida na Terra.
                 E então é tempo para que rezemos:
                Jesus, em Tua encarnação, em Tua Vida Mortal, usaste Tuas mãos de modo admirável. Elas passaram fazendo o bem nos caminhos da Palestina.
                Portanto, Senhor Jesus, faze que minhas mãos estejam sempre mais a serviço do Bem, da Beleza! A serviço dos pobres, dos sofredores, dos desamparados!
           Que minhas mãos, à imitação das Tuas, sejam mãos semeadoras de Tranquilidade, de Esperança, de Amor e de Paz! Amém.

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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense.







segunda-feira, 13 de abril de 2015

BLAISE PASCAL E A PENUMBRA DA FÉ



                  Estamos dentro de um tempo litúrgico que denominamos de "Tempo Pascal", porque nele comemoramos os mistérios de nossa redenção realizada pela vida, paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
                  Jesus Cristo,  "Deus suficientemente revelado na Bíblia Sagrada, para que O encontrem aqueles que verdadeira e sinceramente O procuram. Mas Deus suficientemente oculto  na Bíblia Sagrada, para que não O encontrem aqueles que de todo o coração não O procuram."
                  Esta profunda intuição de Pascal, nos seus "Pensamentos", constitui o centro da Fé cristã, porque este centro é Cristo, e Cristo é precisamente o "Deus ao mesmo tempo revelado e oculto".
                  Pascal compreendeu admiravelmente que a "penumbra das Escrituras é a mesma que vela a divindade de Cristo na encarnação e na paixão do Verbo Encarnado", como acabo de ler no seu livro. E ele acrescenta que Deus concordou em ser crucificado, corporalmente na Cruz, e espiritualmente nos Evangelhos; estes fatos são "uma penumbra que vela e revela" conjuntamente a presença do Deus de amor.
                  É a "nuvem luminosa" do Antigo Testamento: Deus "plantou a Sua tenda" entre nós, "revestindo a nossa carne" e "aparecendo entre os homens". Esta penumbra é Jesus Cristo.
                  Se Deus Se encarnou, é porque não podia ser de outro modo. Se resolveu um dia, por amor, fazer-Se pobre para que nós sejamos ricos, fazer-Se homem, para que nós nos tornemos de certo modo deuses, é porque não podia manifestar-Se de outro modo senão nessa "coluna de nuvem", escura durante o dia e luminosa de noite, guiando o povo de Israel em sua viagem através do deserto, para a "Terra Prometida". A penumbra da Fé é justamente o que nos dá o Deus da Fé.
                  E Pascal  passa a explicar-nos que penumbra quer dizer misto de claridade e escuridão, claro-escuro: ela deve conter Deus. Há escuridão, visto que Deus Se oculta, revestindo as causas segundas; e há também claridade, porque através desse determinismo aparente, Deus Se mostra.
                  Longe da penumbra da Fé ser uma objeção primordial à Fé, pelo contrário ela é o indício mesmo de que Deus pode estar nela e que é racional procurá-Lo nela.
               O âmago do Cristianismo é o mistério dessa "humildade de Deus". Em vez de Se manifestar em todo o poder de Sua glória, Deus oferece-Se humildemente à terra. Apresenta-Se sob "textos" que podem ser contestados, mal interpretados, negados, destruídos. Chama-nos pela voz de uma "Igreja" que é, por sua vez, indefesa, humilde e doce de coração, a imagem de Jesus, seu Esposo, vestida, como Davi, com a simples pele de pastor...
                 O Senhor da glória não quis o poder, porque o amor quer a doçura humilde e gratuita, não se defende, oferece a cabeça aos matadores. Contudo, é mais poderoso que a morte, e torrentes de água não poderiam extinguir o fogo da Sua Caridade. O Amor quer também a vida, a doce vida é o que Ele nos dá, e não o nada.
                 Conclui Pascal que o amor de Deus certamente é loucura aos olhos de determinada sabedoria humana. Mas esse amor é "racional", de uma sabedoria superior que é a de Deus, que é Amor. E a vida mais "verdadeira" não consiste justamente "em amar"?

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital dos paulistas.

sábado, 11 de abril de 2015

A PROPÓSITO DE 'RELIGIÃO'



                  Sendo a Religião princípio e fonte da mais profunda liberdade, todos os sistemas totalitários, de modo aberto e implícito, forçosamente A atacam. Ao mesmo tempo, a situação é muito complexa, pois os que atacam a Religião raramente o fazem a não ser em nome dos mesmos valores que a própria Religião protege.
                  Todos os ataques  a crenças religiosas devem ser, em certa medida, considerados como juízos parciais pronunciados pela História sobre a Religião organizada.
                   A mínima falta em relação à fidelidade, à liberdade interior, à integridade, à verdade, provoca, instantaneamente, a crítica e o ataque dos que querem destruir a Religião, provando não ser ela e nunca ter sido  o que pretende ser.
                   O culto do Absoluto é atacado em nome do absoluto. A verdade é destruída em nome da verdade. Mas o fato de que esses ataques à Religião geralmente se baseiam na incompreensão  --  porque lhes falta a compaixão, e esta lhes falta não por conhecerem o homem  -  significa que mesmo a mais sincera crítica à Religião sempre contém alguma cegueira culpável.
                   Não digo isto lançando a culpa sobre pessoas que, ao atacar a Religião, foram talvez mais íntegras do que eu tinha sido em praticá-la. Entretanto, o essencial é compreender que o princípio básico de toda liberdade espiritual é o seguinte: toda liberdade em relação ao que é inferior ao homem e mulher  significa, em primeiro lugar, submissão àquilo que é mais do que o homem e a mulher.
                   E essa liberdade começa com o reconhecimento de nossa própria limitação.
                   Assim, atacar a Religião porque seres humanos têm limitações humanas e procuram ser libertados delas, é uma espécie de farisaísmo. Mas esse farisaísmo é, por sua vez, devido, possivelmente, em grande parte, ao farisaísmo de pessoas religiosas que, uma vez abraçado um ideal espiritual como digno de crença e de admiração, começam logo a falar e agir como se já o tivessem atingido de fato.
                   O melhor não é o ideal. Onde aquilo que é teoricamente melhor é imposto a todos como norma, não há mais lugar nem mesmo para ser bom.  O melhor, imposto como norma, torna-se verdadeiramente um mal. 

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       Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.
   

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O MEU 'PAI NOSSO' DE TODOS OS DIAS


             Meu querido Pai do Céu, eu sei muito bem que Você está no Céu. Mas prefiro sentir Você aqui na Terra, nas tarefas do meu dia-a-dia. Deixe-me sentir Você de mãos dadas comigo, passeando ali pela XV de Novembro, em qualquer manhã fria de Curitiba. Aliás, diga-me Você: qual a manhã que não é fria em Curitiba?
         Deixe-me sentir Você ao meu lado, atravessando a rua, movimentadíssima, fora da faixa de pedestres, com um olho na barraquinha de cachorro-quente, e do outro lado a balança, me fazendo caretas ali da farmácia da esquina.
          Vim de longe, lá do Tingui, para resolver problemas burocráticos aqui no Centro. E, enquanto espero que o escritório se abra, deixe-me sentir Você sentado do meu lado neste já tradicional "inferninho da XV"  (desculpe a blasfêmia, mas é mera questão de neologismo, e nisto eu sou mestre, pois tenho diploma universitário de professor de Português)...
           Estou vendo Você aí piscando disfarçadamente quando o garçom me trouxe a segunda dose de "batidinha..." Não tem importância não, pois comecei a gostar de "batidinha" ainda molecote,  num boteco do meu pai lá em Caldas, na velha Minas Gerais...
            De repente, não sei porquê, mas vendo aqueles garotos ali com os pais, tomando refrigerante, me deu uma saudade tremenda de meus dois filhos queridos, a Raquel e o Júlio, já falecidos. E suplico a Você,  meu Pai do Céu, que os tenha na paz do Paraíso.
            Estou chorando sim, mas não se importe com o meu choro de saudade deles, porque sei que foi Você quem inventou o choro e a lágrima, e Você sabe sempre o que faz.
            Deixe-me sentir Você se revoltar comigo porque eu lhe disse que "adoro" a Capitu do "Dom Casmurro",  - só devo adorar Você!  -  e uma vizinha, professora, me chamou de "atrasado" por ler Machado de Assis e deixar de lado a literatura moderna...
            Deixe-me perdoar certa gente que só sabe odiar, porque nunca aprendeu a amar. Deixe-me entender os bêbados que estão dando espetáculo ali no boteco em frente, e nem ouvindo o vozeirão da Inesita Barroso na vitrola...  Pois eu gosto dela e do seu vozeirão, que me lembra o vento ruidoso das tardes de tempestade.
            Deixe isso tudo e mais uma porção de coisas que eu não me lembro agora, mas depois eu posso lembrar e lhe dizer na hora da oração da noite.
            E não adianta fazer essa cara de zangado, porque eu sei que no fundo Você está rindo de mim e me perdoando.
            Digo isto porque Você está no Céu e porque não foi à toa que Você resolveu ressuscitar Seu  Filho Nosso Senhor Jesus Cristo, na semana passada, como aprendi nas cerimônias da Semana Santa na igreja do  meu bairro...

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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense.


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domingo, 5 de abril de 2015

PÁSCOA DO SENHOR - NOVA CRIAÇÃO E NOVO ÊXODO



            Hoje ressoa na Igreja o anúncio pascal:  Cristo ressuscitou: Ele vive para além da morte  -  é o Senhor dos vivos e dos mortos.
            Na "noite mais clara que o dia" a palavra onipotente de Deus, que criou os céus e a terra, e formou homem e mulher à Sua imagem e semelhança, chama a uma vida imortal  o "homem novo", Jesus de Nazaré, filho de Deus e filho de Maria.
            NEle, a semente da vida divina, depositada inicialmente na criatura, atinge uma maturação pessoal única, porque nEle habita a plenitude da divindade, a do Filho Unigênito. A humanidade vê realizada, por dom gratuito de Deus, a grande e secreta esperança: uma terra e céus "novos", um mundo sem luto e sem lágrimas, paz e justiça, alegria e vida sem sombras e sem fim.
            Tudo isto, porém, não é visível; só aos olhos de quem crê é dado discernir os traços da nova criatura que se está formando na obscuridade e no trabalho da existência terrena. A morte é vencida pela morte livremente aceita por Cristo; mas ela continua a agir até que tudo seja cumprido.
            O pecado é vencido pelo sacrifício do inocente; mas o mistério da iniquidade acompanha a existência humana até o último dia. No Senhor ressuscitado, a morte e o pecado encontram um sentido aceitável, inserem-se num desígnio cheio de sabedoria e de amor, não mais causam medo, porque pertencem ao velho mundo de que fomos libertados.
            O "homem novo" revelado em Cristo é o homem verdadeiro, assim como Deus o concebeu desde toda a eternidade, é o homem fiel à vocação de homem.
            O "homem novo" não é "outro" homem,  alienado da condição terrestre  para ser posto num paraíso qualquer. A oposição se acha entre o pecado e a Graça. O homem velho vive na ilusão de poder realizar seu destino recorrendo unicamente a seus recursos.                                                                                 O "homem novo" realiza perfeitamente a vontade de Deus, único que pode admiti-lo à condição "filial"; sabe que o conteúdo da sua fidelidade à vocação recebida reside na obediência à condição terrena até a morte; sabe que o seu "sim" de criatura constitui o suporte necessário do "sim" do filho adotivo de Deus.
            Esta é a "novidade"  de que os cristãos são "testemunhas"  no mundo.
         
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Aos eventuais e benévolos leitores deste blog desejo uma santa Páscoa cristã e, em decorrência desta, uma festiva páscoa celebrada em suas comemorações familiares, sempre sob as bênçãos do Senhor Ressuscitado.


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sábado, 4 de abril de 2015

Sábado santo: A SEPULTURA DO SENHOR



            Como a semente confiada à terra, Cristo Nosso Senhor "repousa" no sepulcro, à espera da ressurreição. E nós, cristãos, velamos junto ao túmulo do Senhor, participando de Seu mistério. De fato, esperamos  também a ressurreição no último dia, o grande "dia do Senhor".
            O sábado santo e, tradicionalmente, na liturgia católica, um dia sem assembléia eucarística, e este "jejum eucarístico" prepara a festa da noite de Páscoa.  Celebram-se, no entanto, os vários momentos da "Liturgia das Horas", na qual o tema dominante é a esperança da ressurreição e a entrada do Messias, vencedor da morte, no santuário do Céu.
             A ressurreição do Senhor transcende toda perspectiva de sobrevivência e de prolongamento da vida terrena, inaugurando um modo novo de existência, que as leituras do Novo Testamento colocam em foco sob diferentes aspectos. 
             Um deles é a "descida de Cristo aos infernos", isto é, a habitação dos mortos, que é recordada no símbolo da Fé  batismal, como um momento importante na história de nossa salvação.
             Cristo, verdadeiro homem, experimentou profundamente o aniquilamento da morte, para efetuar a vitória sobre ela e tornar dela participante quem nEle crê. Em Cristo, novo Adão, os justos do Antigo Testamento e todos os homens e mulheres que buscaram a Deus com coração reto, encontram a plenitude daquilo que viveram na Esperança.
              Cristo, o homem fiel a Deus, não foi "entregue à corrupção, mas "vivificado pelo Espírito", subiu ao Céu proclamando a glória de Deus e manifestando-se Senhor de "todas as coisas", , "no Céu, na Terra, e debaixo da Terra."
              Assim, para todo aquele e aquela que creem, a  morte não é o fim da vida, mas a vitória sobre os limites da condição terrena e a participação da Vida Eterna de Deus.
               E o Batismo é uma simbólica descida à morte junto com Cristo, para emergir, com Ele, na liberdade dos filhos de Deus.
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Aproveito o ensejo para desejar a todos os eventuais leitores deste blog uma santa e feliz Páscoa, no seguimento Senhor Jesus morto e ressuscitado na glória de Deus Pai.

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.
      
   
 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Quinta-feira Santa := A DESPEDIDA DE JESUS



            O evangelista João, no capítulo 17 de seu Evangelho, transmite-nos  a mensagem de despedida de Jesus, na Sua última ceia junto aos Apóstolos.
            Podemos considerar neste discurso de despedida diversos temas, que formam uma unidade temática possível de ser resumida  nos seguintes temas:
            17,1-5 : oração pela glorificação de Jesus,
            17, 6-19 : oração pelos discípulos,
            17, 20-23: oração pela unidade dos cristãos,
            17, 24-26: oração pela consumação, na eternidade, da comunidade de salvação.

             Resumidamente:

              I  - "Chegou a hora":
             A "hora" é o agora e o hoje, dispostos nos eternos desígnios de Deus, que neste instante da história terrena se acha "aqui presente".
             É a hora em que o poder do mal e do mundo passou, porque chegou a hora de Jesus. A gravidade e importância desta "hora" não residem no que acontece com Cristo,  mas no que se opera por Cristo.
             II - "Glorifica o Teu Filho, para que o Teu Filho Te glorifique."
             Esta glorificação do Pai realiza-a Cristo continuadamente na Sua Igreja, sendo a celebração da Eucaristia a mais intensa forma  dessa perene ação de graças, por ser "anúncio"  da glória do Pai e não apenas comemoração retrospectiva da obra salvífica de Jesus.
            III - "...para que Te conheça a Ti, único verdadeiro Deus, e Aquele que enviaste, Jesus Cristo."
            Sem Cristo não há senão conhecimento genérico e vago de Deus. Só quem conhece a Cristo, conhece também o Pai, pelo Espírito Santo. -"Ninguém pode ir ao Pai senão por meio de mim."
            IV - "Glorifica-Me Tu, ó Pai, junto de Ti, com aquela glória que eu gozava junto de Ti antes que o mundo existisse."
            O evangelista fala da glória eterna do Filho, anterior à origem do mundo, com peculiar insistência, maturidade e segurança teológica.
            V - "Manifesta o Teu nome aos homens."   
             O nome, na concepção judaica, identifica-se com a pessoa e o ser de seu portador. Conhecer o nome equivale a colocar-se sob a proteção de quem o usa.
             A mensagem de Cristo faz conhecer aos homens a grandeza, a bondade e a misericórdia de Deus Pai.
             VI - "Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal."  
              Perseguições e tribulações serão os caminhos da Igreja, a qual, entretanto, tem uma grande consolação: a perene intercessão de Cristo a acompanhá-la e protegê-la, de modo a não prevalecer o mal, que seriam os inimigos de Cristo e da Igreja.
             VII - "Para que todos sejam uma só realidade, assim como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, a fim de que o mundo creia que Tu Me enviaste." 
              O Evangelista fala  de tríplice unidade: da unidade dos cristãos entre si, da unidade divina do Pai e do Filho, da unidade e do mais íntimo liame vital entre Deus e os fiéis.  Somente a unidade e o verdadeiro amor dos cristãos criam a atmosfera religiosa que facilita a fê em Jesus Cristo. A divisão dos cristãos é, portanto, o maior obstáculo à fé em Jesus e em Sua obra de salvação.
              VIII - " Quero que, onde Eu estiver ,  eles estejam também Comigo, para verem a Minha Glória."
             "Ver a glória de Cristo" é um daqueles dons escatológicos que, não obstante serem experimentados em plenitude somente no Céu, já podem  ser "prelibados"  cá na Terra.
               O grande desejo do Senhor é a unidade da comunidade de salvação da Nova Aliança.  Infelizmente, o escândalo da divisão entre os irmãos cristãos é uma realidade da história da Igreja.   


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                A "oração de despedida" ,  de Jesus, transborda de conhecimentos sobre a Santíssima Trindade, adquiridos na oração e na contemplação, sob a ação do Espírito Santo.

                Refere-se à revelação do nome do Pai, mas sobretudo ao amor e à glória que o eterno Filho possuía já  "antes da criação do mundo" (Jo 17,24).   
                O Pai ama o Filho não só por causa do ato de obediência  cumprido na obra da Redenção, mas "desde a Eternidade".   Simultaneamente atrai nossa atenção à comunhão de vida da Graça, na qual a comunidade dos remidos é admitida em Cristo, com Cristo e por Cristo. Assim seja.

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Aroldo Teixeira  de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.