sexta-feira, 30 de março de 2012

POR UM SADIO E NECESSÁRIO ECUMENISMO

      Nos inícios da década de sessenta, quando da realização do Concílio Ecumênico Vaticano II, estando eu cursando Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na capital paulista, tive contato com o profeta do ecumenismo entre as várias igrejas da ecumene Cristã, o controvertido teólogo suíço-alemão, Hans Küng. A partir daí passei a me interessar pelo ecumenismo, e cheguei à conclusão de que apenas a Igreja Católica e a Anglicana deram passos concretos na busca de uma aproximação realmente ecumênica.
     Em vista disso, acho que é imperioso que todas as confissões religiosas deixem suas quizílias de lado e se empenhem a  integrar de forma crítica e construtiva a herança protestante, a herança ortodoxo-oriental e a herança católica,  preservando cada uma delas sua própria tradição, e ao mesmo tempo superar suas limitações confessionais e assumir as coisas boas das outras confissões. Para que este desideratum se torne efetivo, se faz necessário o seguinte roteiro: SIM à Bíblia, à Tradição e à autoridade; um rigoroso NÂO ao biblicismo e à bibliolatria, ao tradicionalismo e ao autoritarismo.
      1 - De acordo com a teologia protestante, dever-se-ia afirmar que a Escritura Sagrada é o fundamento permanente e inviolável de toda a teologia ecumênica verdadeiramente cristã.
      Portanto, um SIM à Bíblia, mas também um NÃO ao biblicismo e a uma perigosa bibliolatria, que tende a idolatrar a letra da Bíblia, ou que em nome de uma suposta ortodoxia protestante acuse de anti-evangélica qualquer crítica a ela.
      Os teólogos protestantes têm não só o direito mas o dever de distinguir os princípios bíblicos que podem ser divergentes, contrastantes e em alguns aspectos até mesmo parcialmente contraditórios. Com isso a autoridade da Bíblia não se enfraquecerá, mas brilhará com nova luz.
      2 - De acordo com a teologia ortodoxo-oriental, cumpre respeitar a Tradição: a verdade cristã tal qual foi vivida na Igreja e que ela tentou proteger desde tempos antigos. Esta verdade cristã continua viva não só nas decisões conciliares e nos escritos dos teólogos, mas também no anúncio do Evangelho, feito por párocos e leigos na liturgia, nos sacramentos e particularmente no testemunho do simples cristão e de suas comunidades.
      Portanto um SIM à Tradição, mas também um NÃO ao tradicionalismo, que tenta idolatrar a Tradição e a rejeitar qualquer crítica à mesma como anti-ortodoxa. Com isso a autoridade da tradição não se enfraquecerá, mas se imporá novamente de uma forma mais pura.
      3 - De acordo com a teologia católica deve-se respeitar a Autoridade Eclesiástica: a autoridade pastoral dos dirigentes da Igreja em nível local, regional euniversal - a autoridade dos párocos, dos bispos e também a do bispo de Roma, o Papa.
      Portanto, um SIM à autoridade, mas também um rigoroso NÃO ao autoritarismo eclesiástico, que tende a idolatrar a autoridade e a rejeitar como anti-católica qualquer crítica à mesma em nome de uma suposta ortodoxia católica. Em vez de  falar concretamente do Papa e dos bispos, fala-se de maneira abstrata e anônima do "magistério", termo que não tem fundamento nem na Bíblia nem na tradição antiga, e que supõe a distinção totalmente bíblica entre a Igreja docente (a hierarquia eclesiástica), e a Igreja discente (os leigos),
     Os teólogos católicos têm o direito e o dever de exercer uma crítica pública à Igreja e, se for necessário, "opor-se abertamente" a ela, como o apóstolo Paulo ao apóstolo Pedro, caso se modifiquem consciente ou inconscientemente os enfoques bíblicos em declarações oficiais, nos manuais e catecismos, nas encíclicas e cartas pastorais, na prática pastoral e na vida de fé da comunidade e dos fiéis em geral. A partir daí, tentarão expor a verdadeira mensagem de Jesus Cristo globalmente e também em seus detalhes. Com isso a autoridade da Igreja não vai desaparecer, mas será apresentada de forma crível e renovada.
      Conclusão:
      - o cristão protestante não crê na Bíblia, mas nAquele de quem ela dá testemunho.
      - o cristão ortodoxo-oriental não crê na Tradição, mas nAquele que ela transmite.
      - o cristão católico não crê na Igreja, mas nAquele que ela anuncia.
      Portanto, Jesus de Nazaré, o Cristo de Deus, permanece para sempre o Senhor absoluto sobre a autoridade eclesiástica, sobre a Tradição, e sobre a Escritura Sagrada, pois só Ele é "a Palavra", só Ele é "a Verdade".


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Reflexão para o Domingo de Ramos:-

                                                A DIVINDADE ESCONDIDA

      A paixão de Jesus de Nazaré, segundo o evangelista Marcos, tirada do conjunto da vida de Jesus, é chocante. O evangelista não caiu na tentação de minimizar a tragicidade da experiência de Jesus nem, muito menos, esvaziá-la, apelando para a certeza da ressurreição.
      No Getsêmani, Jesus de Nazaré provou uma grande tristeza e ficou angustiado. Suspenso na cruz, fez a experiência do abandono por parte do Pai. Some-se a isto, a traição de Judas que, com um beijo, entregou-O a seus adversários. A tríplice negação de Pedro, incapaz de ser verdadeiro diante de uma empregada do sumo sacerdote. A fuga dos demais discípulos, atemorizados diante do destino do Mestre. Toda uma trama armada para garantir uma sentença dada à revelia do acusado. A paixão, calcada na figura profética do Servo Sofredor, em Isaías, apresenta a figura de Jesus despida de qualquer dignidade, reduzida à condição de trapo humano.
      Dois gestos, em relação a Jesus, são dignos de nota. A exclamação do militar romano, um pagão que fez uma leitura correta da paixão, reconhecendo ser Jesus, de fato, o Filho de Deus; como também o gesto solidário de algumas mulheres que O seguiram até o fim.
      Embora escondida, é necessário reportar-se à divindade para se compreender a paixão de Jesus. Caso contrário, sua morte teria sido um episódio irrelevante.

Oração:-

      Senhor Jesus, como o oficial romano, confesso a tua condição de Filho de Deus crucificado. Que eu compreenda o sentido verdadeiro de tua paixão.

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segunda-feira, 26 de março de 2012

ESTRUTURAS DE PECADO

      O apóstolo Paulo, na sua carta a Filêmon, exorta os amos a que sejam bons amos; exorta também os escravos a que sejam bons escravos, em tudo submissos a seus amos. Se os amos atendessem à exortação de Paulo, com certeza seriam considerados santos. Do mesmo modo os escravos. Amos e escravos seriam perfeitos cristãos, na concepção paulina, mas a estrutura social em que viviam, permitindo a escravidão humana, continuaria intata. A razão é muito simples: para que a estrutura seja realmente cristianizada, é necessário que os assim ditos cristãos tomem consciência das dimensões socias e históricas dos Evangelhos, dimensões essas que não podem coexistir com uma estrutura de escravidão.
      Ora, a escravidão humana durou até fins do século XIX. Países que se diziam cristãos, como foi o caso do Brasil, conviveram pacificamente com ela, tiraram proveito dela sem que isso lhes trouxesse a mínima consciência de sua perversidade e sua não conformidade com os ensinamentos de Jesus de Nazaré e com a dignidade essencial da pessoa humana.
      A realidade é triste, mas foi a pura verdade neste nosso Brasil: por estranho e inexplicável paradoxo, foram as grandes ordens religiosas católicas que sacramentaram, pela maioria de seus bispos, a hedionda instituição do escravagismo. Pois não é que os beneditinos (donos de instituições respeitadíssimas, como os mosteiros de São Bento no Rio, São Paulo, Olinda e Salvador), os jesuítas (defensores dos índios), e os franciscanos (pax et bonum = paz e bem) foram proprietários de milhares de escravos? Cuidavam dos bens celestiais, mas inventariavam seres humanos como peças do patrimônio material, sem nenhum pudor, dizem-nos os historiadores e estudiosos do tema.
      Durante todo o tempo em que durou o regime de escravidão se afirma que houve milhares de santos que viveram sob tal regime. Segue-se daí que só pelo fato desses homens e mulheres serem individualmente santos, as estruturas sociais seriam necessariamente também santas? Ledo  e leso engano: a História é testemunha da inverdade desta afirmação.
      Na realidade, queiramos ou não, as estruturas criam mentalidades coletivas. Quando uma estrutura facilita a ação num determinado rumo, a experiência mostra que a maioria das pessoas age nesse rumo, sem questionar se moral e eticamente esse seu comportamento é justo. Um só exemplo, entre muitos outros: a estrutura de mercado no regime capitalista, fundamentada no livro jogo da oferta e da procura, visando sempre a um maior lucro, permite a sonegação de produtos para forçar o aumento de preços. E não é que muitos comerciantes que se dizem cristãos, que frequentam igrejas e templos, se aproveitam desse sistema, desculpando-se com o "negócio é negócio, religião é outra coisa", e o "todo mundo faz assim?"
      Outro exemplo: o estado de subdesenvolvimento e marginalização de muitos países, notadamente os do chamado terceiro mundo, é devido à estrutura do comércio e das políticas financeiras internacionais, e essa estrutura, por sua vez depende das estruturas globalizantes e hegemônicas do capitalismo financeiro, especulativo e predatório, bem como de seu corolário lógico, as estruturas políticas internacionais. É fácil multiplicar os exemplos. Mas permanece o fato: não é a simples mudança de mentes e de corações que causará a derrota das injustiças sociais.
      Toda estrutura, seja política, econômica, jurídica, social, ou outra qualquer, influi ao menos indiretamente sobre o comportamento humano. Tanto é verdade, que a estrutura familiar influi sobre o comportamento de seus membros: o filho único desenvolve-se diferentemente daquele outro, cujo caráter deva defrontar-se com seus demais irmãos ou irmãs. Não é indiferente que se esteja numa estrutura ou noutra, porque toda e qualquer estrutura condiciona nossa liberdade, queiramos ou não.
      O estudo das estruturas da renda nacional revelará desigualdades que obrigam o éxodo quase compulsório de uma porcentagem de moças do interior para as metrópoles, e pode-se ver nessa estrutura uma das causas remotas da prostituição.
      O cristão idealista e de boa fé poderá objetar que uma pessoa moralmente consciente é sempre capaz de reagir contra uma estrutura perversa. A experiência, porém, mostra-nos que reagir habitual e frutuosamente contra tal estrutura é algo possível apenas a uma minoria de pessoas: os heróis e os santos, e se bem que todos nós sejamos chamados à santidade em Cristo, o heroísmo é exceção em todas as ordens da vida, e nem sequer dá sempre resultados satisfatórios. Acrescente-se que para o comum de homens e mulheres a virtude não será possível sem um quadro social que lhes faculte um clima de conforto e de estímulo para o bem.
      Este ensinamento clássico da espiritualidade cristã vem sendo reclamado com insistência por todos os Papas, desde Leão XIII até o atual, Bento XVI. - "O Estado, cuja razão de ser é a realização do Bem Comum na ordem temporal, não pode manter-se ausente do mundo econômico: deve intervir com o fim de promover a produção de uma abundância suficiente de bens materiais, cujo uso é necessário para o exercício do bem-viver."
      Reagir pode ser exigido, em certas circunstâncias, a uns poucos, mas para a imensa maioria das pessoas é necessário oferecer-lhes estruturas sadias, às quais apenas excepcionalmente se tenha que enfrentar.
      Não se pode modificar de imediato uma estrutura já firmemente estabelecida e defendida com unhas e dentes por aqueles que dela se beneficiam. Mas trabalhando-se com tenacidade, persistência, perseverança e lucidez, é sempre possível criar nas pessoas uma mentalidade transformadora. Além disso, há ocasiões ou momentos decisivos e privilegiados em que algumas vontades individuais são chamadas a intervir pró ou contra uma modificação de determinada estrutura claramente lesiva ao Bem Comum ou em desacordo com as convicções de parcela significativa da população.
      Aquela pessoa, aquele líder comunitário, qualquer detentor de poder político que, tendo tomado consciência do problema, não aproveita todas as ocasiões que se lhe oferecem para influir sobre essa estrutura injusta e de pecado, toma sobre si pesada responsabilidade diante do sofrimento de seus irmãos.


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      Comemoramos dias atrás  o Dia Internacional da Mulher. Em homenagem a todas as mulheres deste nosso mundo segue o texto abaixo, apesar de eu saber perfeitamente que elas merecem muito mais do que belas palavras.

                                                                  SEM CULPA

                                                            Mulher feliz é mulher
                                                            que escolhe seu destino.
                                                            Escolhe ser mãe ou não.
                                                            Escolhe ser casada ou solteira.
                                                            Escolhe cair na balada
                                                            ou pegar um cineminha.
                                                            Escolhe deixar o filho
                                                            na creche ou com o pai,
                                                            ou o avô ou o tio.
                                                            Compartilha responsabilidades.
                                                            Reivindica melhores salários
                                                            Participa ativamente da política
                                                            - porque é lá
                                                            que suas escolhas se ampliam
                                                            cada vez mais.
                                                            Mulher feliz é mulher
                                                            sem culpa de exercer o poder
                                                            sobre sua própria vida.
                                                            Essa é a mulher eterna
                                                            que eu amo!
                                                            
     
          

      

quarta-feira, 21 de março de 2012

UM ENSAIO SOBRE O CÂNCER

      Rememorando os fatos:
      Minha avó materna morreu de câncer no aparelho digestivo.
      Seus dois filhos, meus tios, na faixa de 40-50 anos, morreram também do mesmo tipo de câncer.
      Um meu sobrinho, rapaz, jovem, morreu de câncer, creio que do sistema linfático.
      Meu irmão, 42 anos, morreu de câncer na garganta.
      Minha filha Raquel, 43 anos, morreu de câncer de mama e suas complicações.
      E eu me pergunto: são genéticas as causas do câncer? Seria ele hereditário?
      Eis que recebo agora um alentado e muito oportuno email de minha amiga baiana Clélia Rocha contendo um minucioso estudo sobre essa maléfica doença com o título de  "A causa primária e a prevenção do câncer", tese do doutor Otto Heinrich Warburg (1883-1970), prêmio Nobel em 1932 justamente por essa tese sobre a origem do câncer.
      O texto a mim enviado é bastante longo, e tentei resumi-lo o máximo possível. Se consegui, dou-me por bem pago, pois o assunto é de grande importância. As partes assinaladas por aspas são da Clélia, ou dos autores por ela citados.

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       Diz ela que, segundo o doutor Otto, o câncer é a consequência de uma alimentação antifisiológica e de um estilo de vida também antifisiológico, e explica:
      Uma alimentação antifisiológica (= dieta baseada em alimentos acidificantes) + sedentarismo, cria no organismo humano um ambiente de acidez. E esta acidez, por seu lado, expulsa o oxigênio das células.
      O excesso de acidez provoca automaticamente a falta de oxigênio no organismo. "As substâncias ácidas repelem o oxigênio e, em sentido contrário, as substâncias alcalinas atraem o oxigênio."
      "Privar uma célula de 35% de seu oxigênio durante 48 horas pode convertê-la em célula cancerígena."
      "Todas as células normais têm como requisito absoluto o oxigênio; as células cancerígenas, porém, podem viver sem oxigênio. Uma regra sem exceção."
      "Os tecidos cancerosos são tecidos ácidos, ao passo que os tecidos saudáveis são tecidos alcalinos."
      Em uma outra obra do Dr. Otto, "O Metabolismo dos Tumores" afirma-se que todas as formas de câncer se caracterizam por dois fatores básicos: a acidose ( = acidez no sangue), e a hipoxia ( = falta de oxigênio).
      As células cancerosas são anaeróbicas ( = não respiram oxigênio) e, em consequência, não podem sobreviver na presença de altos níveis de oxigênio. Mas sobrevivem graças à glicose sempre que o ambiente está livre de oxigênio.
      Conclusão do autor: o câncer seria nada mais que um mecanismo de defesa que possibilita a certas células do organismo continuarem vivas em um ambiente ácido e carente de oxigênio.
      Em síntese:
      1) células sadias vivem em um ambiente alcalino e oxigenado, o que permite seu funcionamento normal.
      2) células cancerosas vivem em um ambiente extremamente ácido e carente de oxigênio.
      Importante:
      No processo da digestão, uma vez finalizada, os alimentos, de acordo com a qualidade de proteínas, hidrato de carbono, gordura, minerais e vitaminas que fornecem, gerarão uma condição de acidez, ou de alcalinidade no organismo, ou seja, dependente exclusivamente do que se come.

      Alimentos que provocam acidez no organismo: (condenáveis);

      - açúcar refinado e todos os seus subprodutos;
      - leite de vaca e todos os seus derivados (queijo, requeijão, iogurte, etc.);
      - sal refinado;
      - farinha refinada e todos os seus derivados (massas, bolos, biscoitos, etc.);
      - produtos de padaria - a maioria contém gordura saturada, margarina, sal, açúcar e conservantes;
      - margarinas;
      - refrigerantes;
      - cafeína (café, chá preto, chocolate);
      - álcool (em todas as suas modalidades);
      - tabaco;
      - certos remédios, antibióticos, quimioterapia;
      - qualquer alimento cozido (o cozimento elimina o oxigênio e o transforma em ácido). Inclusive as verduras cozidas;
      - todos os alimentos enlatados ou industrializados (por exemplo, todos os tipos de embutidos).

      Alimentos alcalinizantes: (saudáveis):

      - todas as verduras cruas ( se cruas, produzem oxigênio; se cozidas, não);
      - frutas (lembrar que o limão, apesar de sua acidez natural, dentro do organismo tem um efeito altamente alcalinizante e saudável). Todas as frutas produzem quantidades saudáveis de oxigênio;
      - sementes (além de todos os seus benefícios, são altamente alcalinizantes, por exemplo, as amêndoas;
      - cereais integrais (lembrar que o único cereal integral alcalinizante é o milho.  Os demais são ligeiramente acidificantes, porém bastante saudáveis. Uma alimentação ideal necessita de uma porcentagem de acidez - desde que saudável). Todos os cereais devem ser cozidos;
      - mel - altamente alcalinizante (desde que não seja mel oriundo de garapa de cana...);
      - água - importantíssima para a produção de oxigênio no organismo;

     Lembretes:-

      - atividades físicas oxigenam todo o organismo. O sedentarismo o desgasta.
      - "todas as mortes atribuídas impropriamente a causas naturais não são mais que o ponto terminal de uma saturação de ácidos no organismo." (Dr. George W. Crile, um grande cirurgião de fama mundial).
      "O envelhecimento, a falta de energia, o stress, as dores de cabeça, enfermidades do coração, alergias, eczemas, urticária, asma, cálculos renais, arteriocleroses, entre outras patologias, não são nada mais que a acumulação de ácidos." (Mencken).

                                                    **********************

      E a Clélia Rocha conclui:

      - "É necessário dizer que isto não é divulgado porque a indústria do câncer (leia-se indústria alimentícia + indústria farmacêutica) e a quimioterapia são alguns dos negócios mais multimilionários que existem hoje em dia? É necessário dizer que a indústria farmacêutica e a indústria alimentícia são uma só entidade?"

E mais:

      - "Quanto mais gente doente, mais a indústria farmacêutica no mundo vai lucrar. E para fabricar tanta gente doente é necessário muito alimento lixo, como a indústria alimentícia tem produzido hoje no mundo, ou seja, um produz para dar lucro ao outro, e vice-versa; é uma corrente. Esta é uma equação bem fácil de entender, não é?"

      "Que teu alimento seja teu remédio, que teu remédio seja teu alimento." (Hipócrates)

      PS:- a Clélia Rocha abona seu texto com excelente e variada bibliografia, que eu peço licença para não reproduzir aqui.
                                                                                                                                          
     

     
    
     
      

sexta-feira, 16 de março de 2012

SAUDADES DA RAQUEL


      Se a Raquel, minha filha querida, estivesse viva, estaríamos comemorando festivamente seu aniversário natalício. Infelizmente  a morte, esse destino implacável de todo ser finito e contingente, como somos todos nós, frustrou nossas expectativas, levando-a prematuramente para o Reino de Deus. A tristeza infindável que nos martiriza, pela ausência física da pessoa amada é, paradoxalmente, aliviada pela alegria e pela certeza absoluta que temos de que ela, pela sua vida profundamente vivida, pela Caridade ardente que animava todo o seu relacionamente com as pessoas que a rodeavam, descansa hoje na bem-aventurança eterna.
      Com seu organismo debilitado por um câncer que lhe corroía coluna vertebral, pulmão e cérebro, ela esperava a morte, mas transfigurada pela resignação, pela confiança em Deus e pelo amor de toda a sua pequena família, que sofria com ela.
      Permanece agora a dor da saudade no coração de sua filha Isabela, de seus pais, de seus irmãos, que dedicam à Raquel este singelo poema, fruto da dor, mas aliviada pela certeza de que ela descansa em paz junto ao Abbá de Jesus de Nazaré, junto ao Pai de todas as vidas.


      Eu esperei a Morte como se espera o Bem Amado
      Ignorava como ela viria
      Nem como viria
      Mas eu a esperava
      E não havia medo nessa expectativa
      Havia somente ânsia e curiosidade
      Porque a Morte é bela
      Porque a Morte é uma porta
      Que se abre para lugares desconhecidos
      Mas imaginados
      Como o Amor
      Que nos leva para um outro mundo
      Como o Amor
      Que nos promete uma outra vida
      Diferente da nossa
      Eu esperei a Morte como se espera o Bem Amado
      Porque eu sei que em breve ela viria
      E me receberia
      Em seus braços amigos
      Seus lábios frios tocarão a minha face
      E sob a sua carícia
      Eu adormecerei o sono da Eternidade
      Como nos braços do Bem Amado
      Sei que este sono será
      Um ressurgimento
      Porque sei que a Morte é a Ressurreição
      A Libertação
      A Comunhão total
      Com o Amor Total

segunda-feira, 12 de março de 2012

COMO É POSSÍVEL SER ATEU?

      Neste nosso mundo globalizado, finito e contingente, milhões de homens e de mulheres dizem professar o ateismo. É o sinal dos tempos, proclamava o saudoso Papa João XXIII. Com efeito, parece-me, a impressão que se tem é que o ateismo, para as pessoas de Fé, constitui o grande problema religioso do nosso tempo. Filósofos e teólogos dedicam a este fenômeno tratados inteiros, tentando explicar o ateismo, nas suas causas e efeitos. Não sou especialista no assunto, mas atrevo-me a dizer que o ateismo pode ser explicado filosófica e teologicamente, como também na sociologia e na psicologia comportamental. Mas entendo que ele, em última instância, não tem defesa nem perante a filosofia, e muito menos diante da teologia.
      Creio que ele é fruto de múltiplas causas, muitas delas preconceituosas, outras de desinformação sobre a correta intelecção de Deus, ou de resistência a certas afirmações pseudo-religiosas mal digeridas, ou de ressentimentos diante do mal presente no mundo, ou de injustiças sofridas e consideradas sem explicação; com toda certeza consequência de uma catequese mal orientada na infância e na adolescência; quase sempre por falta de uma sincera e leal reflexão sobre nós mesmos, cooptados que somos por uma realidade materialista e hedonista, que vive à procura de sensações epidérmicas num sexualismo desvairado e sem controle. No fundo, um desconhecimento total da verdadeira e autêntica face de Deus, presente no Cristianismo e mediada definitivamente por Jesus de Nazaré.
      Expulsar Deus do próprio coração, como faz o ateu, por sentir-se incompatível com Ele, creio que é uma decisão dura, que não se toma sem consequências: a mesma coisa que ocorre quando alguém decide que não cabem sob o mesmo teto ele e a pessoa com quem deveria conviver.
      Chegar à conclusão de que a vida sem Deus tem mais valia, é mais plena e rica, deixa cicatrizes que colocam sombras na pseudo-alegria da liberdade conquistada. Na verdade, o crente e o ateu vivem na mesma realidade e se confrontam no dia a dia com os mesmos problemas radicais. Diferem unicamente na resposta que lhe dão: o crente e o ateu preocupam-se igualmente com a morte e com o que haverá depois dela - para os crentes, a vida eterna no Reino de Deus; para os ateus, simplesmente o nada.
      Muitas vezes aquele Deus expulso do coração por motivos variados não é na verdade Deus, mas sim um fantasma engendrado pelas nossas limitações e preconceitos humanos. Um Deus cruel capaz de castigar eternamente, com infinito rancor. Um ser arbitrário e caprichoso, disposto a ajudar a uns e não a outros, castigador de pessoas que deixaram de cumprir alguns ritos meramente formais, como a missa dominical ou o jejum em certos dias da quaresma. Um Deus cheio de ira, como dizia Lutero.
      Quando se ouve um pastor ou um padre clamar que Deus castiga o pecador com o fogo eterno do inferno, é impossível aceitar essa idéia de um Deus que está determinado pelas idéias de vingança, de direito de senhor e de obrigações de servo, de remuneração pelo serviço prestado, ou de penalidade pelo omitido. Um Deus que, quando se Lhe faz um pedido, e Ele não nos atende, contra o que cada domingo pedem incansáveis milhões de vozes em nossas igrejas. Na verdade, esse Deus definitivamente não existe.
      Numa perspectiva autenticamente cristã, se lêssemos a Bíblia Sagrada com outros olhos e outra mentalidade, compreenderíamos então que o Deus da ira, segundo nossos preconceitos, ao contrário, e na verdade, é o Deus que é amor nas palavras e na vivência de Jesus de Nazaré. Na leitura e meditação dos Evangelhos, principalmente nos textos dos evangelistas Lucas e João, Jesus de Nazaré se nos apresenta como sendo a face humana de Deus, este Deus que nos criou por amor, e por amor nos entregou este mundo para que nós sejamos co-criadores com Ele.
      Nestas perspectivas, é ainda possível ser ateu?

segunda-feira, 5 de março de 2012

A TERRA PROMETIDA

      Nas minhas longas horas de aposentado, levei pouco mais de dois meses e meio, mas ontem, ali pelas dezesseis horas, terminei a leitura dos quatro volumes do belíssimo romance do polonês Ladislau Reymont, Prêmio Nobel de Literatura de 1924,  "Os Camponeses", a obra-prima da novela campestre. Dividida em quatro volumes, um para cada estação do ano, o autor coloca em relevo a perpétua renovação  da vida:  depois do inverno vem a primavera, em seguida o verão, e por último o mês das colheitas e das vindimas, que novamente trazem consigo o inverno; porém, no ciclo do eterno retorno, renasce outra vez a chama da esperança e do amor.
      À poética descrição da terra e das estações do ano, que dão nome aos quatro volumes, junta-se um drama profundamente humano, um fervoroso amor pelos trabalhadores humildes, por suas vidas melancólicas, suas paixões violentas, seus amores primitivos. A pequena aldeia polonesa encerra em si todo um mundo, com suas tristezas e alegrias. O interesse pela leitura nunca diminui, e o estilo de Reymont possui uma forte e inesquecível sedução.
      É uma aldeia profundamente cristã, como são ou foram todas as aldeias tradicionais da Polônia. Ao longo de todo o livro, as festas cristãs marcam o suceder das estações: há o Dia de Todos os Santo e o Dia dos Defuntos; vestes brancas para a festa dos "santos" no "céu", e negras para a visita aos túmulos, no cemitério que domina um pouco a aldeia e cerca a pequena igreja ornada de imagens inumeráveis. Há as lágrimas sobre os túmulos, dos que continuam vivendo; mas há também, junto aos mesmos túmulos, à noite, o encontro furtivo dos namorados. Há a Quaresma, que parece interminável, porque impõe o jejum rigoroso àqueles camponeses robustos. Há a noite de Páscoa, durante a qual brilham luzes em todas as moradias, porque se prepara a festiva ceia que vai seguir-se, e que comemora a ressurreição do Senhor Jesus. Há também o Pentecostes e a procissão do "Corpo de Cristo" nos campos já crepitantes de seca e de sol.
      Nada consegue exprimir a intensa poesia dessas festividades, que são como que pequenas pausas da vida que envolvem as pessoas, mesmo nos momentos em que eles parecem desanimar, mas empurram as suas esperanças para a frente, até a próxima Páscoa, até ao próximo casamento, até à próxima peregrinação ao cruzeiro no alto do monte, da qual todos participam ao romper da mamhã, a pé, cantando e orando. É necessário mergulhar nestas estrofes líricas, que cantam em palavras sempre as mesmas - como são sempre os mesmos gestos e as palavras do amor - a esperança e a expectativa deste pequeno povo da aldeia de Liepce, que se arruma toda para receber "a sua bendita esperança, a chegada em glória do grande Deus e Salvador, Jesus Cristo."
      Ele já chegou, todos sabem com certeza. Ele veio para ressuscitar a esperança destes pobres camponeses cujas paixões rudes são mais queridas a Jesus do que os seus nem sempre sinceros arrependimentos. Ele veio obscuramente, na Santa Noite do Natal.
      "Nessa noite não há nem vaca nem bezerro que não compreenda a linguagem dos humanos e não possa contar como o Senhor nasceu no meio deles; ainda que quem lhes fala não tivesse pecado, eles, a vaca e o bezerro, lhe responderiam em palavras articuladas como criaturas humanas, isto porque hoje são semelhantes aos homens, e tudo sentem como eles; devem, pois, partilhar com eles o esquecimento de suas faltas e de seus rudes mas ingênuos pecados."
      As palavras certamente são vagas, querendo balbuciar uma verdade misteriosa: a criação inteira está cheia do Verbo, porque ela é a Palavra de Deus; mas a intuição destes homens e mulheres a quem o mundo animal "fala"é profundamente crística. Quando homem e mulher nesta noite santa se acusam a si mesmos, e reconhecem a escravidão que o seu pecado impõe ao mundo, recuperam a sua pureza batismal e a transparência de suas almas.
      "Cada criatura, cada homem e mulher, cada animal no campo, cada fio de erva, seja ele o mais ínfimo, o pedregulho mais humilde, a estrela quase imperceptível, tudo sente hoje, tudo sabe hoje que o Senhor nasceu."
      E eu, encerrando a leitura, me dou conta de que a pobreza e a simplicidade de Francisco de Assis não era uma fuga, mas um verdadeiro mergulho no seio deste mundo, para nele encontrar a riqueza oculta, a transparência que liga homem e mulher à criação inteira, porque a criação é santa, num diálogo e numa viva exclamação orante:
      - "Glória a Deus no alto dos céus e paz na terra aos homens e mulheres amados por Deus."