Um fato que gosto muito de relembrar e divulgar:
Na década de 1960, quando estudante da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na Capital Paulista, acompanhei um sacerdote que foi celebrar a Santa Missa em certa igreja de um bairro populoso da cidade, num domingo. O tema de sua pregação foi um texto do Evangelho daquele dia no qual Jesus fala no duplo mandamento do amor a Deus e do amor ao próximo, essência da Moral Cristã.
O padre aproveitou a oportunidade do sermão para fazer notar que este mandamento se aplicava também, e com muita propriedade, ao problema do preconceito racial, bastante presente naquele bairro, muito próspero, de ricas mansões, mas rodeado por uma das grandes favelas paulistanas.
Explicou o pregador como brancos e negros, ricos e pobres, deveriam realmente amar-se uns aos outros, a ponto de se aceitarem mutuamente numa sociedade bem integrada e cristã.
Ali pela metade de sua homilia, quando o sentido de suas palavras se tornava suficientemente claro, um homem, levantando-se no meio da assembléia, gritou raivosamente:
- "Não vim aqui para ouvir essa espécie de coisa que não presta. Vim para assistir à Missa!"
O padre calou-se e esperou. Isso exasperou ainda mais o homem, pediu que o sermão terminasse ali mesmo naquele instante porque, do contrário, se retiraria.
O sacerdote continuou a esperar em silêncio, e o homem se levantou protestando em voz alta contra aquela doutrina que achou conveniente classificar de "desprezível".
Como o padre continuasse calado, o homem se retirou da igreja, acompanhado da esposa e filhos., e de um ou outro que o apoiaram.Ao chegar à porta, virou-se e gritou para o celebrante:
- Se eu falto ao preceito dominical hoje, a culpa é sua!"
Refletindo neste fato, mais tarde, cheguei à conclusão de que pode alguém considerar-se "bom católico" e ser tido como tal por seus vizinhos quando, na realidade, ele não passa de um apóstata da Fé Cristã. Sem dúvida, a imensa maioria das pessoas que testemunharam este incidente não concordaria em aceitar a atitude daquele homem.
O fato é que eu, no meu íntimo, a condenei veementemente. À saída da igreja, ouvi de algumas pessoas a desculpa pelo seu gesto intempestivo, achando que condená-lo seria falta de "caridade...", por se desconhecer as profundas motivações que o levaram a isso.
Mas esta "falta de caridade" não seria a de uma caridade abstrata e legalista? Formalidades, abstrações, não justificam um ato falho. Gestos de conformismo não tornam uma pessoa mais cristã, mais "caridosa". E quando a conduta concreta desmente por completo o sentido do gesto, é uma declaração objetiva de que o nosso Cristianismo perdeu seu sentido.
Por que razão temos de possuir um coração tão "caridoso" para com gente assim? Desculpar inteiramente tais pessoas seria participar dessa transgressão da lei e da objetividade do acontecimento. A falta cometida deve ser claramente apontada e declarada, pois, do contrário, seria concordância com a proliferação da injustiça e da mentira, sob o disfarce de "cristianismo".
O melhor que se poderia dizer dessas pessoas é: "Não sabem o que fazem."
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Continuando minha "releitura" dos sonetos de Camões, o "Príncipe dos Poetas de Língua Portuguesa":
Verdade, Amor, Razão, Merecimento,
Qualquer alma farão segura e forte;
Porém Fortuna, Caso, Tempo e Sorte
Têm do confuso Mundo o regimento.
Efeitos mil revolve o Pensamento,
E não sabe a que causa se reporte;
Mas sabe que o que é mais que Vida e Morte,
Não o alcança o humano entendimento.
Outros muitos darão razões subidas,
Mas são experiências mal provadas,
E por isso é melhor não seja visto.
Muitas coisas por nós foram criadas,
E outras foram cridas, não passadas;
Mas o melhor de tudo é crer em Cristo!
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Continuando minha "releitura" dos sonetos de Camões, o "Príncipe dos Poetas de Língua Portuguesa":
Verdade, Amor, Razão, Merecimento,
Qualquer alma farão segura e forte;
Porém Fortuna, Caso, Tempo e Sorte
Têm do confuso Mundo o regimento.
Efeitos mil revolve o Pensamento,
E não sabe a que causa se reporte;
Mas sabe que o que é mais que Vida e Morte,
Não o alcança o humano entendimento.
Outros muitos darão razões subidas,
Mas são experiências mal provadas,
E por isso é melhor não seja visto.
Muitas coisas por nós foram criadas,
E outras foram cridas, não passadas;
Mas o melhor de tudo é crer em Cristo!
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