quinta-feira, 8 de maio de 2014
RELENDO O ANTIGO TESTAMENTO
A grandeza do Antigo Testamento está começando a se tornar plenamente empolgante em algumas das ótimas teologias do Antigo Testamento escritas por bons especialistas, como Von Rad, Eichrotd e outros, que tenho lido e estudado ultimamente.
O universo do Antigo Testamento é um universo de louvor, do qual homem e mulher constituem parte viva e essencial, lado a lado com os exércitos angélicos.
Ora, o louvor é a mais segura manifestação da verdadeira vida. A característica do "Xeol", a região dos mortos, é a ausência de louvor. Os salmos são, portanto, a mais pura expressão da essência da vida nesse universo: Javé está presente a seu povo quando os salmos são cantados com vigor triunfante e jubilação (e não apenas murmurados e meditados individualmente na barba ou na cabeleira de cada um ou de cada uma).
Essa presença e comunhão, esse vir a ser no ato de louvar é o cerne do culto no Antigo Testamento, como o é também no louvor da comunidade cristã. O louvor vivo é a plenitude do ser de homem e mulher em relação a Deus. Contudo, tem também uma dimensão histórica: Fé no poder de Javé e em suas grandes obras de misericórdia, assim como, em Suas promessas, Ele torna a história presente àquele que canta como realidade e fato teológico.
A compreensão teológica desses grandes feitos do Senhor é sentida e experimentada em toda a sua beleza. O magnífico poder da radiosa presença do Senhor revelada em seus feitos salvíficos toma inteiramente posse do adorador. Daí a qualidade arrebatadora dos salmos que nós, cristãos, cantamos em nossas celebrações litúrgicas.
Lembro-me que numa festa de Cristo Rei, em minha paróquia, ao cantarmos o "Jubilate Deo omnis Terra" (= que toda a Terra se encha de júbilo com Deus) com tanto entusiasmo e empolgação, que me pareceu que íamos arrancar o teto da igreja. Onde encontrar isto, senão em nossa Liturgia? "Jubilate" é uma alegria que "não se pode conter..." É o verdadeiro grito de triunfo que experimentamos quando a beleza divina e angélica se apodera de todo o nosso ser na alegria do Cristo ressuscitado!
Voltando ao meu comentário sobre o Antigo Testamento, creio que não devemos ser demasiadamente unilaterais a seu respeito. Na verdade, a beleza de Deus é mais bem louvada por homens e mulheres que atingem e percebem seus limites humanos, sabendo que seu louvor não pode alcançar a Deus plenamente, porque o finito não pode atingir o infinito.
É então que o longo e inarticulado "jubilus" entra em cena, no canto gregoriano, uma das grandes riquezas do Catolicismo. O gregoriano possui uma graça particular para fazer sobressair essa experiência do louvor, que atinge seu limite e, no entanto, continua numa nova dimensão.
Desse modo, nosso louvor não atinge só o coração de Deus, mas também o coração da própria Criação, encontrando por toda parte o belo da justeza e da misericórdia de Javé.
Essa é a grandeza que nos traz a leitura e a meditação, orante, do Antigo Testamento.
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Um belo soneto do Príncipe dos Poetas de Língua Portuguesa, Camões:
Sete anos de pastor, Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe foi assim negada sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fôra
Para tão grande amor tão curta a vida!
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