O problema da "Parusia" - (a vinda do Senhor no final dos tempos) - permanece o grande problema do Cristianismo. E é evidente, não se trata, absolutamente, em si, de um problema. O Reinado de Cristo já está estabelecido, porém, não definitivamente manifestado - permanecemos num tempo de desenvolvimento, de opção e de preparação.
Permanecemos num tempo de decisão. O cristão é alguém, ou deveria ser, que "se decidiu" pela "Parusia"; pela vinda, no fim dos tempos, do Reino.
A vida do cristão é orientada por esta decisão. Sua existência tem sentido na medida em que a "Parusia" é, para ele, de importância crucial.
No entanto, a "Parusia", me parece, acha-se indefinidamente adiada.
Também isso não é um acaso. Deve ser tomado como fazendo parte do problema. A "Parusia", em si, não é problema. A demora da "Parusia" não é todo o problema. Essa demora faz surgir o problema.
A solução, no meu modesto entender, é a seguinte:
Como cristão, sou um homem que coloquei todas as minhas esperanças no Reinado de Cristo a ser definitivamente manifestado pela vitória final na hora da "Parusia" - e é a vitória final da vida sobre a morte.
Tendo a "Parusia" sido "adiada", foi, por dois mil anos, deixada a homem e mulher a tarefa de construir para si mesmos uma espécie de reino, uma Cristandade cultural político-religiosa que, admito, não é tudo o que se teria esperado, mas que tem suas vantagens.
Ora, para mim, a questão é esta: se a "Parusia" significa o fim e a destruição dessa estrutura provisória, e mesmo seu julgamento, devo eu realmente desejar a "Parusia"? Não deveria com toda a minha sinceridade rezar para que a "Parusia" continue sendo adiada indefinidamente?
E, com todo o poder que me é dado para mover a vontade de Deus, pela minha oração, não deveria eu, antes, tentar mudar o plano divino e não me preocupar mais com o assunto?
Não deveria, talvez, considerar meu dever pedir ao Senhor que permita a nós, humanos, construir o Reino a nosso modo? Um Reino consistente com o que já vivemos? Um Reino de Deus ao mesmo tempo sagrado e encravado no mundo, e também colaborando no terreno político com o mundo?
Aliás, isto já foi tentado uma vez. Foi no século VIII e atravessou a Idade Média. Foi uma boa tentativa, porém alguns pontos foram descuidados. Não se poderia assumir novamente uma posição que permitisse uma melhor tentativa? E para dessa vez ser uma tarefa bem sucedida?
Assim, se está em realidade se decidindo contra a "Parusia". - "Venha a nós o Vosso Reino" - não, porém, agora. Não dessa maneira desoladora - mas no tempo e na maneira que melhor convier aos homens e mulheres deste nosso mundo...
Com isso, o cristão aprendeu a orar contra a vinda do juízo final e por uma eternidade que é um prolongamento indefinido do tempo. Pois homens e mulheres precisam de tempo. Tempo para tentar o que se quis sempre e sempre de novo.
E deixo uma sugestão para se emendar um pouco a oração que Cristo nos ensinou. Eliminar do "Pai Nosso" o "Venha a nós o Vosso Reino", e substituí-lo por "Precisamos de mais tempo!"
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Aroldo Teixeira de Almeida é Professor Aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense e Licenciado em Teologia pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo.
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Continuando a releitura do Príncipe dos Poetas de Língua Portuguesa, Camões, na sua "Lírica":
Erros meus, má Fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a Fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das coisas que passaram,
Que a magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos,
Dei causa a que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que furtasse
Este meu duro gênio de vinganças!
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Continuando a releitura do Príncipe dos Poetas de Língua Portuguesa, Camões, na sua "Lírica":
Erros meus, má Fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a Fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das coisas que passaram,
Que a magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos,
Dei causa a que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que furtasse
Este meu duro gênio de vinganças!
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