sábado, 5 de julho de 2014

A PARÁBOLA DA FLOR QUE NASCEU NO FUNDO DA MATA


             A estória não é minha, mas tomei-a emprestada do holandês Carlos Mesters, que encontrei lendo seu primoroso livro "Flor Sem Defesa", publicado em 1983, pela Editora Vozes, de Petrópolis, RJ.
            Diz Carlos Mesters que uma flor nasceu no fundo do mato. E que era uma flor diferente das flores que todos conhecem. E explica ele que todos que dessa estranha flor tiveram notícia quiseram saber de que flor se tratava, pois queriam ajudá-la no seu crescimento.
            Para isso, convidaram a flor para vir mostrar a eles suas cores e espalhar seu perfume no meio daquela roda de gente amiga, que tinham espalhado ao vento a semente da flor.
            E a flor, num milagre inaudito da Natureza criada por Deus, não soube recusar o convite, e veio mostrar suas cores e espalhar seu perfume junto àqueles que a procuravam.
            Pediram à flor que lhes dissesse o seu nome, pois era uma flor que eles nunca tinham conhecido. Mas a flor, na sua humilde simplicidade, não soube dizer seu nome. Ela apenas lhes disse: - "Sou Flor"...
mostrando a eles um sorriso que os desarmou.
            Olharam-na mais de perto, fizeram-lhe mil e uma perguntas, mas não conseguiram descobrir de que espécie era essa flor tão misteriosa. Diante disso, eles lhe disseram:
            - "És flor. Portanto volta para o mato de onde vieste e cresce por lá. Espalha o teu perfume pelo sertão a dentro, até que a cidade se limpe de seu ar abafado."
            A flor, que é um ser humilde e simples, não ficou zangada. Voltou para o sertão e continuou a crescer por lá mesmo.
            Mas os homens e as mulheres ficaram preocupados com o destino da flor. E diziam uns para os outros:
            - "Pobre flor! Ela é muito fraca! Não tem nenhuma defesa! Só sabe dizer que é flor! Como pode crescer sozinha, lá no sertão?" 
            Acontece que a flor, ao voltar para o sertão, deixou uma gota de sua seiva na mão de todos que a tocaram. Como a coisa se passou à noite, eles não puderam ver a mancha que lhes ficou na mão. Só dava para sentir que era algo pegajoso.
            Um deles aproximou-se da luz, para ver o que era. Foi aí que se descobriu o segredo da flor. A gota de seiva era de sangue! Sangue de séculos que um dia germinou em flor!
            E a flor, lá no fundo escuro da mata, pensava consigo mesma:
            - "Deixei a mancha de meu sangue na mão de todos. E eles vão descobri-la quando a luz da aurora chegar..."
            Um daqueles homens, noite ainda, saiu de seu rancho. Foi sertão a dentro, e ficou andando por lá até que saísse uma gota de sangue de seus pés nus e cansados. Aí ele parou de caminhar e sentou-se numa pedra, esperando a aurora chegar. E disse à gota de sangue que sentia em seus pés:
            - "Alimenta,  meu sangue, a flor que nasceu no fundo deste mato. Pois ela é uma flor diferente das flores que todos conhecem. Ela é a Flor sem defesa, mas é muito mais forte que a mão que quiser cortá-la!... Flor, que transformas sangue em adubo! És mais forte que a mão que te corta!  Mais duradoura que a idéia que te define! Mais nítida ainda que a pintura que retrata teu rosto! Já cresce no mundo o medo de ti, Flor sem defesa!"

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...e a parábola da flor que nasceu no fundo da mata parou aí, e eu não pude descobrir se ela continuou ou se terminou ali mesmo...
   Só perguntando ao Carlos Mesters, o autor da estória, mas ele é holandês, sei que morou no Brasil, mas onde encontrá-lo agora?
   Fiquemos, portanto, com a bela estória da flor que nasceu no fundo da mata, e deixemos o resto para a imaginação daqueles que gostam de contar ou ouvir estórias desse tipo...

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