domingo, 23 de junho de 2013

A VOZ DOS SINOS


          Nesta noite fria de sábado quando,  por assim dizer, estou quase congelado debaixo de três cobertores antes de cair nos braços de Morfeu, o deus mitológico do sono, decidi que só deixaria o gostoso conforto de minha cama ali pelas dez horas da manhã de domingo, véspera de São João!
         Ledo engano! Por morar perto da igreja da paróquia, fui acordado pelo badalar dos sinos, convidando os fiéis para a Missa. Olhei para o relógio; seis horas da manhã. Para mim, bastante sonolento, seis horas me pareciam ainda alta madrugada, por isso resolvi dormir mais um pouco. O fato é que a barulheira dos sinos me impediu de fechar os olhos, e o remédio foi deixar a cama e partir para a água quente do chuveiro.  
             Sinos! Vai ficando cada vez mais raro, nas grandes cidades, ouvir sino bater. Menos em Curitiba, ou melhor, aqui no bairro onde moro, cuja igreja paroquial me parece ter uma dúzia de sinos dos mais variados sons e tamanhos!...  
            Muita gente gosta da voz dos sinos. Em cidades pequenas, o sino costuma tocar o "Ângelus" às seis horas da manhã, ao meio-dia, às seis horas da tarde. E a gente, católica, parava para saudar Nossa Senhora e agradecer o mistério da Encarnação do Verbo, Jesus Cristo.
           O sino também tocava, durante as Missas solenes, na elevação da Hóstia consagrada e na elevação do Cálice. Lembro-me de quando morava no interior do Estado: o sino tocava até para avisar incêndio ou perigo de inundação, no dia de chuvas bravas!
         O engraçado é que sempre me pareceu que cada sino, naquilo que se chama carrilhão, tem mesmo um som inconfundível, e o melhor é que de fato o conjunto possui harmonia e agrada os ouvidos mais exigentes.
        Sineiro das almas! Feliz de quem sabe obter de cada criatura o melhor som de que ela é capaz.
        Cada qual de nós tem suas harmonias secretas. Às vezes, existem pessoas que dão a impressão de não possuírem nenhum som harmonioso a desprender. Há pessoas que, ao se saberem comparadas a sinos barulhentos, seriam as primeiras a responder:
       - "Só se for sino rachado, porque nenhuma sombra de harmonia existe em mim!..."
     Pessoas assim nos deveriam fazer meditar conosco mesmos:  - "Por que meus sinos interiores estão emudecidos?"
      Esta foi a pergunta que me fez o saudoso Arcebispo Dom Hélder Câmara, em seu livro que estou lendo, "Um olhar sobre a Cidade". E ele mesmo responde:
     - "Todos nós temos nossos sinos interiores... Em horas de alegria, eles repicam festivos. E dobram, tristes, em horas de sofrimento e de dor!"
     E eu também aproveito o ensejo para perguntar ao meu próprio coração:
    - "Por que há tanto tempo que não escuto meus sinos interiores? Eles desaprenderam de tocar seus repiques festivos? Por que deixaram eles de tocar?...  Seria por causa dos desenganos da vida?"
  Assim como são inconfundíveis as impressões digitais,  em rigor são inconfundíveis também nossas harmonias íntimas, nossos sinos interiores...
    E eu, refletindo nesta verdade, decido comigo mesmo:
   - "Espero nunca deixar que emudeçam meus sinos da alma! Que eu descubra sempre pessoas amigas cujos sinos interiores se somem, se completem e se harmonizem com os meus, para cantarmos louvores ao Senhor e Pai de todos nós!"

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         SAUDADES DE MINHA FILHA RAQUEL, FALECIDA EM 21 DE AGOSTO DE 2O10.

                                              Se eu pudesse
                                              na hora mais dolorosa
                                              do sepultamento de minha filha Raquel
                                              quando a sua urna funerária
                                              era colocada túmulo a dentro
                                              eu faria com que voasse
                                              sobre as cabeças dos presentes
                                              uma revoada de andorinhas
                                              lembrando
                                              a sua ressurreição NA morte
                                              como é a Fé que me anima
                                              e me mantém ainda vivo
                                              até os dias de hoje...
                                              Oh! como seria bom
                                              Se eu pudesse!...

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