segunda-feira, 21 de julho de 2014

O SILÊNCIO DE DEUS



                O fato não permite contestação:
                O cristão consciente e atual  não tem um minuto de trégua, porque a verdade é que o silêncio de Deus pesa terrivelmente sobre nós. Os problemas surgem-nos ao mesmo tempo e de todos os pontos.
                E aqui me vem à mente a estória de Dom Malaquias, que eu gostaria de contar aqui, mas falta-me espaço. É bonita, e poder-se-iam contar muitas outras. Esta, por exemplo:
                Certa família gasta uma pequena fortuna para enviar um menino doente numa peregrinação a Aparecida, no interior paulista, com a esperança de obter a cura. Irmãos e irmãs, pais e amigos, todos rezam, fazem novenas, as comunidades religiosas  prodigalizam as suas preces e penitências.
                O menino não se cura e morre.
                Sei muito bem que o principal milagre de Aparecida reside justamente no fato  de que os que não se curam voltam para casa resignados e mais apegados a Deus.
                Se o milagre da estória de Dom Malaquias não converte os pecadores, uma cura miraculosa trombeteada pela imprensa e TV transforma a vida dos beneficiados. Mas, por que se cura este, e não se cura aquele outro?
                Mistério terrível da Providência Divina. Pode-se, e mesmo se deve dizer que a Fé daqueles que tudo sacrificaram para obter a cura de um filho, sem ser atendidos, é especialmente posta à prova por Deus.
                - "Pois se amas e agradas a Deus, terás de ser submetido à tentação", - lemos no Livro de Tobias.
                Aqueles cuja Fé foi submetida a mais duras provas com certeza estão mais perto de Deus, mais ativamente ocupados na redenção do mundo, do que aqueles que apenas sofrem as dificuldades clássicas do dia-a-dia; clamam - "Senhor! Senhor!" -  mas não entrarão talvez no Reino.
                Aquele que sofre e vê o seu sofrimento prolongar-se entrevê um Deus que julga melhor ainda que a melhor coisa dele conhecida no mundo: um filho seu. Esse, diz-nos a Fé, está muito próximo de Cristo.
                Mal ouso escrever estas linhas; elas são verdadeiras, mas a quem não experimentou em si mesmo semelhante desilusão, estas frases assemelham-se à "tagarelice banal de certas consolações sacerdotais"...
                 Deus sabe o que faz.Mas nós acreditamos não pedir demais, suplicando muitas vezes ao Senhor nosso Deus, que nos conceda uma dessas consolações visíveis, com que a nossa alma, que afinal de contas está encarnada em matéria débil, possa saciar-se um pouco para recuperar forças.
                 - "Deus recusa esta consolação aos seus melhores amigos!" -
                 A Bíblia inteira o clama, e sobretudo o Filho de Deus, Jesus Cristo, o qual pede que lhe seja afastado o cálice da dor, mas apesar de tudo o bebe, livremente, por amor!

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulita.

                 
   

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