segunda-feira, 22 de abril de 2013

A VOZ DE DEUS, AQUI E AGORA


          De  Abraão e de outros Pais de crentes e Condutores de multidões se diz que ouviram a palavra e o chamado de Deus. E quanto a nós, que também nos dizemos crentes, poderemos também ouvir a voz do Senhor? E, neste caso, querer ouvir a voz do Senhor, como os antigos profetas, não seria uma pretensão descabida, ou vaidade perigosa?
         Quem vive como nós, na América do Sul, e mais precisamente no Brasil, sabemos que ao nosso redor milhões de criaturas vivem de modo sub-humano, praticamente em condições de quase escravidão? E se não formos afetados pela surdez, seríamos capazes se ouvir o clamor dos oprimidos em nossa sociedade capitalista, egoísta e alienada socialmente? E saberíamos nós que o clamor dos oprimidos é a voz de Deus falando à nossa consciência?
      Quem vive em países desenvolvidos e ricos, mas onde, em contrapartida, existem também zonas cinzentas de subdesenvolvimento e de miséria, se tiver antenas espirituais sintonizadas para o próximo, certamente ouvirá o clamor silencioso dos sem-vez e sem-voz. E o clamor dos sem-vez e sem-voz é a voz de Deus a apostrofar-nos.
         Em meu último texto falei da realidade trágica da favela. Falo agora, despertado mais de uma vez para as injustiças geradas pela má distribuição da riqueza, e quem tiver grandeza de alma, será capaz de captar os protestos silenciosos, e muitas vezes, o compreendemos, os protestos silenciosos dos pobres. E é bom que saibamos que o protesto dos pobres é também a voz de Deus.
        Quem acorda para as injustiças nas relações entre países pobres e impérios capitalistas ou socialistas, notará que, em nossos tempos, as injustiças já não ocorrem apenas entre indivíduos e indivíduos, ou entre grupos e grupos, mas entre países e países. E a voz dos países injustiçados continua também sendo a voz de Deus.
         Para nos despertar, Deus se serve até dos gestos de radicalismo e de violência. É que Ele sabe tirar o bem, eventualmente, do próprio mal. E seremos tão surdos a ponto de não perceber que o Deus de amor nos alerta para o perigo real de a humanidade caminhar para o suicídio?
      Seremos tão egoisticamente fechados de modo a não notar que o Deus da Justiça exige que nos movamos e tentemos um esforço sincero para que as injustiças não continuem a asfixiar o mundo e a preparar a guerra, seja em nosso lar, no meio em que vivemos, em nosso país ou no mundo?
        Seremos tão alienados, tão distantes e tão frios, de maneira a dar-nos ao luxo de procurar Deus, em horas cômodas de lazer, em templos luxuosos e cheios de conforto, através de liturgias pomposas e ricas e, não raro, vazias de sério conteúdo, sem Cristo, ou sem que nós O vejamos, sem ouvi-Lo, sem tocá-Lo, lá onde Ele está, e nos espera, e exige nossa presença? E  isto, junto ao humilhado, junto ao pobre, junto ao oprimido, sendo infelizmente nós, muitas vezes, coniventes e cúmplices desta situação de injustiça?
        É fácil, relativamente fácil, escutar o chamado de Deus através do nosso tempo e do nosso meio. Difícil é não parar em atitudes emotivas e compaixão e de pesar.
        Dificílimo é arrancar-nos do comodismo, quebrar estruturas interiores - as mais duras e penosas de serem quebradas - deixar-nos revolver pela Graça; decidir-nos a mudar de vida; a CONVERTER-NOS!
      
           
          

    

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