No princípio era o Artista. E o Artista criou a Poesia.
Depois criou o Céu e a Terra com todos os seres que neles existem para a glória da Poesia. Criou o sol e a lua. Criou as estrelas e as nuvens. Criou as fontes, o rio e o mar. Criou o beija-flor, o sabiá e o rouxinol, não se esquecendo de criar as andorinhas. Criou o ar e o vento, para que neles voasse a Poesia sob a roupagem de sons musicais. E criou também a borboleta, a cigarra, a neve e o orvalho.
Poderoso é o Artista!
É como uma chama viva sobre cinzas esvoaçantes. É como uma torre altaneira em meio a águas marulhentas. Suas mãos, porém, são delicadas como a fragilidade da neblina, pois souberam modelar as formas sublimes da Poesia, aureoladas pelas estrelas do firmamento.
Foram estes os primeiros quatro dias da Criação.
E o sol expulsou a lua, a aurora estendeu seus loiros cabelos por sobre a fímbria do horizonte, as borboletas cortaram o ar, e os ninhos arrulharam nas copas das árvores.
E o Artista, ainda com flores selváticas nos braços, ainda com os veneráveis cabelos molhados pelo orvalho dos vales primitivos, saiu para contemplar a obra de suas mãos divinas.
E viu que tudo era bom.
Somente a Poesia estava triste e melancólica no meio da Criação.
O Artista, vendo-a triste, perguntou-lhe:
- "Que tens tu, que te escondes envergonhada entre as obras que criei para ti? Dei-te um mundo de maravilhas sem fim; criei para ti a terra e o mar, as vagas do oceano e o murmúrio das fontes, a rosa e a violeta. Minhas mãos espalham nos ares flocos de neve alvinitente para que neles tu faças o teu sólio. Por que então não reinas sobre o mundo?"
Respondendo ao seu Criador, a Poesia sussurrou que estava triste porque nada no mundo criado a amava. Nem o leão, nem o urso, nem a girafa, nem o boi, nem o cavalo, nem a fonte, nem a cascata. Nada havia sobre a Terra que a amasse e a celebrasse.
O Artista sorriu e Seu sorriso abalou os alicerces do mundo e as colunas que sustentam os sete céus. E falou assim:
- "Vou criar um ente à minha imagem e semelhança, que te ame como eu. Serás glorificada até os confins da Terra; teus adoradores se multiplicarão como as areias do mar e as estrelas do firmamento."
Isto dizendo, tomou do cinzel e de um bloco de mármore. No alto do bloco abriu duas cavidades lembrando Seus olhos divinos; mais abaixo outra igual à Sua boca; desenhou as orelhas, afilou o nariz, esculpiu o tronco, os braços e as pernas.
Afastou-se dois passos, colocou as mãos nos quadris e admirou o Seu trabalho. Achando que era bom, assoprou sobre ele o Seu espírito divino, e surgiu o homem.
Vendo, porém, que não era bom para o homem estar só, o Artista o fez dormir, arrancou-lhe do lado um pedaço de sua carne, assoprou também sobre ele, e foi assim que nasceu a mulher.
E o homem e a mulher prostraram-se diante do Artista e o adoraram.
E Ele lhes disse:
- "Eis que eu vos criei unicamente para servirdes à Poesia. Vós devereis amá-la e servi-la fielmente. Ela é a senhora da criação: dos pássaros, dos montes, da dança das folhas, do sol e da chuva, do dia e da noite, do orvalho e dos ventos, das borboletas e das cigarras. Este é um mandamento que eu dou a vós e aos vossos filhos, por todas as gerações, enquanto durar o mundo."
Este foi o quinto dia do trabalho do Artista. E Ele viu que tudo era bom.
Passado muito tempo, os filhos dos homens e as filhas das mulheres tiveram outros filhos e filhas. E disseram entre si:
- "O Artista nos criou a serviço da Poesia. Para amá-la e servi-la em todos os dias de nossa vida. Vamos, pois, e tomemos as arrecadas de ouro das orelhas de nossas mulheres, de nossos filhos e de nossas filhas, e façamos deles instrumentos musicais para louvar a Poesia".
E assim foi feito. Vieram outros também, e com o ritmo e a rima trazidos das terras de Ofir e de Golconda, teceram ricas vestes para a Poesia. E ela reinou sobre o mundo, desde as praias do mar, até as fronteiras do grande rio. Seus súditos eram, pela multidão, inumeráveis como as estrelas do Céu. Comiam, bebiam e se alegravam, porque poderosa era a sua Rainha. Ela possuía sob seu domínio todos os homens e mulheres dos quatro cantos da Terra, desde os confins do país dos orientais, até a fronteira dos homens que moram em tendas, no deserto.
E os tempos correram. E a Poesia se entristeceu, enfarada com a glória que tinha. E disseram os filhos dos homens às filhas das mulheres:
- "Eis que nossa Rainha está dominada pela tristeza. Façamos novas coisas que lhe deem alegria. Edifiquemos um altar, e sobre ele lhe ofereçamos incenso e sacrifícios pacíficos."
O Artista surgiu diante deles numa nuvem de fogo, entre relâmpagos e trovões, e lhes falou:
- "Ouvi, homens, ouvi vós também, mulheres, jovens e crianças: ide a todos os recantos da Terra, colhei em vasos de alabastro os sorrisos da Poesia, desde os tempos em que ainda havia sorriso em seus lábios, e eu a farei novamente feliz."
Vieram então os filhos dos homens e as filhas das mulheres, e puseram mãos à obra. Uns recolhiam os sorrisos da Poesia nos raios do luar, outros nas gotas frias do orvalho, alguns na tepidez dos ninhos, outros mais na brancura alcandorada das geleiras eternas, ou na pureza das crianças, ou na felicidade dos esposos.
Todos trabalharam, obedeceram todos à voz poderosa do Artista. Colheram os sorrisos da Poesia em vasos de alabastro e entregaram-lhe, para que Ele a tornasse outra vez feliz. E o Artista tomou os sorrisos da Poesia em Suas mãos, abençoou-os, assoprou sobre eles o Seu espírito divino, e os transformou no Poeta. E falou assim ao Poeta:
- "Eis que os filhos dos homens e as filhas das mulheres não souberam amar a Poesia como eu lhes ordenei em mandamento solene. Por isso te criei, Poeta, e tu serás o seu sacerdote em toda a Terra. Vai, pois, e faze-a novamente rainha da criação."
Foi assim que nasceu o Poeta, dos sorrisos da `Poesia, pelas mãos fecundas do Artista. E este foi o último dia da Criação, e o Artista descansou de Seu trabalho.
E a Poesia encheu o mundo com a sua luz, quer durante o dia, quer durante a noite, quando o sol vai repousar por trás das grandes árvores do poente.
Ela tudo alegra e tudo vivifica, torna mais linda a Terra. Sem ela, nada haveria: nem o sol, nem a lua, nem o vento, nem a chuva, nem o mar, nem o homem, nem a mulher. Nada haveria, exceto o Artista, que a tirou de Seu cérebro onipotente, pois a Poesia é o pensamento do artista que desabrochou na Terra e no Céu, criados para ela e para a sua glória.
Grande é o Artista!
Grande e eterno é o Artista Sublime, criador da Sublime Poesia!
A Ele a honra e a glória, por todos os séculos dos séculos, na voz e na magia de todos os Poetas!
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A minha oração de todos os dias, de todas as horas, de todos os momentos:
Se eu pudesse
na hora mais dolorosa
do sepultamento de minha filha Raquel
quando a sua urna funerária
era colocada túmulo a dentro
eu faria
com que pairasse sobre os presentes
uma revoada de andorinhas
testemunhando
a sua ressurreição NA morte
que é a Fé
que me anima e me mantém vivo
até hoje
Oh! como seria bom
Se eu pudesse!...
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A minha oração de todos os dias, de todas as horas, de todos os momentos:
Se eu pudesse
na hora mais dolorosa
do sepultamento de minha filha Raquel
quando a sua urna funerária
era colocada túmulo a dentro
eu faria
com que pairasse sobre os presentes
uma revoada de andorinhas
testemunhando
a sua ressurreição NA morte
que é a Fé
que me anima e me mantém vivo
até hoje
Oh! como seria bom
Se eu pudesse!...
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