Até pouco tempo discutia-se a possibilidade efetiva de haver ateus autênticos: seria possível, de fato, a uma criatura humana prescindir de Deus, ou o ateísmo seria atitude mais ou menos esnobe, incapaz de resistir a provas mais duras e a situações mais críticas? Lembro-me que, estudante de Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na Capital paulista, passava as manhãs de domingo na favela da Vila Prudente, em trabalho de catequese junto aos jovens favelados.
Um cidadão, já de certa idade, costumava frequentar às vezes minhas palestras, e eu, perguntando-lhe um dia se acreditava em Deus, obtive dele a seguinte resposta:
- "Sou ateu, sim, e maçom, graças a Deus."
Pois é; cheguei à conclusão de que há um fenômeno perfeitamente verificável, a cada instante: há pessoas, sempre mais numerosas, que dizem não crer em Deus, e pela simples razão de não sentirem necessidade dEle, e isto nem na linha do pensamento, nem da ação; nem na vida privada, nem na pública; nem nas horas fáceis, nem nas difíceis.
Este ateísmo tranquilo, característico do nosso século, é muito mais grave do que o ateísmo militante, o agressivo, por detrás do qual seria fácil descobrir muito ressentimento e muita mágoa.
Fala-se bastante em morte de Deus. Para muitos a expressão significa apenas liquidação das idéias de Deus, construídas à imagem e semelhança do homem. Na medida em que estas idéias são depuradas, há quem substitua a Fé ingênua de criança por uma Fé esclarecida e adulta.
Quem varre Deus do pensamento em nome da Ciência e da Técnica, talvez, um dia, descubra que continuam e continuarão válidas indagações essenciais, para além do corpo da Ciência e fora do alcance de outros objetivos.
O importante no caso, como eu o entendo, não é começar a infindável polêmica em torno do ateísmo. Trata-se de registrar o fato da existência de homens e de mulheres que são ateus, mas nem por isso abririam mão do direito e do dever de serem humanistas, no sentido de se preocuparem, e se ocuparem, ao máximo, com a criatura humana, com sua libertação, com sua promoção social, com sua realização pessoal em plenitude.
Quem convive com ateus sinceros, como tive a ventura de convier com muitos deles na favela, em São Paulo, é levado a esta conclusão:
- o Cristianismo nos leva a amar a Deus e ao próximo. Ora, quem ama o próximo já cumpriu metade da Lei;
- quem ama de verdade e profundamente o próximo, mesmo sem saber e até sem querer, já ama o Criador e Pai de todos os pais.
Comovia-me bastante conviver com alguns ateus, que eram capazes de servir de exemplo a quem tem Fé, pelo amor à verdade, à justiça e à paz. Quem vive dessa maneira a verdade, e quem tenta assim construir a paz na comunidade em que vive, seja na favela, seja nos Jardins, tenho a certeza de que verá a Deus, e que Deus o acolherá em Seu Reino.
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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática e professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense. E nesta condição, está ao lado da briosa luta dos Professores Paranaenses em greve pela defesa de seus direitos não respeitados pela oligarquia governamental.
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