sábado, 19 de dezembro de 2015

AINDA O TORMENTO DE DEUS



            Em meu texto anterior, refleti sobre a dolorosa busca de Deus que atormentou o grande escritor russo Fiódor  Dostoievski.
            No texto de hoje, sábado do Advento, tempo em que nós, cristãos, aguardamos a iminente vinda de Jesus Cristo nas festividades religiosas do Natal em que nos preparamos para recebê-Lo, gostaria de lembrar - principalmente a mim mesmo, que me confesso medíocre cristão - que a nossa Fé no Senhor Jesus deve ser fecunda, isto é, ela deve encarnar-se em todas as dimensões de nossa vida, especialmente na profana.
           Falando de Dostoievski, disse que ele experimentou durante toda a sua vida o "tormento de Deus" que o avassalava, pois o seu coração ansiava por Deus, mas a sua razão se opunha sempre à sua Fé, tentando-o com a alternativa do ateísmo.
           No meu entender, porque nascido de uma situação histórica, como um desejo e uma tentativa de superar esta situação no que comporta de incertezas e de injustiças, o ateísmo só pode ser enfrentado pelo homem e mulher de ação. Pois antes de ser um sistema de idéias abstratas, o ateísmo se apresenta como uma demanda a favor de homem e de mulher, apresentando-lhes um conjunto de valores a ser vivido.
            Daí a necessidade, primeiramente, de compreender e viver estes valores a fim de, em seguida, demonstrar de modo concreto que, para realizá-los, não precisamos de expulsar Deus do mundo. Pelo contrário. O cristão deste nosso século alcançará com certeza a maturidade de sua Fé, na medida em que levar a sério as questões colocadas pelos ateus, seja no campo científico, político, social e religioso, e lhes dar uma resposta à altura.
            Ao testemunho da genuína face de Deus, temos de acrescentar também o testemunho de nosso amor pelos homens e mulheres, nossos irmãos.   Sim, eis o mandamento que recebemos dEle:
            - "Aquele que ama a Deus ame também a seu irmão."  (Da primeira carta do apóstolo João).
            Em vez de provas racionais que ficam sempre no ar e não têm nenhuma consequência prática em nossa vida, creio que a prova definitiva é o homem  vivo, na sua realidade cotidiana,  como também na sua evidência social.
            É preciso que sejamos nós mesmos a prova viva de Deus.
            
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            É muito possível que homem e mulher deste nosso tumultuoso século não experimentem o "tormento de Deus".  Pelo menos diretamente. Eles se acham por demais encantados com as suas conquistas ou por demais esmagados pelo peso de seus problemas. De uma coisa, porém, eu tenho plena convicção: 
            Deus nunca fica para trás entre os desarranjos da história. Seja qual for a direção a que nos conduzam os nossos passos de peregrinos do Absoluto, Deus  surge sempre adiante de nós e nos aguarda cheio de amor. É a lição do Evangelho. E, se realmente tivermos crescido, nós o encontraremos também maior.
           Por isso, podemos suportar sem desfalecimentos a noite provisória em que nos mergulha a noite provisória do "silêncio de Deus", e esperar que, a despeito do tão propalado ateísmo moderno, se prepara misteriosamente uma fecunda floração de Fé.
           É sempre bom ter presente em nossa vida de Fé que, mesmo que Deus pareça tardar, Ele já está no caminho. 
           Esta é a verdade que a Igreja propõe para nossa meditação neste fecundo tempo do Advento.

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