Quando deixo a placidez e a tranquilidade de meu bairro - o glorioso Tingui - e vou ao centro da grande Curitiba, sinto-me como que esmagado pelos enormes edifícios de cimento armado que se erguem por todos os lados. Eles se me apresentam frios, sem alma, distantes... Durante o dia, quando o movimento de carros, de ônibus e de seres humanos apressados, correndo atrás de mil e uma necessidades; quando a luz do sol é mais cáustica, e eu ali meio perdido no meio da multidão, os ângulos de pedra dos arranha-céus me parecem cortantes como agudas espadas.
Mas confesso que há também algo curioso: quando o Sol declina e a noite começa a chegar, os arranha-céus perdem qualquer sombra de agressividade; seus ângulos se amaciam e os blocos gigantes me dão a impressão de recolher-se e de que, penso eu, começarem a rezar!...
E, quase sem querer, eu me ponho a pensar: se na minha convivência do dia-a-dia, com familiares, vizinhos e estranhos, eu tiver ainda que lidar com criaturas humanas que me parecerem feitas de cimento armado, angulosas e difíceis, não me deveria esquecer que também os imensos blocos de tijolos e cimentos não resistem à magia do entardecer.
É preciso saber escolher as horas favoráveis. No meu dia-a-dia, querer discutir com pessoas agressivas e violentas, apostando para ver quem grita mais alto, é como entrar em onda braba e preparar-me para ser arrastado pela correnteza e até beber água...
Não há ninguém - me diz a experiência - por mais duro que seja, que não ofereça brechas em suas armaduras de agressividade.
Aqui perto de minha casa mora um holandês que adora dizer "Não" a cada um dos vizinhos, mas se desarma imediatamente quando encontra uma pessoa com alguma deficiência corporal ou mental. Conheço também um "durão" que não pode ver uma mulher grávida, sem se comover profundamente...
Isso me faz compreender que nenhuma criatura humana é feita de mármore ou de aço. Todos nós, homens e mulheres, somos de carne e osso.
Por mais que a consciência vá ficando insensível, por mais que o coração vá enrijecendo nos percalços da vida, haverá sempre um acontecimento que acordará recordações que pareciam mortas; um gesto, um sorriso, um aperto de mão, enfim, que apanhará de surpresa os mais desconfiados e mais frios...
Às vezes a morte repentina de um amigo parece um clarão da Graça de Deus para quem se considera um sujeito sem alma, sem coração, sem nervos.., E quando isso acontece, por qualquer circunstância, que uma criança, com sua espontaneidade, sua inocência despertadora entra na vida de quem até aí se julgara totalmente insensível, o que se poderia imaginar?
Por que desanimar, mesmo quando eu me veja obrigado a lidar com pessoas que me parecerem casos perdidos?
Caso perdido!... Quem me autoriza a julgar e condenar um meu semelhante?... E mais, se eu sou crente: quem pode criar limites à misericórdia de Deus?
Por mais grossa que seja a carapaça do meu egoísmo; por mais paralisada e morta pareça a minha consciência; por mais que eu jure que meu coração de carne, virou pedra, jamais eu poderia menosprezar a Luz Divina que atravessa qualquer barreira, e que me faria ter sempre em minha mente que Cristo, meu Senhor e meu Redentor, venceu o pecado e a morte, para sempre.
Assim Deus me ajude!
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