O que representa a salvação para o homem e a mulher de hoje? Ou mesmo para um determinado homem ou mulher modernos? É a pergunta que tentarei responder no meu texto de hoje.
Como não me seria possível possível abordar todos os aspectos desse problema, e como sou leitor fanático da literatura tanto brasileira quanto estrangeira, vou procurar buscar inspiração em alguns autores que tenho lido mais frequentemente.
Apesar de ter parado de ler romances nos últimos tempos, tenho a impressão de que o romance vem sendo sempre menos o meio de comunicação de idéias ou de visão do mundo; o cinema, e principalmente a TV, representam na sensibilidade do homem e da mulher modernos, do homem e da mulher do povo, um elemento muito mais importante.
Entretanto, para o bem ou para o mal, a literatura ainda é um veículo eficiente na difusão de idéias e de visão do mundo.
Um dos críticos literários que tenho lido atualmente é o francês André Rousseaux, no seu alentado estudo "Literatura do Vigésimo Século", em que distingue literatura da felicidade e literatura da salvação.
A literatura da felicidade, por exemplo, é representada por Montaigne, que li há muitos anos passados. Nele, Montaigne quer mostrar como homem e mulher podem criar uma vida mais feliz para si mesmos,
Nos meus tempos de faculdade, estudando o Latim, descobri que Cícero ensinava que os estudos deviam tornar-nos "humaniores", mais humanos, mais cultos, com sensibilidade mais delicada. Em outros termos, esse tipo de literatura supõe que a casa esteja construída. Somos seus proprietários e moramos nela. Vamos colocar tapetes de uma só cor ou de cores diferentes? Vamos pendurar alguns quadros? Que estilo escolher para os móveis?
A literatura da felicidade, querendo tornar homem e mulher mais humanos, supõe que eles
"já" sejam humanos; pretende apenas embelezar um pouco mais as suas vidas.
Na literatura da salvação se dá o contrário: a casa está em chamas, ou ao menos em perigo de arder. O que entra em questão não é colocar tapetes dessa ou daquela cor, mas chamar os bombeiros e tentar salvar o essencial.
Em linguagem mais concreta, homem e mulher se acham numa situação que receiam: vivem ambos sob o signo da ameaça, do perigo. O problema fundamental, anterior a todos os outros, é saber se ainda é possível ser "humanos" pura e simplesmente, se ainda poderão viver uma vida humana, pois se acham encurralados na confusão de acanhadíssimas moradias. E ali jamais podem encontrar solidão, o silêncio necessário à intimidade de marido e de mulher.
O que poderia significar ainda para esse homem e essa mulher o compromisso de fidelidade? Nada absolutamente, pois estão numa situação que não lhes permite compreender tal matéria. Isto não significa, porém, que se possa tirar a conclusão: primeiro mudar a situação temporal para, em seguida, anunciar o Evangelho -- o eterno problema da pastoral da Igreja: "evangelização" e/ou "libertação".
É claro que estou apenas levantando o problema, pois não tenho condições de resolvê-lo. Os sociólogos muito teriam a dizer a respeito, para não falar dos médicos, dos advogados e de outros profissionais. E também cada um de nós - sou forçado a conceder -- pois "homem algum é uma ilha", conforme a feliz intuição de John Donne, poeta inglês morto em 1631, que encontrei lendo o belíssimo livro com esse título, escrito por Thomas Merton, monge trapista norte-americano, morto na Tailândia, em 1968.
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"Homem algum é uma ilha inteiramente à parte; cada homem, cada mulher, é uma parcela do continente, uma partícula da terra firme". (John Donne)
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