quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

VIAGEM SENTIMENTAL AO PASSADO



            Há muito tempo atrás  -  mais precisamente em 1962  - eu era estudante de Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na Capital paulista.
            Aos domingos  passava o dia na paróquia da Vila Prudente, onde auxiliava o pároco, e minha tarefa era cuidar do grupo de jovens  na Missa das dez horas, a eles dedicada de modo todo especial.
            Lembro-me muito bem que eles costumavam cantar um hino de que eu muito gostava de ouvir, cheguei a  registrá-lo em minha agenda e o guardo com carinho até hoje.
            Era assim:

                                    Fica sempre um pouco de perfume
                                    nas mãos que oferecem rosas
                                    nas mãos que sabem ser generosas
                                    Dar um pouco do que se tem
                                    a quem tem menos ainda
                                    enriquece o doador
                                    faz sua alma ainda mais bela
                                    Dar ao próximo alegria
                                    parece coisa tão singela
                                    Aos olhos de Deus,  porém,
                                   é das artes a mais bela...

            Quando o canto começava, a impressão poderia ser de que fica sempre um pouco de perfume nas mãos de quem tem rosas para oferecer, nas mãos de quem sabe e pode ter generosidade...
            Mas logo se pensa em quem do pouco de que dispõe, ajuda a quem tem menos ainda...
            Sei, por experiência própria, que a pobreza, em geral, torna os pobres egoístas. É a luta pela vida. Podendo afastar, afastam; podendo empurrar, empurram, na esperança de, com menos concorrentes, poder ter um pouquinho mais... Acho triste ver, como, em geral, os pobres se devoram entre si. Mas sei também que há pobres capazes de acudir, felizes, quem precisa ainda mais do que eles...
            A canção dos meus jovens da Vila Prudente dizia  -  e é uma grande verdade  -  que "dar um pouco do que se tem a quem tem menos ainda, enriquece o doador e faz sua alma ainda mais bela..."
            E o cântico, para mim, terminava de modo surpreendente. Passava a falar em uma ajuda especial: a de dar ao próximo alegria.
            Na verdade, o canto mostrava-me que parece tão simples, tão sem valor, tão sem importância dar ao próximo um pouco de alegria...
            Entretanto, os jovens cantavam que dar aos outros alegria é a mais bela das artes...
            Não será exagero? É tão importante e difícil assim dar aos outros alegria?
            E chega até a ser arte? É belo alegrar o próximo? Fazer com que surja uma réstia de azul no céu cinzento, de chumbo, que acabrunha um irmão, será mesmo "das artes a mais bela"?
            Não importa. Mas o que pensarão a respeito até hoje os jovens que, com suas guitarras elétricas e suas vozes quentes e juvenis, enchem a Casa de Deus, cantando de modo vibrante:

                                  "Dar ao próximo alegria
                                    parece coisa tão singela
                                    aos olhos de Deus, porém,
                                    é das artes a mais bela..."


                                                        ***************************

            Depois de tanto tempo, nas vésperas do meu octogésimo ano de vida, a recordação destes fatos da minha juventude ainda me traz felicidade, e muito mais ainda, porque, cá em Curitiba, bairro Tingui, onde resido, as Missas dominicais na minha paróquia São Pedro e São Paulo, são também animadas pela nossa vibrante juventude que, com suas vozes festivas,  me faz viajar no tempo e aterrissar, emocionado, na saudosa Paróquia da Vila Prudente, até hoje na minha memória...

                                                       ***************************



            

Nenhum comentário:

Postar um comentário