quarta-feira, 25 de julho de 2012

A MORTE DE DEUS


            O protestantismo moderno, com certeza carente de uma Reforma radical como a do século XVI, tem tomado certas posições intrigantes (ou instingantes?) que desconcertam os que se interessam pelos assuntos teológicos. Refiro-me mais especificamente aos dois corifeus do protestantismo atual. Bonhoeffer, Robinson e respectivas escolas, que sustentam, embora em tempo e lugar diferentes, que o cristão deve adotar a visão contemporânea de que "Deus está morto" e, em consequência, tornar-se adulto, esquecer-se da religiosidade e piedade interior, construir a cidadela secular, e assim estará realmente "mais perto de Deus".
      Creio que do ponto de vista de uma rudimentar análise psicológica existe algo a favor de Bonhoeffer e Robinson. Ambos diagnosticaram claramente o descontentamento dos cristãos modernos com o padrão de religiosidade que, apesar de sincero, simplesmente os abafa e constrange. Certamente porque há, com efeito, uma grande e inegável necessidade de renovação e libertação religiosa, muito embora o Cristianismo realmente prometa a seus seguidores um espírito de liberdade e de amor, como também um contato vivo e dinâmico frente à  realidade que os rodeia.
      Apelaram então os teólogos citados para a necessidade que homem e mulher modernos têm de uma religião que sintam ser realmente autêntica, e não simplesmente um misto de imaginação piedosa e submissão a normas éticas e rituais. Ao procederem assim, Bonhoeffer e Robinson concluíram que nenhuma religião é a única norma de fé aceitável em termos de modernidade. Pregaram um Cristianismo absolutamente alheio a qualquer religião.
      Podemos dizer que tal visão se baseia numa escolha entre Deus de um lado, e do outro o homem e a mulher? Isto porque esses teólogos e sua escola simplesmente nos questionam: - "Se formos forçados a escolher entre uma fé árida e formalista em Deus lá em cima, e um amor dinâmico e criativo de homem e de mulher aqui em baixo, abandonaremos a idéia de Deus e acolheremos homem e mulher. Cremos que deste modo estaremos mais perto de Deus, na Sua absoluta obscuridade, pois Ele se esvaziou para tornar-se homem e manifestar-se apenas no homem e na mulher".
      Parece-me, realmente, que esta escolha apresenta certos aspectos admiráveis, porque prefere o risco à formulação de realidades quase sempre abstratas. A verdade triste é que, no enfoque da religiosidadea tradicional, se discute interminavelmente sobre um Deus escondido no Céu, e não se mostra quase nenhum interesse pelos seres humanos cá na Terra.
      Esta intrigante posição religiosa dos dois teólogos protestantes, pela mesma escolha implícita, parece dizer-nos em contraposição: - "Se formos obrigados a escolher entre homem e mulher pecadores, perversos, gananciosos, lascivos, e o Pai Eterno nos Céus, indubitavelmente daremos as costas à maldade humana e nos prostraremos diante do Pai."
      Estas duas escolhas, a meu ver, estão completamente erradas, porque não existe tal divisão no Cristianismo. Não é simplesmente OU Deus OU homem e mulher, mas encontrar Deus amando a ambos, e descobrir o sentido verdadeiramente humano em nosso amor para com Deus. Uma escolha não é possível sem a outra. Por isso eu me atrevo a discordar de que possamos apreciar a dignidade e a maioridade da pessoa humana decidindo-nos a favor dela e contra Deus. Faltando o fundamento divino e a esperança da vida eterna, a eminente dignidade de homem e mulher é prejudicada de modo gravíssimo, como se verifica hoje com frequência em diversos setores da atividade humana.
      Creio sinceramente que é imperioso apelar não só para a Escritura Sagrada, mas também para o senso comum e para a experiência universal dos nossos tempos. Seríamos certamente frívolos ou platonicamente românticos aceitando uma visão idílica da impiedade, sabendo que seus resultados têm sido e de fato são com certeza tão evidentes e terríveis para todos nós.
      O Cristianismo, ao contrário, continuará a clamar que o amor do homem e da mulher será inseguro e ilusório, se não proceder da ação oculta de Deus e de Sua Graça. O amor de Deus será sempre a fonte única de todo amor vivo e autêntico para nossos irmãos, homens e mulheres, de todos os tempos e lugares.
      Nestes termos, concluo que o protestantismo de Bonhoeffer e de Robinson fez uma opção errada, e os protestantes atuais, aceitando tal opção, estarão também entrando num caminho errado.
     

Nenhum comentário:

Postar um comentário