Eis-me no limiar dos setenta e sete anos... Que pensaria agora de ti o jovem que tu foste aos dezesseis, se te pudesse julgar? Que diria ele, diante do que tu vieste a ser na vida? No que acabaste de te transformar, contra todas as expectativas mais otimistas? Acaso valeria a pena viver como tu tens vivido até agora?
Que secretas esperanças de teus familiares tu desiludiste, das quais tu mesmo nem mais recordas?
Seria apaixonante, embora muito triste, confrontar esses dois seres: aquele que tu tinhas todas as possibilidades de ser, e agora seres o que tu és, desmentindo todas as esperançosas expectativas...
Imagino tu, enquanto mais moço, apostrofando o que te tornaste agora:
- Tu me enganaste, tu me roubaste... Onde estão os sonhos que te confiei, e que tu me juraste que iria realizá-los? Que fizeste daquelas riquezas que eu tão loucamente coloquei nas tuas mãos? Eu respondia por ti, era responsável por ti. E tu me falhaste. Mais valia eu ter ficado com tudo o que então possuía, e que, colocado em tuas mãos, tu o destruíste.
Deixei de admirar-te, pelo contrário. E que diria o mais velho de nós dois para defender-te?
Falaria da experiência adquirida, de idéias inúteis atiradas fora, poria diante de ti alguns livros, falaria da sua reputação, rebuscaria febrilmente nos bolsos, abriria gavetas para encontrar alguma coisa que te justificasse. E tu sempre me falhaste.
E se a vida te julgasse, tu te defenderias muito mal.
E eu, que julgando a ti me julgo a mim mesmo, creio que continuaria tendo vergonha do que sou agora, diante do que eu poderia ter sido, e não fui!
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