domingo, 8 de julho de 2012

A ESPERANÇA QUE NOS SUSTENTA


      O que sustenta os santos são as três virtudes teologais: a Fé, a Esperança e a Caridade (= o Amor). .Dessas três virtudes uma delas sobressai nestes nossos tempos conturbados, cheios de conflitos e contradições: a Esperança.
      A Esperança, eis a virtude que muito me seduz. O resto do mundo deseja, cobiça, reivindica, exige, e chama tudo isto esperar,  porque não tem paciência nem discernimento, quer apenas fruir a hora presente, até esgotar a taça, e a expectativa de poder esgotá-la até o fundo não pode ser chamada de esperança; seria, antes, um delírio, uma agonia.
      Além disso nosso mundo vive demasiadamente depressa, nosso mundo parece não ter tempo de esperar. A vida interior de homem e mulher modernos possui um ritmo demasiado rápido para que nela se forme e amadureça um sentimento tão ardente e terno, a esperança, e eles, homem e mulher, encolhem os ombros à idéia dessas "castas núpcias com o futuro" , como o romancista francês Bernanos define a esperança.
      E Bernanos ainda acrescenta: -"A esperança é um alimento demasiado leve para o ambicioso", porque ameaçaria enternecer-lhe e amolecer-lhe o coração...
      Também o mundo moderno não nos deixa tempo de esperar, nem de amar, nem de sonhar. É a gente pobre e sem expectivas seguras quem espera em seu lugar, exatamente como os santos  amam a Deus e padecem pelos nossos sofrimentos.
      A tradição da humilde esperança está nas mãos dos pobres, dos deserdados da sorte, do mesmo modo como as velhas rendeiras guardam o segredo de certos pontos que só elas sabem fazer e que ninguém os consegue imitar.
      A paciência dos pobres, que Bernanos nos mostra com tanta maestria nos seus romances, realiza a mesma redenção dos santos quando eles se sacrificam em benefício dos outros, seus irmãos. Agonia e renúncia à alegria, que se conjugam num único e mesmo mistério, o da esperança.
      A face do mundo espiritual desvela-se ante nossos olhos; o sofrimento que nos aflige, o silêncio misterioso e intrigante de Deus, quer sejam suportados sem havermos ido ao seu encontro, quer sejam livremente abraçados por amor, tornam-se a face mesma de Cristo na Cruz, operando a redenção do mundo: a esperança, no seu ponto culminante, é a Caridade, o Amor.
      Somente Deus pode dar ao homem e à mulher a força de esperar contra toda a esperança. Esta é a verdade que aprendi nos tempos de catecismo e que mantenho até hoje: as virtudes teologais, Fé, Esperança e Caridade (= Amor) têm Deus por autor e objeto formal. São elas o próprio Deus em nós, São elas o Cristo em nós, vivendo a alegria no seio das trevas. É a Cruz antevendo  a Ressurreição.

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